Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França

Um novo olhar sobre o viés racial

Brasil avança na discussão sobre desigualdade racial, mas o racismo ainda encontra espaço nas instituições

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Estamos avançando. Atualmente existe no Brasil uma discussão mais aberta sobre os desafios ligados à agenda racial. Algumas práticas discriminatórias se dissolveram com o passar dos anos. Houve um processo de valorização da identidade negra e diversas iniciativas antirracistas têm sido discutidas pela sociedade civil e gestores públicos.

Apesar disso, o racismo, juntamente com a discriminação social, de forma velada ou não, ainda encontra espaço em nossas instituições. Há uma generalização de pequenos preconceitos, muitas vezes sutis, mas tão prejudiciais como os ostensivos.

Parte da população desconhece que o viés racial não é apenas a manifestação de preconceitos em uma forma visível. A sobrerrepresentação de negros em posições degradantes tende a afetar o imaginário coletivo, criando vieses inconscientes que influenciam na forma em que somos vistos e tratados nas interações sociais.

Embora diversas formas explícitas do viés racial tenham sido desmanteladas ao longo do tempo, somente a inclusão dos negros em todos os espaços sociais poderá mitigar aquelas implícitas. O preconceito para com o outro costuma surgir pela falta de convivência. Assim, temos um grande desafio: a profunda desigualdade racial permanece persistente e segrega o país.

Ilustração de mulher negra com o punho do lado direito fechado e levantado na altura da cabeça
Ilustração de mulher negra com o punho cerrado - Linoca Souza/Folhapress

Como sociedade, precisaremos de maior empenho para garantir melhores oportunidades não só para os negros, como também, para os "brancos" desfavorecidos. As aspas aqui não foram usadas por acaso.

Se olharmos com cuidado a árvore genealógica do topo e da base da pirâmide social brasileira, perceberemos um padrão interessante. Muitos daqueles que se autodeclaram brancos entre os mais pobres tiveram um processo de miscigenação em sua linhagem no passado. No topo da pirâmide, tal acontecimento tende a ser mais improvável. Ao longo da história, os brancos de alta renda se casaram entre si e transmitiram uma série de vantagens para seus descendentes.

Nesse contexto, o abismo material entre brancos e negros só poderá ser superado por meio de políticas públicas mais efetivas. No entanto, existem muitas distrações que nos impedem de encarar com maior serenidade as profundas razões da imobilidade social brasileira.

O nível educacional nas periferias, por exemplo, já era baixo antes da Covid-19. Porém, a má gestão durante a pandemia acabou com décadas de progresso. Existe um problema crônico no nosso sistema educacional e na formação dos mais desfavorecidos que restringe o avanço do país.

A segregação espacial na habitação e educação representa outra força motriz da desigualdade. Concessões de subsídios para aluguel e para o ingresso em escolas privadas do ensino fundamental e médio representam possibilidades de intervenções que poderiam serem consideradas em futuro próximo.

Em síntese, o desafio que temos como sociedade é desenvolver respostas que causem o maior benefício social a um menor custo. Para pensar nessas questões, no final de 2020 criamos o Núcleo de Estudos Raciais do Insper. Em seu curto período de atuação, pesquisadores do Núcleo têm realizado contribuições relevantes para o debate público brasileiro.

No ano passado, desenvolvemos o Índice Folha de Equilíbrio Racial e o Índice ESG de Equidade Racial. Recentemente, lançamos dois estudos que analisaram o desequilíbrio racial na política brasileira e que contribuiu para dar um novo fôlego para o debate no assunto.

Na próxima sexta-feira, dia 18 de novembro, haverá o primeiro evento do Núcleo. Assim, convido a todos os leitores não só para participar presencialmente ou de forma remota, mas também para ir, após o evento, a uma confraternização que teremos por volta das 18:30 no Shaw - Bar e Shawarma. Curiosamente, a montagem da playlist da festinha ficou por minha conta.

O texto é uma homenagem à música "Palco", de Gilberto Gil.

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