Em julho fui à festa de aniversário de Gete, 90, e Wilson, 95.
Tive a sorte de conhecer Gete no início de 2015. Fiquei encantada ao vê-la tocando piano em um supermercado. Começamos a conversar e nos tornamos amigas. Foi amor à primeira vista.
Logo conheci seu marido Wilson. Adorei saber que ele toca pandeiro e assisti muitas apresentações suas nos grupos musicais Telhado Branco e Celwa. Ele também dança muito bem.
Gete me apresentou a Nalva, 90. Pianista maravilhosa, Nalva não para. Cheia de projetos, sua energia é contagiante. Fica brava quando digo que “velha é linda!”. “Eu não sou velha, estou na flor do outono”, diz.
Wilson me apresentou a Guedes, 95. Guedes faz, de cabeça, contas difíceis de matemática, tem uma memória impressionante e devora rapidamente os livros de história do Rio de Janeiro e do Brasil que gosto de dar para ele. Sua risada gostosa enche meu coração de alegria.
Conhecer Gete, Wilson, Nalva e Guedes mudou a minha vida. Desde 2015 só tenho amigos de mais de 90 anos. O que seria minha pesquisa de pós-doutorado —estudar a bela velhice— se tornou meu projeto de vida. Há mais de três anos convivo intensamente com essas pessoas que me ensinam a viver com mais alegria, generosidade e sabedoria.
Desde então, entrevistei mais de 30 mulheres e homens de 90 a 99 anos, que também se tornaram meus amigos. Eles me deram o melhor presente para a minha velhice: a certeza de que podemos ter projetos, amizades e amores em todas as fases da vida.
Quando Wilson me apresenta a alguém diz: “ela só gosta de velhos”. Gete acrescenta: “a Mirian adora os velhinhos”.
Verdade: amo e admiro muito os meus novos amigos. Se Marcos Valle cantou: “Não confie em ninguém com mais de 30 anos”, eu canto: “Não confio em ninguém com menos de 90 anos”.
Você também tem amigos de mais de 90 anos?
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