Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg

'Eu não tenho com quem conversar'

Idosos se sentem invisíveis, inúteis, desvalorizados e sozinhos

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Uma pergunta que sempre faço nas minhas pesquisas é: “Quem vai cuidar de você na velhice?”. As mulheres respondem: eu mesma e minhas amigas. Já os homens dizem: minha esposa, minhas filhas e minhas netas.

No entanto, homens e mulheres estão sofrendo por se sentirem abandonados e esquecidos. Dizem: “Eu não tenho com quem conversar”.

Muitos perderam os melhores amigos e se sentem solitários, como um professor de 96 anos: “Sou o último dos moicanos”. Outros dizem que os filhos estão sempre preocupados com seus problemas profissionais e pessoais e não têm tempo para eles. Alguns reclamam que os filhos e netos estão sempre focados no celular e não demonstram interesse, paciência e curiosidade por suas histórias, como uma escritora de 92 anos: “O celular é o umbigo dos jovens, e eles só estão interessados no próprio umbigo”.

amor na terceira idade
Casal de idosos - Reprodução

Eles não têm com quem conversar, com quem desabafar, com quem compartilhar suas opiniões, seus medos e desejos. Por isso, sentem-se invisíveis, inúteis e desvalorizados.

Minha querida amiga Gete, de 91 anos, me liga sempre: “Adoro ouvir a sua vozinha. Como é bom ter você para me ouvir, ter uma amiga para poder desabafar”. Meu melhor amigo, Guedes, de 96 anos, me liga quase todas as noites só para me contar como foi o seu dia e saber como foi o meu.

Frequentemente me sinto triste e culpada por não ter mais tempo para conversar com todos os meus amigos e amigas. Meu projeto de vida é dedicar cada vez mais tempo para escutar com carinho os mais velhos. É tão pouco, mas pode fazer toda a diferença na vida deles e, principalmente, na minha. 

Em tempos de tanta violência, ódio e medo, uma das poucas coisas que me deixa feliz e dá significado à minha vida é escutar e conviver com meus amigos nonagenários.

Você sabe escutar os mais velhos, com a atenção e o carinho que eles merecem receber?

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