Nas últimas semanas tenho chorado muito, com medo das consequências da pandemia aqui no Brasil.
Em uma das minhas noites de insônia, lembrei o que escrevi em A bela velhice e percebi que precisava encontrar um projeto de vida para conseguir sobreviver física e psicologicamente neste momento tão assustador.
O que eu poderia fazer de significativo, em vez de sucumbir ao pânico?
Desde 2015, e agora mais ainda, o que tem dado significado à minha vida é a minha pesquisa sobre envelhecimento e felicidade com mais de 50 nonagenários, e, especialmente, com o meu melhor amigo, José Guedes. Ele, aos 97 anos, está cuidando de mim.
Todos os dias ele me liga para saber como estou e conversar sobre o que está acontecendo no mundo. Depois do relatório completo, ele diz animado: “Mudando de assunto”.
E comenta uma notícia do jornal ou um trecho do livro que dei de presente para ele, e, durante a conversa, dá muitas risadas. Suas risadas gostosas alimentam o meu coração de alegria.
Na conversa de ontem eu disse:
“Você é o meu amigo mais querido e está me ajudando a manter o equilíbrio e a saúde mental. Você é muito importante para mim. Amo muito você”.
Ele respondeu: “Eu sei disso”.
Quando escutei: “Eu sei disso”, senti uma emoção tão forte que descobri que a minha vida pode ter algum propósito neste momento dramático.
Meus dias não têm sido de distância e de isolamento, pois estou conectada 24 horas com meus amigos nonagenários e seus filhos (todos com mais de 60 anos). Eles estão me dando força e coragem para conseguir enfrentar o meu pânico e sofrimento.
Um simples telefonema pode fazer muita diferença na vida dos mais velhos. Eles precisam saber que são fundamentais para todos nós e para a sociedade, e merecem ouvir: “Eu te amo, você é muito importante para mim”.
Mudando de assunto: Já ligou para os seus amigos e parentes mais velhos hoje?
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