Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mirian Goldenberg

Você está sentindo tédio?

É impossível ter uma rotina e se sentir normal em tempos de pânico e pandemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Muitas questões têm inquietado a minha alma neste momento assustador.

Vamos fazer um teste?

Você está conseguindo dormir? Tem pesadelos? Está transando? Indo ao banheiro sem ter diarreia? Comendo frutas, vegetais e proteínas? Fazendo exercícios? Tomando banho todos os dias? Preocupado com o seu dinheiro evaporando? Está meditando? Conseguindo ler um livro até o fim? Vendo todos os filmes, séries e lives de cantores, médicos e intelectuais? Está conseguindo ter uma rotina? Está sentindo tédio? Acredita que a sua vida vai voltar ao normal?

Tenho escutado repetidamente que muitos brasileiros estão sentindo tédio, que é preciso ter uma rotina e que vai existir um “novo normal” após a pandemia.

Essas três ideias me incomodam bastante. Acho impossível alguém sentir tédio em um momento em que as nossas obrigações e responsabilidades se multiplicaram. Além de inúmeras tarefas domésticas e profissionais, precisamos ter tempo para cuidar das pessoas que amamos e cuidar da nossa própria saúde física e mental. Como é possível sentir tédio se temos tanto a fazer?

Como ter uma rotina se as nossas vidas antes da pandemia já não eram nada previsíveis e controláveis? Como ter uma rotina se tantos problemas novos se colocam todos os dias? A rotina não seria uma prisão ainda maior no isolamento? E a liberdade de escolher, a cada dia, o desafio que precisamos e podemos enfrentar?

Já escrevi um livro com o título “De perto ninguém é normal”. Se nunca me senti normal e a maior parte das pessoas nunca se sentiu normal, por que iria buscar ser normal justamente agora em que “tudo que era sólido se desmancha no ar”? Por que não ser, cada vez mais, “eu mesma”, coerente com os meus valores, vontades e verdades? Por que, em vez de buscar uma “nova normalidade”, não investir no que me torna única e especial, que é justamente ser diferente de todo mundo?

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.