Algumas amigas reclamam que engordaram nos últimos meses. Eu, ao contrário, emagreci sete quilos em função do pânico e da preocupação com o que pode acontecer com os meus amigos nonagenários.
Todos os dias eles me perguntam angustiados: “Mirian, quando tudo isso vai acabar?”. Agora, com o agravamento da crise política e econômica, eles perguntam: “Será que esta tragédia vai ter fim? Ou a loucura e a crueldade no Brasil ainda vão piorar?”.
Eles estão sofrendo com a incerteza e falta de esperança de voltarem às suas vidas normais. Sentem falta das idas diárias ao supermercado, ao banco e à farmácia; dos encontros com os amigos para conversar e ouvir música; das caminhadas na praça. Eles, quase centenários, sentem falta da liberdade de ir e vir e dos abraços dos filhos e netos.
Apesar de se sentirem aprisionados dentro de casa e de não saberem quando —e se— voltarão a ter a vida que tanto saboreavam, eles lutam diariamente para ter força e coragem para sobreviver física e mentalmente. Acabei de receber um WhatsApp da filha de um dos meus amigos mais queridos:
“Papai fará 97 anos no dia 3 de junho e venceu mais uma Guerra: a guerra da Covid. Mensagem da médica: ‘Os exames do seu pai estão bons. Como imaginávamos, a sorologia para a Covid dele deu reagente, o que acontece depois do período de transmissibilidade’.”
Quando meus amigos me perguntam quando tudo isso vai terminar, só tenho uma resposta: “Vamos nos cuidar e nos proteger muito, vai passar”. Meu mantra tem sido: “Só por hoje. Vamos viver um dia de cada vez”.
O que posso fazer só por hoje para que eles não sofram tanto com o desespero de não saber quando tudo isso vai passar? O que posso fazer só por hoje para que eles tenham alguma esperança no amanhã? O que posso fazer só por hoje para que eles continuem dando as suas risadas gostosas que alimentam a minha alma de alegria?
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