Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg

A disputa dos cacófatos

Em tempos de pânico, dar boas risadas alimenta a alma de alegria, amor e gratidão

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Ontem, às 18 horas, meu melhor amigo José Guedes, de 97 anos, me ligou. Primeiro fizemos nosso joguinho de caça-palavras e, como sempre, ele venceu. Depois, ele disse que não iria ler um verso de “Os Lusíadas” como faz todos os dias, mas recitar de memória um soneto de Camões:

“Alma minha gentil que te partiste

Tão cedo desta vida descontente...”

Quando terminou, ele me desafiou: “Descobriu o cacófato?”

Respondi: “maminha”.

Adorei a brincadeira e li para ele alguns cacófatos que encontrei no Google:

“O presidente havia dado a ordem para o triunfo da nação. Pediu a bola e Cafu deu, graças ao Cooper feito. Briga por tão pouco e por ter pouca fé. Negou ter fé demais. Nunca ganhou um beijo da boca dela. Colocou a culpa nela. Prefere descascar alho a ter bafo de cebola. Vi ela na rua. Ela tinha uma mão na bolsa e cobrava por cada limão. Topei dando um real e foi o boom da venda. Ali via uma herdeira do nosso hino. A gente tinha visto que isso não dá nada. Vou-me já por razão óbvia. Meu coração por ti gela”.

Fiquei emocionada com a alegria do meu amigo ao descobrir cada um dos cacófatos.

Meu marido entrou na disputa e cantou a música do gato Tico: “Tico mia na cama, Tico mia no chão...”. Em seguida cantou a música da moça que não gosta de cozinhar: “Não cozinho não, não cozinho não. Lavo roupa, arrumo a casa, mas não cozinho não”.

Guedes deu tantas gargalhadas que implorou: “Chega!”

José Guedes, de 97 anos, amigo de Mirian Goldenberg, ao lado dela, que está com um bolo
José Guedes, de 97 anos, amigo de Mirian Goldenberg - Arquivo pessoal

Foi a primeira vez, desde o início da pandemia, que consegui rir. Nossas risadas gostosas me deram esperança de que esse pesadelo irá terminar e que logo estaremos juntos para celebrar a nossa amizade tão especial. Tive a certeza de que nunca estive tão próxima e conectada com as pessoas que eu mais amo, como estou aqui e agora.

Quer entrar na disputa dos cacófatos? É só ler a coluna em voz alta e me contar quantos conseguiu encontrar: 20, 30, 40 ou mais?

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