Em 2019 tive um sério problema de saúde. Passei mais de um ano consultando diferentes médicos e cheguei a ser internada em um hospital, achando que iria morrer. O diagnóstico foi o mesmo: transtorno de ansiedade generalizada.
Quando estava começando a melhorar, a pandemia chegou. Os primeiros meses foram desesperadores, pois não consegui ter força para enfrentar o pânico e a depressão.
Mas algo surpreendente aconteceu. Todas as angústias e preocupações que provocaram a doença sumiram. Um medo muito maior tomou conta de mim, e tudo o que tinha me apavorado até então deixou de ser relevante. O pânico da pandemia tirou o foco dos demais medos.
Estabeleci como prioridade dedicar todo o meu tempo para fazer algo de bom, útil e significativo para ajudar, proteger quem eu amo. Passei a ter a coragem de dizer não para todos os obstáculos que me desviam do meu propósito. Sei que o tempo é o meu bem precioso e que não posso desperdiçá-lo com problemas e pessoas tóxicas que sugam minha saúde, meu equilíbrio e a alegria de viver.
O que me mais ajudou foi imaginar que só tenho um barquinho bem pequeno para atravessar a tempestade assustadora e que preciso escolher com cuidado o que colocar dentro dele. Se continuasse fazendo tudo o que fazia e desperdiçando meu tempo com preocupações e pessoas tóxicas, meu barquinho certamente teria afundado.
O barquinho representa os meus limites físicos e psicológicos. Não consigo resolver os problemas de todos, não tenho controle sobre tudo, não posso atender às demandas excessivas, não tenho o poder de salvar ninguém. Mas tenho a liberdade de escolher a melhor atitude para enfrentar essa circunstância trágica e cuidar de quem eu amo.
Todos os dias escolho os projetos e amigos que eu quero junto comigo no meu barquinho. Todos os dias preciso vencer a culpa e dizer não. Todos os dias choro de tristeza e de impotência. Todos os dias luto para combater a velhofobia e me pergunto angustiada: por que tantos brasileiros apoiam, defendem e se identificam com monstros asquerosos, assassinos e psicopatas?
Estou curada da tristeza, do pânico e da ansiedade? Com certeza não, talvez nunca me cure. Mas estou aprendendo a exercer a liberdade de lutar e dizer não para tudo e todos que podem fazer meu barquinho afundar.
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