Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg

A epidemia dos chatos

O chato fala compulsivamente, não escuta e só se preocupa com o próprio umbigo

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Você é obrigado a conviver com pessoas muito chatas?

Os homens e as mulheres que eu venho pesquisando reclamam que são obrigados a conviver com familiares, amigos e colegas de trabalho que são verborrágicos, inconvenientes, fofoqueiros, maledicentes, competitivos, invejosos, insuportáveis, desagradáveis, implicantes, irritantes, narcisistas, egoístas, arrogantes, metidos, babacas, escrotos, vampiros, parasitas, sanguessugas etc.

Pessoa cobrindo os olhos, em sinal de cansaço
Seria impossível registrar aqui todos os tipos de chatos - triocean - stock.adobe.com

Como seria impossível registrar aqui todos os tipos de chatos citados por eles, seguem apenas alguns exemplos.

O chato verborrágico: “Tenho um colega de trabalho que sofre de incontinência verborrágica. Ele começa a falar e não para mais. Não tem paciência para escutar, interrompe os outros, faz brincadeiras bobas quando o assunto é sério. Nas reuniões virtuais todos ficam estressados e se desconectam. Mas se sobrar alguém ele continua falando. Descobri que sofro de chatofobia, fobia de gente chata”.

O chato implicante: “Na faculdade tem uma professora arrogante e desagradável. Quando tem reunião do departamento, ela chega uma hora atrasada e nem pede desculpa. Reclama o tempo todo, ofende e deprecia os colegas. Quando publiquei meu livro fui a muitos programas de televisão, rádios, jornais e revistas. No lançamento online, a primeira coisa que ela perguntou foi: ‘Mas por que você não foi convidada pelo Bial?’”.

O chato caga-regras: “Sou obrigado a conviver com o cara mais escroto que eu conheço. Mal abro a boca e ele diz agressivamente: ‘Eu discordo de você’. Parece que seu único objetivo é me humilhar na frente de todos. Ele se acha o máximo, superior a todo mundo e adora vomitar o seu pedigree: ‘Fui diretor disso, presidente daquilo’. Como tem gente que aguenta um babaca tão metido e asqueroso?”.

O chato tóxico: “Tenho uma amiga que é grudenta para caralho. Fala sem parar e tem uma voz irritante, parece uma gralha esganiçada. Manda pelo WhatsApp áudios de dez minutos e mensagens gigantes que eu deleto sem ler. Só doenças, desgraças e tragédias. Liga até de madrugada para choramingar, fazer fofoca dos amigos e falar mal do marido. É tão inconveniente e sem noção que ninguém aguenta mais. Todos os amigos já bloquearam o celular dela”.

O chato vítima: “Meu irmão tenta me convencer a botar dinheiro nos projetos dele, promete que vou ganhar milhões. Ele nunca concretiza nada, só fica tendo ideias mirabolantes. A culpa do fracasso nunca é dele: é da família, dos amigos, do governo. Parece uma hiena repetindo ‘ó vida, ó azar’. É um parasita sanguessuga. Aparece em casa para almoçar sem avisar, pega meus livros e não devolve, pede dinheiro
emprestado e nunca paga”.

O chato diminutivo: “Minha sogra fala tudo no diminutivo só para eu me sentir culpada. Se estou de regime, ela insiste: ‘Minha queridinha, fiz o bolinho que você mais gosta, come só um pedacinho’. Se preciso dormir cedo, ela me atormenta: ‘Deixa de ser mimadinha, não custa nada ficar só mais um pouquinho’. Tenho vontade de gritar: ‘Não, eu não quero, eu não posso, eu não gosto. Sogrinha, você pensa que é boazinha, mas é uma vampirinha insuportável’”.

O chato fascista: “Meu cunhado sempre foi um chato de galocha, mas piorou muito na pandemia. Ele me xinga de cagão, brocha e comunista porque eu uso máscara. Apesar de mais de 550 mil mortes, repete que é uma gripezinha que só mata velhinhos. Em vez de ajudar e cuidar da família, tem um prazer sádico em nos torturar, em tornar esse pesadelo ainda pior para todos: só sabe reclamar, atrapalhar, provocar discussões e brigas. Os filhos dele também são seguidores fanáticos do psicopata genocida e vivem gritando ‘mito’. Será que chatice, ignorância e maldade são doenças contagiosas?”.

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