Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg

Os fascistas saíram do armário

Os psicopatas genocidas estão destruindo a saúde física e mental dos brasileiros

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Com tantos fascistas saindo descaradamente do armário, está cada vez mais difícil ter esperança no amanhã e enxergar um fim para a tragédia brasileira.

Já passei por várias fases desde o início da pandemia. Na primeira, de março a maio de 2020, ficava 24 horas acompanhando as notícias do Brasil e do mundo, chorava muito, não conseguia dormir nem comer, emagreci sete quilos e envelheci dez anos.

Na segunda, de junho a novembro de 2020, me tornei uma militante em tempo integral contra a velhofobia no Brasil. Participei de incontáveis lives e entrevistas, fiz dois TEDx sobre a violência cometida contra os velhos pelos próprios filhos e netos, escrevi e trabalhei compulsivamente tentando produzir algo de útil e significativo para os velhos de hoje e os de amanhã.

Na terceira, de dezembro de 2020 a abril de 2021, mergulhei profundamente nos livros de filosofia e psicologia para aprender como enfrentar o pânico, o desespero e a depressão.

Entrei em uma nova fase em maio de 2021.

Dois fatos importantes aconteceram nesse período: conclui o meu pós-doutorado com uma pesquisa sobre envelhecimento e felicidade com trinta nonagenários ativos, saudáveis, lúcidos, independentes e alegres: os chamados superidosos. E lancei o livro “A Invenção de uma Bela Velhice”.

Em cada uma dessas fases aprendi lições essenciais para toda a vida.

Aprendi que, apesar das circunstâncias dramáticas, ninguém pode roubar ou destruir a minha liberdade de escolher a melhor atitude que posso ter frente ao sofrimento inevitável. Aprendi a usar todo o meu tempo e energia nos propósitos que dão significado à minha vida. Aprendi a viver um dia de cada vez com tudo o que me faz bem.

Aprendi a não brigar, não discutir nem reclamar por coisas sem importância. Aprendi a controlar a minha ansiedade excessiva e a encontrar o equilíbrio necessário para escrever, estudar, pesquisar e cuidar de quem eu amo.

Aprendi que cuidar dos meus amigos nonagenários é a melhor forma de cuidar de mim mesma. Aprendi a fazer os meus amores darem risadas, recitarem poesias e cantarem para mim. Aprendi a arte de “escutar bonito”.

Aprendi a me afastar dos vampiros emocionais, das pessoas egoístas que só se preocupam com o próprio umbigo, dos parasitas que não cuidam de ninguém e só culpam, atrapalham, criticam e reclamam dos outros. Aprendi a fazer a faxina existencial e deletei da minha vida todos os amigos e parentes que apoiam, defendem e se identificam com psicopatas genocidas.

Aprendi a não invejar as pessoas que têm tudo o que me falta: dormem ao menos seis horas por noite, não sentem culpa nem medo de errar, são autoconfiantes, seguras e realizadas, não precisam fazer grandes esforços ou sacrifícios para serem reconhecidas e amadas. Tudo parece tão mais fácil para elas, não é mesmo?

Aprendi que comparação, culpa e cobrança excessiva —dos outros, mas principalmente de mim mesma— são os piores venenos para a felicidade.

Aprendi a sofrer um pouco menos com os erros do passado e do presente. Aprendi que é impossível acertar 100% das vezes, já que não tenho uma bola de cristal para enxergar todas as consequências das minhas escolhas.

Aprendi a ter a coragem de dizer não. Sempre tive muita dificuldade para dizer não e já fiquei doente por não respeitar os meus limites físicos e emocionais. Encontrei um jeito de recusar delicadamente os inúmeros pedidos que recebo todos os dias: “Infelizmente, nesse momento eu não posso, pois a minha prioridade é cuidar de quem mais precisa de mim. Quem sabe quando a situação melhorar?”

Analisando as diferentes fases, percebo que o que mais me ajuda a sobreviver é colocar o foco nos meus projetos de vida, escutar e cuidar de quem eu amo, enfrentar meus medos e inseguranças, respeitar meus limites, dizer não e ter a coragem de “ser eu mesma”.

O que você está aprendendo em meio à tragédia brasileira?

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