Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu casamento

'Sou fiel por preguiça: trair dá muito trabalho!'

Fidelidade é valorizada por homens que se classificam como 'poligâmicos por natureza'

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Na minha pesquisa sobre amor, sexo e traição, 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam que já foram infiéis. Encontrei diferentes discursos entre os homens que se classificam como poligâmicos ou monogâmicos. Em outra coluna, mostrarei os discursos femininos.

O "poligâmico raiz": "Tenho uma vida sexual gostosa com a minha mulher, mas sempre tive amantes. Não me sinto culpado, pois traição seria negar o meu desejo por outras. A fidelidade é uma violência cultural, pois, como todos os animais, sou poligâmico. Sou fiel à minha natureza".

O "poligâmico negacionista": "Não acho que é traição ter aventuras em viagens de trabalho, festas da empresa, farras com amigos. As mulheres dão mole, não consigo dizer não, é muita oferta no mercado. Mas é só brincadeirinha, não afeta meu casamento, muito pelo contrário. Sexo casual não é traição, sexo virtual não é traição, sexo com garota de programa não é traição".

Casal em momento íntimo - Prostock-studio - stock.adobe.com

O "poligâmico pegador": "Tenho muitas namoradas e ficantes. Quero aproveitar minha liberdade e pegar o máximo de mulheres que puder. Não quero me arrepender no futuro de não ter aproveitado todas as oportunidades. Quando encontrar a mulher certa, vou casar, ter filhos e ser um marido fiel".

O "poligâmico vítima": "Se minha mulher quisesse, eu transava com ela todos os dias. Preciso muito mais de sexo do que ela. A culpa é dela se eu não sou fiel. Não vou transar só quando ela quer. Ela está sempre exausta, indisposta, com TPM, com dor de cabeça, mal-humorada, sempre inventa uma desculpa. Só quer transar uma vez por semana. Que homem aguenta isso? Só se for brocha".

O "poligâmico arrependido": "Já tive amantes, mas hoje sou fiel. Minha mulher descobriu que eu estava tendo um caso e quase nos divorciamos. Acabei tendo um infarto. É um sacrifício resistir às tentações, mas tenho medo de perder minha família e minha saúde".

O "poligâmico cafajeste": "Minha ex-mulher me xinga de cafajeste porque tenho cinco namoradas. Eu sei fazer com que cada uma delas se sinta única e especial. Não é isso o que toda mulher quer? Então, cinco mulheres ao mesmo tempo acreditam que são únicas e que eu sou fiel. Sou o cara mais fiel do mundo!"

O "monogâmico confiável": "Sem confiança, nenhum casamento sobrevive. Minha mulher confia 100% em mim, tem certeza da minha fidelidade. Mentiras e traições só provocam insegurança, ciúme excessivo e brigas constantes. A fidelidade é o valor mais importante no meu casamento".

O "monogâmico sucessivo": "Casei cinco vezes, mas sempre fui fiel. Caso e separo, caso e separo... mas nunca traí. Tenho amigos que estão infelizes no casamento, mas não se separam. O casamento deles é de fachada e só se mantém por causa das amantes".

O "monogâmico apaixonado": "Se eu quisesse poderia ter amantes, pois conheço algumas mulheres que preferem homens casados. Sou fiel por opção, por escolha, não por obrigação. Sou completamente apaixonado pela minha mulher. Sei que é muito difícil encontrar uma mulher tão especial. Só se eu fosse um imbecil iria correr o risco de perder o meu amor, minha melhor amiga e companheira em troca de uma trepadinha sem significado".

O "monogâmico preguiçoso": "Na minha idade, não tenho mais condição física, financeira e psicológica para ter casos e aventuras. As mulheres de hoje não aceitam um homem pela metade. Já se foi o meu tempo de ter amantes. Uma única mulher já reclama de tudo e exige demais de mim, imagina duas ou três? Que homem consegue ser infiel em tempos de feminismo?"

Moral da história do "preguiçoso": "Mesmo que os homens tenham uma natureza poligâmica, trair não é um bom negócio: é muito arriscado, estressante e prejudicial à saúde. É uma questão de custo e benefício, o custo é sempre altíssimo. Sou fiel por preguiça: trair dá muito trabalho!"

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