Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg

Como deletar pessoas tóxicas que sugam o nosso tempo e saúde

Vampiros podem estar por toda parte: amigos, parentes, colegas de trabalho e vizinhos

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Recentemente, dei uma entrevista para o querido Paulo Lima, da Trip FM. Adorei a chamada do podcast no Spotify: "Mirian Goldenberg, a caçadora de vampiros".

"Os vampiros estão por toda parte: entre amigos, parentes, colegas de trabalho, vizinhos. Você tem um vampiro na sua vida? Aquela pessoa tóxica que está sempre reclamando, criticando, sugando sua saúde, tempo e alegria e não dá nada em troca? Como podemos deletar os vampiros das nossas vidas? E quando somos o nosso próprio vampiro?"

Para dar um exemplo de como podemos ser o vampiro de nós mesmos, lembrei de uma história que aconteceu comigo em 2018 e que me atormenta até hoje.

Sombra esquálida e com garras próxima a uma sombra de escada
Sombra de vampiro durante cena do filme "Nosferatu", do cineasta alemão F.W. Murnau - Divulgação

Estava no "Encontro com Fátima Bernardes" falando sobre as expectativas excessivas que alimentamos em nossos relacionamentos amorosos. Uma moça da plateia reclamou que o marido, que no início era um príncipe encantado, virou um sapo.

No meio da minha resposta, soltei: "Muitas mulheres ainda sonham com o princeso encantado".

Na hora não percebi, mas morri de vergonha quando revi o programa.

Meu vampiro interno é especialista em me torturar com o "se": "Se eu não tivesse falado princeso, teria sido tudo perfeito". "Se eu soubesse que ela iria me perguntar aquilo, teria respondido melhor". "Se eu tivesse prestado mais atenção, nunca teria dito princeso em público".

Para vocês entenderem a situação constrangedora, preciso explicar porque falei "princeso" no programa.

Meu marido me chama de "pincezinha", assim mesmo: sem r e com z. Todos os dias ele me manda mensagens por WhatsApp: "Mozinho que eu amo. Muito bonitinha o meu amor. Tiamumuitudimuitudimuitu. Pincezinha mais linda do universo".

Eu respondo com: "Pincezo mais lindo do mundo. Eu te amo. Você é o amor da minha vida"

Voltando ao programa da Fátima, na hora saiu: "princeso encantado".

Quando revi o programa, comecei a me torturar: "Mirian, você é uma professora universitária, pesquisadora, escritora... Como fala princeso para milhões de pessoas, ao vivo e a cores?"

Minha vontade era voltar ao programa e me desculpar: "Eu queria dizer príncipe encantado", mas isso também soaria bobo e infantil, ainda mais na minha idade.

Mas a verdade é que, apesar de ser professora, pesquisadora, escritora e tudo mais, sou também "a pincezinha mais linda do universo do meu pincezo mais lindo do mundo". E daí?

Comecei então a exercitar o que ensinei no meu TEDx "A Invenção de uma Bela Velhice" e no meu livro "Liberdade, Felicidade e Foda-se!".

"Mirian, como você poderia adivinhar que um apelido carinhoso que você repete há tantos anos iria ser escutado por milhões de pessoas? É impossível controlar a opinião e o julgamento dos outros, que devem estar achando que você é uma velha ridícula. Não dá para acertar 100% das vezes, por mais que você queira ser perfeita. De tudo o que você falou, você errou uma única palavra. Por que ficar se torturando tanto com 1% e não ficar feliz com 99% que você falou direitinho?"

Aprendi que o melhor remédio para não sofrer tanto com o meu vampiro interno é rir de mim mesma e ligar o botão do foda-se!

"Foda-se, Mirian! Você errou, qual é o problema? Você está se autoflagelando, se massacrando, se sentindo uma bosta porque disse uma única palavra errada. Muita gente não deve nem ter percebido, nem mesmo a Fátima. E, se ela percebeu, já deve ter esquecido, porque ela também não acerta 100% das vezes e deve estar preocupada com os próprios vampiros. Não tem como não errar, Mirian. Pare de se cobrar, se culpar, se comparar e se criticar tanto".

Quais são os antídotos para combater os quatro "Cs" que mais me vampirizam: culpa, cobrança, crítica e comparação?

Repito como um mantra: "Foda-se, Mirian, você errou. E daí? É impossível acertar 100% das vezes. Você não tem uma bola de cristal para antecipar seus erros". E, o mais importante, todos os dias não esqueço de dar risadas de mim mesma e de dizer para o meu "pincezo mais lindo do mundo": "Eu te amo. Você é o amor da minha vida".

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