Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Natal

O que você vai dar e ganhar de presente no Natal?

Escuta, reconhecimento e reciprocidade são os melhores presentes para as nossas almas

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Vocês não podem imaginar a minha alegria ao ler os comentários generosos sobre a coluna "Por que você precisa tanto de homem?", como o do meu leitor Hélio Costa:

"Cada vez curto mais seus textos. Aqui, vou aumentando meu amor por minha esposa e por mim enquanto a idade passa, temos orgulho de nós nos sentirmos ‘jovens de alma’. Sua coluna me desperta mais esse alerta para tentar tirar essa coisa de ‘velhofobia’ que vira e mexe vem bater na minha mente."

José Guedes, de 97 anos, amigo de Mirian Goldenberg, ao lado dela, que está com um bolo
José Guedes, de 98 anos, amigo de Mirian Goldenberg - Arquivo pessoal

Por que fiquei tão emocionada? Porque vocês me mostraram que consegui acertar o tom e o conteúdo da coluna graças às incontáveis horas, dias e noites de insônia que gastei pensando no tema, no título, em cada vírgula e em cada palavra que escrevi depois de reler inúmeras vezes o texto.

Leio todas as colunas que escrevo para o meu melhor amigo Guedes, de 98 anos. As risadas gostosas dele são a melhor prova de que meu texto está quase pronto. Faço sempre três perguntas para ele: "Está relevante? Está adequado ao momento? Está bonito?"

Somente quando recebo três respostas afirmativas envio a coluna para a Folha. Preciso dizer que Guedes é meu crítico mais sincero, inteligente e exigente.

Guedes se tornou meu mentor na minha jornada existencial e me ensinou a ter coragem em vários momentos em que me senti sem força, saúde e ânimo para continuar a luta contra a velhofobia. Não me canso de repetir para ele: "Você sabe que é o amigo que eu mais amo?"

E não me canso de ouvir a resposta:

"Eu sei"

"Tem certeza?"

"Absoluta".

Termino nossas conversas diárias com: "Um beijo no seu coração".

A colunista da Folha Mirian Goldenberg lança o livro 'A Invenção de uma Bela Velhice'. Para a obra, a escritora fez uma vasta pesquisa com pessoas com 90 anos
A colunista da Folha Mirian Goldenberg lança o livro 'A Invenção de uma Bela Velhice'. Para a obra, a escritora fez uma vasta pesquisa com pessoas com 90 anos - Marlene Bargamo/Folhapress

É muito difícil escrever um texto que seja relevante, adequado e bonito sem revelar o meu sofrimento com a destruição do país e mortes dos brasileiros; com a perversa sabotagem da vacinação, das máscaras e das recomendações da ciência; com o aumento cruel da fome, miséria e desemprego; com a epidemia de ódio, violência, intolerância, corrupção, roubalheira, crimes hediondos; com as eleições que podem nos salvar dos fascistas, psicopatas e genocidas e com tantas outras tragédias sem fim.

Apesar de trabalhar incansavelmente, nem sempre consigo acertar como gostaria. Um bom exemplo é o de uma coluna que escrevi sobre reciprocidade, uma reflexão que considero necessária em tempos tão sombrios. Recebi pouquíssimos comentários e não teve repercussão.

Mas tive a sorte de conhecer Walter Alves em uma palestra que fiz sobre velhofobia, projetos de vida e busca de significado. Logo no início da conversa, ele disse:

"Mirian, parabéns pela sua coluna sobre reciprocidade. Que texto lindo, emocionante e sensível. Enviei para todos os amigos e amigas. Você escreve com verdade e doçura, com coragem e coração. Chorei quando li o texto. Aprendi que reciprocidade não é dar ao outro a mesma coisa que recebo dele; que reciprocidade é dar ao outro o que ele mais precisa e receber dele o que eu mais preciso. Reciprocidade não se mede com bens materiais, pois o que eu mais preciso é de escuta, carinho, cuidado e compreensão."

Fiquei emocionada pois tive a certeza de que eu havia tocado a alma de um homem sensível e generoso. Conversamos por horas e horas, como velhos amigos. Contei a ele que sinto uma profunda "angústia de relevância", e que, mais do que meu "lugar de fala", busco desesperadamente encontrar meu "lugar de escuta e de escrita". O que escrever que seja relevante, adequado e bonito?

Poucos meses depois, Walter morreu. Foi como se eu tivesse perdido um amigo de infância que conhecia minha essência. Chorei por perder um amigo tão precioso.

Perdi velhos amigos e amores na pandemia, mas também ganhei novos amigos e amores muito especiais. Vocês sabem como são importantes para mim? Escrever para vocês é um dos propósitos mais significativos da minha vida; um verdadeiro bálsamo e alimento para minha alma. Escrever para vocês todas as semanas me desafia a dar o máximo e melhor de mim mesma.

Feliz Natal, com muita saúde, amor e reciprocidade. Um beijo no seu coração.

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