Vocês não podem imaginar a minha alegria ao ler os comentários generosos sobre a coluna "Por que você precisa tanto de homem?", como o do meu leitor Hélio Costa:
"Cada vez curto mais seus textos. Aqui, vou aumentando meu amor por minha esposa e por mim enquanto a idade passa, temos orgulho de nós nos sentirmos ‘jovens de alma’. Sua coluna me desperta mais esse alerta para tentar tirar essa coisa de ‘velhofobia’ que vira e mexe vem bater na minha mente."
Por que fiquei tão emocionada? Porque vocês me mostraram que consegui acertar o tom e o conteúdo da coluna graças às incontáveis horas, dias e noites de insônia que gastei pensando no tema, no título, em cada vírgula e em cada palavra que escrevi depois de reler inúmeras vezes o texto.
Leio todas as colunas que escrevo para o meu melhor amigo Guedes, de 98 anos. As risadas gostosas dele são a melhor prova de que meu texto está quase pronto. Faço sempre três perguntas para ele: "Está relevante? Está adequado ao momento? Está bonito?"
Somente quando recebo três respostas afirmativas envio a coluna para a Folha. Preciso dizer que Guedes é meu crítico mais sincero, inteligente e exigente.
Guedes se tornou meu mentor na minha jornada existencial e me ensinou a ter coragem em vários momentos em que me senti sem força, saúde e ânimo para continuar a luta contra a velhofobia. Não me canso de repetir para ele: "Você sabe que é o amigo que eu mais amo?"
E não me canso de ouvir a resposta:
"Eu sei"
"Tem certeza?"
"Absoluta".
Termino nossas conversas diárias com: "Um beijo no seu coração".
É muito difícil escrever um texto que seja relevante, adequado e bonito sem revelar o meu sofrimento com a destruição do país e mortes dos brasileiros; com a perversa sabotagem da vacinação, das máscaras e das recomendações da ciência; com o aumento cruel da fome, miséria e desemprego; com a epidemia de ódio, violência, intolerância, corrupção, roubalheira, crimes hediondos; com as eleições que podem nos salvar dos fascistas, psicopatas e genocidas e com tantas outras tragédias sem fim.
Apesar de trabalhar incansavelmente, nem sempre consigo acertar como gostaria. Um bom exemplo é o de uma coluna que escrevi sobre reciprocidade, uma reflexão que considero necessária em tempos tão sombrios. Recebi pouquíssimos comentários e não teve repercussão.
Mas tive a sorte de conhecer Walter Alves em uma palestra que fiz sobre velhofobia, projetos de vida e busca de significado. Logo no início da conversa, ele disse:
"Mirian, parabéns pela sua coluna sobre reciprocidade. Que texto lindo, emocionante e sensível. Enviei para todos os amigos e amigas. Você escreve com verdade e doçura, com coragem e coração. Chorei quando li o texto. Aprendi que reciprocidade não é dar ao outro a mesma coisa que recebo dele; que reciprocidade é dar ao outro o que ele mais precisa e receber dele o que eu mais preciso. Reciprocidade não se mede com bens materiais, pois o que eu mais preciso é de escuta, carinho, cuidado e compreensão."
Fiquei emocionada pois tive a certeza de que eu havia tocado a alma de um homem sensível e generoso. Conversamos por horas e horas, como velhos amigos. Contei a ele que sinto uma profunda "angústia de relevância", e que, mais do que meu "lugar de fala", busco desesperadamente encontrar meu "lugar de escuta e de escrita". O que escrever que seja relevante, adequado e bonito?
Poucos meses depois, Walter morreu. Foi como se eu tivesse perdido um amigo de infância que conhecia minha essência. Chorei por perder um amigo tão precioso.
Perdi velhos amigos e amores na pandemia, mas também ganhei novos amigos e amores muito especiais. Vocês sabem como são importantes para mim? Escrever para vocês é um dos propósitos mais significativos da minha vida; um verdadeiro bálsamo e alimento para minha alma. Escrever para vocês todas as semanas me desafia a dar o máximo e melhor de mim mesma.
Feliz Natal, com muita saúde, amor e reciprocidade. Um beijo no seu coração.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.