Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mirian Goldenberg

'Cheios de tesão'

Qual é o segredo dos casais mais satisfeitos, felizes e apaixonados?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O número de divórcios, disputas, conflitos, brigas e traições explodiu na pandemia. Alguns casais que entrevistei recentemente contaram que se separaram por "incompatibilidade política e ideológica": porque o cônjuge apoia e defende psicopatas fascistas ou é negacionista e antivacina.

No entanto, apesar da singularidade dos casais que estou pesquisando, descobri algumas semelhanças entre aqueles que se sentem mais satisfeitos, felizes e apaixonados:

  • Eles não perderam o encantamento, a paixão e o tesão que sentiam no início da relação. Ao contrário, tudo isso só cresceu com a convivência mais íntima.
  • Eles se sentem amados, reconhecidos e valorizados. Têm a certeza de que são prioritários na vida um do outro e não precisam mendigar migalhas de atenção e de carinho.
stock.adobe.co
  • Eles construíram uma relação com mais generosidade, reciprocidade e reconhecimento. Não repetem aquelas frases tão típicas nos relacionamentos insatisfatórios: "Você não faz mais do que a sua obrigação. Você dá muito trabalho e é exigente demais. Só sabe criticar, cobrar e reclamar. Eu invisto muito mais do que você no nosso casamento. Além de não me ajudar, você ainda me atrapalha muito".
  • Eles são companheiros, amantes e amigos, com valores e projetos em comum. Têm a certeza de que nunca estarão sozinhos nas crises e momentos mais difíceis. Valorizam a fidelidade e a lealdade: a confiança recíproca é um dos pilares mais importantes para a satisfação conjugal.
  • Eles não implicam um com o outro, nem brigam por bobagens e mesquinharias. Quando ocorre algum conflito, superam o problema sem agredir, ofender e magoar.
  • Eles procuram ser a melhor versão de si mesmos. Buscam valorizar as qualidades do outro em vez de apontar e criticar os defeitos, faltas e imperfeições.
  • Eles sentem mais prazer em fazer atividades juntos, mas têm liberdade e espaço para ficarem sós ou com os amigos.
  • Eles conversam muito e compartilham as pequenas coisas do dia a dia. Algumas vezes preferem o silêncio e se entendem apenas com um olhar ou um sorriso. Eles sabem "escutar bonito".
  • Eles respeitam e compreendem as necessidades e desejos do outro. Não economizam beijos, abraços e carinhos. Dão muitas risadas, brincam, e são cheios de tesão pela vida que construíram juntos.
  • Eles não se cansam de dizer: "Não consigo imaginar como seria a minha vida sem você nesse momento tão triste e trágico. Eu te amo, você é o amor da minha vida".

Para uma psicóloga, de 65 anos, o mais importante no casamento são quatro Cs: confiança, carinho, cuidado e compreensão, somados a quatro Rs: respeito, reconhecimento, reciprocidade e risadas.

"Meu marido adora assistir Big Brother, Largados e Pelados, Round 6, programas que eu detesto. Mas não fico enchendo o saco dele: fico lendo meus livros e escutando música. Mas adoramos assistir juntinhos "The Voice+". Ficamos emocionados com os cantores maravilhosos e com a Fafá de Belém chorando e dando suas famosas gargalhadas. Ela disse que os participantes estão cheios de tesão, que eles dão uma aula de coragem e provam que estão vivos, belos e plenos em uma sociedade violenta, injusta e preconceituosa que acha que os mais velhos são invisíveis, inúteis e descartáveis".

O marido, um músico de 61 anos, disse que o segredo do casamento é dar muitas risadas.

"Valorizo ainda mais a minha companheira quando vejo casais brigando por mesquinharias e bobagens no meio de uma pandemia e de uma guerra trágica. Não tivemos uma só briga séria durante todo esse tempo. Ela nunca fica reclamando, criticando, nem cobrando nada. Dividimos as tarefas domésticas, respeitamos o tempo e o espaço um do outro, curtimos assistir filmes, séries e "The Voice+". Aqui em casa, em vez de DR ser discutir a relação, alimentamos outro tipo de DR: dar risadas. Dar risadas é tão ou mais prazeroso quanto o sexo. Somos casados há mais de vinte anos e continuamos dois namorados cheios de tesão. Estou cada vez mais apaixonado pelo amor da minha vida. Sou ou não sou um homem de muita sorte?"

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.