Basta uma rápida busca no Google para constatar que o Brasil se tornou um paraíso para o mercado de sites e aplicativos de traição.

"Brasil foi o segundo país com mais assinantes em site de traição em 2021" (3/3/2022)

"’Boom da traição’: aplicativo de encontros extraconjugais vê número de usuários no Rio quadruplicar em um ano" (12/2/2022)

"Site de traições conjugais vive boom durante pandemia de Covid" (27/6/2021)"

"App de traição voltado para mulheres já possui 150 mil usuários no Brasil" (23/6/2021)

"App de traição para mulheres faz sucesso e chega agora ao Brasil" (19/4/2021)

"Site de traição cresce no Brasil e já tem duas mulheres para cada homem" (15/3/2021)

"Brasileira é campeã mundial em traição, mostra site de relacionamentos" (16/3/2021)

"Site de traição cresce mais entre mulheres no Brasil" (14/3/2021)

Como mostro nas minhas pesquisas —em que 60% dos homens e 47% das mulheres afirmaram que já traíram— a infidelidade conjugal tem significados diferentes para homens e mulheres. Para muitas mulheres que pesquisei, sexo virtual também é traição, enquanto para grande parte dos homens só é traição quando ocorre penetração. Lembram da polêmica sobre o caso do Bill Clinton com a estagiária?

Mais do que saber o número de usuárias dos sites de encontros extraconjugais, é interessante compreender o que as mulheres buscam nesses aplicativos. As pesquisas realizadas pelos próprios sites não revelam que, inúmeras vezes, o que as mulheres procuram não é exclusivamente o sexo.

Mais do que o sexo e a aventura, elas revelam, nas minhas pesquisas, que buscam reconhecimento e valorização. Além do desejo de serem desejadas, elas anseiam por mais intimidade, romance, conversa, escuta, beijo na boca e muito mais.

Uma jornalista, de 39 anos, disse que se inscreveu em um site de relacionamentos para pessoas casadas porque tudo é mais verdadeiro, ninguém finge que é solteiro como muitos fazem no Tinder.

"Estava cansada da mesmice do meu casamento, das críticas, reclamações e brigas constantes. Me inscrevi para encontrar um momento de romance, flerte, brincadeira, intimidade, leveza, para fugir do desgaste da rotina infernal dentro de casa. Funciona como uma válvula de escape, uma aventura meio adolescente, para me sentir novamente desejada, valorizada, atraente, sedutora, bonita, sexy."

Uma psicóloga, de 45 anos, se inscreveu em um site de encontros extraconjugais como uma espécie de vingança, já que estava se sentindo uma mulher invisível.

"A pior solidão é a solidão a dois. Meu marido me ignora, finge que não existo. Nem me beija mais na boca. Estamos casados há vinte anos e depois de dois filhos parece que viramos irmãos. É uma relação burocrática, nem transar mais tem graça, no meio da transa ele começa a falar de problemas no trabalho, de falta de dinheiro. Ainda não traí de verdade, mas estou paquerando dois homens fascinantes e sedutores. É tudo o que eu preciso para voltar a me sentir mulher. Não falta sexo aqui em casa, pois tenho um vibrador fantástico, mas falta paixão. Cansei de ser uma mulher invisível."

Por mais paradoxal que possa parecer, elas disseram que não buscam prioritariamente o sexo. Com os "amantes", elas querem se sentir uma "mulher de verdade", e não apenas mãe, esposa, dona de casa, filha, amiga, cuidadora, profissional e outros tantos papéis que assumiram no casamento.

A psicóloga disse que a traição, ainda que virtual, é a prova concreta de que ela ainda existe como uma mulher "desejante e desejável", que não se tornou invisível, transparente.

"Ser desejada por outros homens é a prova de que não sou invisível. Sou mãe, esposa, profissional, mas, acima de tudo, sou mulher. Estou viva, plena, não me aposentei de mim mesma. Quero tudo o que não tenho mais no meu casamento: intimidade, elogio, admiração, romance, diálogo, escuta, compreensão, carinho, massagem e beijo na boca. Quero um homem que me valorize e me deseje exatamente como eu sou. Quero um homem louco de tesão por mim. É querer demais?"