Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Descrição de chapéu Corpo

O desmonte perverso da ciência e a dor dos brasileiros

Desmantelamento das políticas científicas e o sofrimento dos brasileiros na pandemia de Covid-19

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Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência. Em julho, colunistas cedem seus espaços para refletir sobre o papel da ciência na reconstrução do Brasil. Quem escreve é Terezinha Féres-Carneiro, psicóloga, pesquisadora e professora titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Ela é pesquisadora 1A do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e de muito reconhecimento na sua área de pesquisa sobre família, casamentos e conflitos conjugais.

Manifestantes seguram cartazes durante a 3ª Marcha Pela Ciência, na Av. Paulista, em 2017
Manifestantes seguram cartazes durante a 3ª Marcha Pela Ciência, na Av. Paulista, em 2017 - Alberto Rocha - 8.out.17Folhapress

"Inicialmente, gostaria de agradecer à minha amiga, a antropóloga Mirian Goldenberg, que generosamente cedeu o espaço de sua coluna de hoje para que eu participasse da campanha #ciêncianaseleições.

No dia 8 de julho celebra-se, no Brasil, o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador. Infelizmente, vivemos em nosso país tempos obscuros no que diz respeito à valorização e ao financiamento da ciência e à formação dos pesquisadores.

O Brasil tem enfrentado graves problemas sociais, econômicos e políticos, problemas estes com alto potencial para interferir negativamente na saúde, sobretudo na saúde mental, da população. Além disso, enfrentamos a pandemia da Covid-19 e suas consequências como isolamento social, perda de entes queridos, descrença no futuro, crise econômico-financeira, fechamento das escolas, provocando sobrecarga de atividades para os pais em trabalho remoto.

Inúmeras famílias vivenciaram a morte de parentes sem ter a possibilidade de realizar rituais de despedida, tão fundamentais para a elaboração de um luto saudável. Tudo isso reduziu os níveis de bem-estar da população, intensificou conflitos familiares e aumentou a ocorrência de transtornos emocionais.

Apesar da ausência em nosso país de um líder que fosse capaz de gerenciar a grave crise imposta pela pandemia e que levou quase 700 mil brasileiros a perderem a vida, graças à tradicional crença da maior parte de nossa população na ciência, a catástrofe não foi ainda maior.

Nosso reconhecimento aos cientistas de diversos países, incluindo o Brasil, que desenvolveram as vacinas cujas aplicações evitaram a perda de mais de 20 milhões de vidas humanas em todo o mundo, segundo estudo publicado recentemente pela revista The Lancet Infectious Diseases. Cientistas estes que recomendaram o uso de máscaras, o grande responsável pela redução do índice de contaminação entre as pessoas.

Nossa gratidão aos profissionais da área da saúde, não só aos da linha de frente nos hospitais, mas também àqueles que, baseados em sua formação científica e profissional, estão em suas clínicas e consultórios ajudando as pessoas a enfrentarem os seus sofrimentos e perdas.

Na área em que atuo, psicologia clínica, mais especificamente psicoterapia de casal e família, temos nos deparado com o enorme sofrimento psíquico daqueles que perderam entes queridos, perderam empregos, e enfrentam graves crises de ansiedade e de depressão, e intensos conflitos conjugais e familiares. Os processos psicoterápicos, fundamentados cientificamente, vêm ajudando aqueles que buscam atendimento na compreensão e elaboração do sofrimento, das perdas e dos lutos.

Atravessar a pandemia com a ausência de uma liderança nacional, com cada estado da federação anunciando regras distintas relacionadas ao cuidado coletivo, ameaçou a vida dos indivíduos, desestabilizando o contrato grupal de garantir a continuidade da convivência social.

Foi a ciência, com suas propostas de cuidado individual e coletivo e informando a cada dia os avanços alcançados, que trouxe o sentido de continuidade e de proteção aos indivíduos, tendo exercido a função de continente para os medos e sofrimentos da população.

A psicoterapia, em suas múltiplas possibilidades teóricas e técnicas, vem ocupando na sociedade seu lugar de ciência aplicada, podendo acolher as demandas oriundas do sofrimento psíquico e promover mais saúde emocional para indivíduos, casais e famílias.

Como psicoterapeuta, pesquisadora e professora universitária, gostaria de enfatizar a urgência da retomada em nosso país de uma política pública de investimento em pesquisa. O meio científico e acadêmico brasileiro tem, em diferentes fóruns, ressaltado o descabido corte que as agências de fomento ao desenvolvimento científico e à formação de pesquisadores vêm sofrendo no país.

Fica aqui a grande esperança de que, a partir de 2023, um novo governo dê à ciência o lugar de destaque que ela teve em nosso país, e urge que continue tendo."

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