Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Policiais dizem que algemaram Cabral para protegê-lo 'da turba'

Ex-governador afirma que, ao protestar, ouviu "que delatores recebiam tratamento melhor".

São Paulo

Os policiais que colocaram algemas nas mãos e nos pés do ex-governador do Rio Sergio Cabral, em janeiro, em Curitiba, afirmam que fizeram isso para protegê-lo.

Eles alegaram que, ao conduzir o preso da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba (PR) para o IML (Instituto Médico Legal), souberam que o local estava tomado por uma "multidão ensandecida", parecendo uma "zona de guerra" e um "lugar de alto risco, sem controle".

De acordo com relatório do inquérito instaurado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar se houve abuso de autoridade no caso, os agentes tiveram ainda informação de que a "turba" nutria "extraordinário ódio por Cabral, havendo risco de atentados à sua integridade física".

Por essa razão, "decidiram que o preso deveria ser algemado pelas mãos atadas a cinto de contenção e nos pés, reduzindo-lhe por completo a mobilidade, para sobre ele ter total controle e, assim, protegê-lo de possíveis agressões verbais e físicas de terceiros".

Afirmaram ainda que informações sobre riscos à vida de Cabral foram colhidas na internet, onde "circulava um vídeo do perigoso bandido Marcinho VP que representava ameaças à integridade de Cabral".

O uso das algemas, da forma como feito em Cabral, gerou críticas e a abertura do inquérito. O STF já havia editado uma súmula proibindo o uso do instrumento, a não ser em casos excepcionais de risco aos agentes, ao preso e também de fuga.

De acordo com o relatório, uma agente federal de execução penal chamada Ana Clara afirmou que conhece a determinação do STF limitando o uso de algemas --mas, para ela e o "pessoal dos presídios federais", a súmula do tribunal "não vale nada".

Cabral também prestou depoimento. Disse que já havia sido transferido outras vezes, mas que essa foi a primeira em que foi algemado nas mãos e nos pés. Contou que chegou a reclamar de dor, mas que um dos policiais o teria aconselhado a "andar mais devagar que as algemas não o machucariam".

Ele foi conduzido diante de vários jornalistas e fotógrafos, que registraram a cena.

O ex-governador afirmou ainda que, ao protestar contra "essa forma de imobilização", teria ouvido "que delatores recebiam tratamento melhor". Outros agentes disseram, ao juiz que colheu os depoimentos, que a medida foi adotada por segurança e não para humilhar o preso.

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