Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Copa do Mundo

'Não se chama Lava Jato, mas o esporte está sendo passado a limpo', diz Galvão

Rumo à sua 12ª Copa, o narrador diz que não recebe ordem para bajular Neymar

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Galvão Bueno em seu escritório em São Paulo sentado à mesa; na foto à direita, uma camisa da seleção enquadrada e foto de Ayrton Senna de capacete

Galvão Bueno em seu escritório em São Paulo; na foto à direita, uma camisa da seleção enquadrada e foto de Ayrton Senna Eduardo Knapp/Folhapress

São Paulo

Se o bolão do Galvão estiver certo, na transmissão da final da Copa não vai faltar bordão. Ele diz sonhar com uma decisão entre Brasil e Argentina. 

“Imagina quantas vezes eu vou falar: ‘Ganhar é bom, mas ganhar da Argentina é muito melhor’?”, diz o narrador, citando uma das muitas frases de seu repertório que há 37 anos fazem telespectadores da Globo sorrirem ou xingá-lo. 

Aos 67 anos, o flamenguista Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno vai narrar a 12ª Copa de sua carreira. “Queria saber se é um recorde”, diz.

A contagem começa em 1974, ano do mundial da Alemanha Ocidental, que ele cobriu de São Paulo quando iniciou a carreira como comentarista, na Gazeta —ele entrou na Globo em 1981. 

Galvão falou à coluna no escritório da sua marca de vinhos Bueno Wines, na capital paulista, sentado em uma sala repleta de lembranças como um capacete de Ayrton Senna, as chuteiras de Kaká e um violão autografado pelo cantor Daniel. Leia trechos a seguir. 

HAJA CORAÇÃO

“O Brasil sempre será um dos favoritos. A seleção está muito bem entregue com o Tite. Acho que poucas vezes nós saímos para uma Copa com um time tão bem dirigido.” 

TESTE PRA CARDÍACO

“A Copa é o auge da nossa carreira. Cada uma é a renovação dessa conquista. Você tem ideia para quantos milhões de pessoas eu falo na Copa? É o suficiente para jogar a adrenalina lá pra cima.” 

OLHA O GOL

“Vocês que dizem isso [que a relação de Neymar e Galvão azedou após as críticas que o narrador fez, ao vivo, à seleção olímpica masculina de futebol que, em 2016, saiu de um jogo sem dar entrevistas].”

 

“O Neymar é um líder. Naquele momento, achei que ele teve uma liderança negativa, e por parte dos outros jogadores a mesma coisa. Fui enfático como sempre. Não me arrependo do que falei —não fui ofensivo. Se aquilo deu uma bronca, ótimo, porque eles ganharam a medalha que esperávamos há tanto tempo.”

 

“Não há nenhuma recomendação específica [da Globo] sobre o Neymar. Não tem uma preocupação de agradá-lo. Instrução pra quê? Pra ser simpático? Tenho inteira liberdade de emitir minhas opiniões. Não sei por que as pessoas têm a necessidade de criar esse tipo de fato que não existe. Não existe armação para juntar ou separar [Galvão é chamado de ‘neymarzete’ por quem acha que ele elogia demais o atacante].” 

Galvão Bueno entrevista o jogador Neymar e, sofá em 2012
Galvão Bueno entrevista o jogador Neymar para o 'Na Estrada com Galvão' em 2012 - Rafael Andriolo/TV Globo/Divulgação

“Elogio quando merece. Critico quando acho que merece. Tenho a consciência tranquila. Não fica ninguém no meu ouvido dizendo o que eu posso e o que não posso falar. Essa é a minha maior conquista profissional. A Globo tem total confiança no meu trabalho.” 

 

“O Neymar passou uma fase de excesso de cuidados [responde Galvão ao ser questionado se concorda com Casagrande, que chamou o jogador de ‘mimado’]. Agora ele está mais solto. É melhor pra ele. O Brasil não tem mais essa ‘neymardependência’. Com isso, vai ficar mais fácil ele mostrar o futebol dele. Ele vai apanhar pra caramba —os craques sofrem com isso. Mas ele é um grande jogador, e é o nosso ídolo, sem dúvida. E acho que ainda vai ser mais.”

 

BEM, AMIGOS

“Cada um é responsável pelos seus atos. Não é ético e não tenho o direito de fazer nenhum comentário [sobre a demissão de William Waack após o vazamento de um vídeo em que ele aparece fazendo um comentário racista].” 

 

“Não falo de política. Sei que exerço influência sobre a opinião de muitas pessoas. Então prefiro ficar na minha praia, que é o esporte, mesmo tendo convicções. Não declaro porque não me acho no direito.” 

 

“Nem morto! [ele se candidataria a algum cargo político] Já recebi proposta, mas agradeci a todas elas gentilmente.”

 

AYRTON SENNA DO BRASIL

“O Ayrton tinha uma conscientização do que era o país dele. Não sei se hoje ele seria um grande empresário ou político, mas de alguma forma estaria influenciando além do esporte. E estaria muito infeliz com esse nosso Brasil de hoje. Não tenha dúvida.”

 

QUEM É QUE SOBE?

“Eu nem sei o que eu ia fazer com essa grana toda [R$ 5 milhões por mês, o salário atribuído a ele em buscas na internet]. As pessoas são muito loucas, cara. Elas falam aquilo que elas quiserem. Ganho muitíssimo bem, mas é claro que não é isso. Mas também não gosto quando diminuem meu salário. Às vezes diminuem. Mas por que isso existe? Ganhar bem é crime?”

 

VIROU PASSEIO

“A melhor coisa da internet é que ela deu voz para todo mundo. A pior coisa é que ela deu voz para todo mundo. As maiores vitrines tomam as pedradas mais duras. Eu tomo todo dia. Assim é a vida. A gente apanha de acordo com a importância que tem. Já estou cascudo [em 2010, ele virou piada com a frase ‘Cala Boca Galvão’]. Acho o politicamente correto uma das coisas mais chatas no mundo.” 

 

AÍ COMPLICA

[No fim do ano passado, o ex-executivo da Globo Marcelo Campos Pinto foi citado em um depoimento no qual o empresário argentino Alejandro Burzaco alega que a emissora teria participado de um esquema de pagamento de propina a dirigentes do futebol em troca dos direitos de transmissão de competições. Na época, a Globo se manifestou, afirmando “veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina.”]

 

 “Conheço o Marcelo há muitos anos. Não acredito que ele tenha agido de forma incorreta”, afirma Galvão. “Não tenho conhecimento de nenhuma atitude da Globo que tenha sido utilizada para levar vantagem com alguma espécie de suborno ou de dinheiro que não fizesse parte da compra dos direitos e do acesso às transmissões.” 

 

[O locutor é amigo do empresário J. Hawilla. Réu confesso em esquema de suborno na venda de direitos de torneios de futebol, Hawilla se comprometeu a pagar uma multa de US$ 151 milhões e colabora com a Justiça americana.]

 

“Faz algum tempo que não o vejo. Acho que o principal do caso do Hawilla foi ele ter reconhecido que errou e ter se arrependido. Nunca conversei com ele sobre isso. E fiquei triste de vê-lo envolvido nessa história.”

 

“O esporte está sendo passado a limpo. O antepenúltimo presidente da CBF [Ricardo Teixeira] está sob investigação, o penúltimo [José Maria Marin], preso nos EUA, e o último [Marco Polo del Nero] foi banido do futebol. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro [Carlos Arthur Nuzman] foi preso. Só não se chama Lava Jato, mas está acontecendo. Ainda bem.” 

 

“Achar estranho [as suspeitas de corrupção na CBF e na Fifa] muita gente achou. Mas a comprovação de como era nunca tinha acontecido.”

 

“Quero fazer um segundo livro [depois de ‘Fala, Galvão’, de 2015, que traz histórias até 2014] que entre nessa lambança toda. Aconteceu muita coisa boa. E muita coisa ruim.” 

 

PODE ISSO, ARNALDO?

“[Na Globo] Está sendo estudada a possibilidade de utilizar os profissionais de comunicação do esporte em campanhas publicitárias.” 

 

“O meu trabalho é andar no fio da navalha. Tem a emoção de um lado e, do outro, a realidade dos fatos. Você não pode fugir da verdade. Sou um misto de vendedor de emoções e equilibrista. Você trafega no entretenimento junto com o jornalismo. A gente sai do jornalismo, mas o jornalismo não sai da gente [ele estudou Educação Física]”. 

 

ERGUE O BRAÇO

“Se me perguntar: ‘Você acha que vai transmitir a Copa do Qatar [em 2022]?’ Acho que não. Talvez não narrando. Espero estar vivo e com saúde para estar lá. Fazendo o quê? Não sei dizer hoje [em 2010, Galvão disse que iria se aposentar após a Copa no Brasil, em 2014. Não o fez].”

 

“Se eu pensar que a Globo está tendo dificuldade para encontrar alguém pra colocar no meu lugar, tenho que pensar que ela está querendo se livrar de mim. E não é o caso. Temos ainda dois anos de contrato e já estamos conversando sobre a sequência. Tem espaço para todo mundo.”

 

‘TOCO Y ME VOY’

“A voz não é mais a mesma, né? Mas é como o vinho: vai adquirindo nuances. Não preciso ser ‘o’ narrador. Mas é legal. É bacana. Narrador é o cantor da banda.” 

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