Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Televisão

'Não posso ter dor de barriga que acham que estou morrendo', diz Claudia Jimenez

Atriz conta que cansou de ser a 'gordinha alegre' e fala de menopausa: 'A libido voou, não sei pra onde foi'

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A atriz Claudia Jimenez posa para retrato na sede da Globo, no Jardim Botânico, no Rio
A atriz Claudia Jimenez posa para retrato na sede da Globo, no Jardim Botânico, no Rio - Ricardo Borges/Folhapress

Claudia Jimenez, 59, não dirige um carro há 15 anos. “Botei um motorista depois que eu tive um infarto. Achei melhor do que ficar me aborrecendo no trânsito”, diz a atriz, que estreou na série “Infratores”, no Fantástico, na qual interpreta uma professora de autoescola.

 

“Quando a diretora [da atração] me ligou, até me senti, sabe quando você vai passando e alguém te pega? [risos] Não esperava que me chamassem para um programa que fosse falar de uma coisa tão séria que é morte, trânsito. Mas o humor toca as pessoas. A gente fala, mas com uma certa vaselina, sabe?”, conta a carioca, há 40 anos na Globo. Ela conversou com a coluna no Rio.

 

HUMOR

Eu adoro. É o que eu sei fazer de melhor. Me considero uma comediante. [Claudia estreou no teatro com “Ópera do Malandro” e ingressou na TV no programa “Viva o Gordo”, de onde foi para a “Escolinha do Professor Raimundo”]. 

 

Comecei a fazer teatro com 13 anos. É a minha escola. A minha Sorbonne foi a “Escolinha”. Trabalhar com aquelas pessoas [Chico Anysio, Walter D’Ávila], se você não aprender é porque não nasceu pra isso. 
Na TV, eu gostaria de ter algum diretor que bancasse um projeto diferente do humor que eu sempre fiz. Um personagem que fosse tragicômico. Para mostrar que eu também posso. 

 

Em teatro, já pude experimentar outras coisas, mas na televisão [o humor] sempre foi o meu chão. Estou na estante de “engraçada”. Então é pra lá que eu vou ser solicitada. 

ENGRAÇADA

As pessoas te cobram, né? Esperam você falar uma coisa engraçada. Aí às vezes eu não estou para palhaçada e fico tímida. Eu não era assim. Já chegava e ligava. Fazia meio como sedução mesmo. 

 

Não preciso mais seduzir ninguém. Não dependo mais da opinião do outro. Raramente alguém faz algum comentário que me incomoda. Sofri coisas que fazem amadurecer na porrada. Tive câncer [1986], operei o coração duas vezes [em 1999 e 2012], botei marca-passo [2014]. Isso vai fazendo de você uma outra pessoa. 

 

Não quero fingir. Porque quando passei isso tudo, eu ainda fingia que era a gordinha simpática, alegre. Mas chegou um tempo que falei: “Caguei!”. Não sou mais isso. Metade da minha espontaneidade acho que saiu um pouco. Perdi nos sofrimentos todos. E hoje eu sou assim. Não me importo com o que me pedem. Dou o que eu quero dar. Passei a vida inteira tentando agradar. Pra receber afeto. Com os anos de terapia, que eu fiz muito, você sai daquele lugar e vai para o teu lugar mesmo. O teatro me ajudou a sair desse lugar que me deram. 

‘SAI DE BAIXO - O FILME’

Quando ia sair o filme [inspirado na série da Globo exibida entre 1996 e 2002], eu falei que não queria fazer. E a Márcia Cabrita é que ia fazer [o papel da empregada]. No que ela morreu [em 2017], me senti na obrigação de fazer [Claudia interpretou a doméstica Edileuza no programa]. Ai no meu aniversário o Miguel [Falabella, roteirista do longa] estava lá, e vi que ele estava triste com a morte dela. E eu amo o Miguel. Falei: “Vou fazer o filme!” Pra ele ficar feliz e tal. 

 

Aí eu recebi o roteiro. Quando comecei a ler aquele universo, percebi que não ia conseguir entrar na história de novo. Falei: “Não tem mais isso dentro de mim”. Fui sincera. E não fiz. Algumas pessoas ficaram chateadas. [O Miguel] diz que não ficou, mas fica, né? É amigo. Não fica de mau humor com o outro? Ai falam: “Teve briga!” É mentira.

‘DEUS SALVE O REI’

[Claudia foi escalada para a novela exibida este ano, mas abandonou a gravação]. Eu tive uma grande enxaqueca no dia da filmagem. Ficou impossível para mim. Mas tudo o que eu tenho agora as pessoas remetem aos problemas de saúde que já tive. 

 

Não posso ter uma enxaqueca, uma dor de barriga, que já acham que eu estou morrendo outra vez. Me cuido. Estou ótima. Melhor do que alguém que nem sabe como o coração está. Eu sei tudo do meu.

O PAÍS

Acho que o Brasil está falido. Aliás, a humanidade está. Mas como sou brasileira, falo daqui. E não é só no lado financeiro. A violência. As pessoas não têm mais respeito.

 

Se eu fosse falar do Rio, poderia ter a cara de pau agora de dizer “a cidade maravilhosa”? Não consigo. Eu sou carioca. É muito triste. Já me peguei pensando: “Será que tiro o meu passaporte e vou morar fora daqui?”.

 

Estou ficando presa em casa. Teatro, que eu gosto tanto, tenho medo de ir. Não saio mais à noite. Olha como a violência está impedindo todos nós de seguir a vida, de fazer as coisas que a gente sempre fez.

POLÍTICA

Não sou uma pessoa politizada. Então, pra mim, é difícil abraçar uma causa. Tem gente que vai para esses troços e não sabe nem o que é. Eu não faria isso. Só iria se eu realmente soubesse o que estou reivindicando. Não pela farra. 

 

AMOR

Se você perguntar: “Você é casada?”. Digo: “Sou”. [Claudia foi casada entre 1998 e 2008 com a personal trainer Stella Torreão, de quem é sócia em uma academia]. Costumo dizer que a nossa separação não deu certo. Ela é tão dentro da minha vida, e eu da dela, que a única parte que a gente não vive é a erótica. 

FILHOS

Perdi esse bonde. Pensei em ter um com a Stella quando estávamos juntas. Ela seria a barriga. Mas a coisa foi rolando e acabou que não aconteceu. Aí uma época eu pensei em adotar. Mas tive essas complicações [de saúde], e hoje não posso pegar uma criança no colo, pelo meu problema cardíaco. A vida me deu algumas limitações que tenho que aceitar. 

 

Os meus sobrinhos são como se fossem filhos. Tenho uma afilhada pela qual sou apaixonada. Hoje ela está com dois anos e já passou do peso que eu posso pegar no colo. Isso me deixa muito triste. Imagina um filho, que você vai querer ficar agarrando o tempo todo. Agora, eu sou mãe de todo mundo. Tenho um instinto materno que você não tem ideia.

ENVELHECER

Olha, 59 anos é uma data muito importante. Porque você vai entrar nos 60. E tem a menopausa, a falta de libido. É óbvio que estou num momento difícil para a mulher, pelo qual todas passam. Ficar na gargalhada é fingir. Não quero fingir. 

 

Eu não tenho medo de morrer. Tenho é pavor de ficar dependente de alguém. O legal é chegar lá com dignidade. 

SEXUALIDADE

Acho que a gente não é nada. A gente está alguma coisa. Tanto posso me apaixonar por uma mulher como por um homem. Todo mundo pode.

 

A Stella não foi a primeira. Eu já tinha namorado outras. É que são pessoas conhecidas, e não posso falar nomes para não expor [risos]. Mas essas eu só namorei. 

 

Com garotos também. Resolvi experimentar. Transei com muito boy magia [risos]. Estava vivendo o que eu não vivi na adolescência. Porque na minha adolescência eu era muito gorda, então os meninos não queriam estar comigo, dançar nas festas juninas. 

 

Aí em quatro anos [depois que se separou de Stella] eu vivi a minha adolescência. Ia todo dia pra festa, pra boate. Olha o grupo [com quem ela saía na época]: Carolina Dieckmann, Paulo Vilhena, Giovanna Antonelli, Fernanda Paes Leme, Bruno de Luca. Só tinha gente mais jovem [risos]. Eu tinha que viver isso. Foi importante pra mim. 

 

De repente, sabe quando a pombajira sobe e não volta mais? Acabou. Até porque a minha libido também acabou. Quando entrei na menopausa, ela voou. Não sei para onde ela foi. Dizem que volta. Não posso fazer reposição [hormonal] por conta do câncer que eu tive. Então eu sinto os calores, fico sem libido. Tem que esperar passar. 

 

Nunca escondi nada. Não se falava nesse assunto [homossexualidade], mas as minhas namoradas frequentavam a minha casa e a minha mãe as tratava super bem. Tudo normal. Nunca achei que isso fosse um problema, uma diferença. Isso fazia parte de mim. Aconteceu e eu fui viver. Te juro pelo meu marca-passo. E se eu jurar por ele, pode saber que é verdade!

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