Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Estou disponível para um amor, diz Ana Maria Braga

Aos 70 de idade, apresentadora é fã de games e diz que exposição atrapalha relacionamentos: 'Andar comigo é uma bomba atômica'

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Ana Maria Braga em sua casa em São Paulo
Ana Maria Braga em sua casa em São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

Duas coisas tiram Ana Maria Braga de sua serenidade. Uma é quando falam mal das receitas que ela apresenta no programa “Mais Você” antes de experimentá-las. “Levo a sério isso”, diz a apresentadora. “Se não merece ‘hummm’, nem entra”, emenda, referindo-se ao som que ela faz no ar sempre que prova o prato preparado na atração.

A outra, mais recente, é o boato de que ela pediu demissão da Globo, onde completa 20 anos no ar. “É uma notícia que aparece em um monte de computador. Quando clica, a pessoa é bombardeada para comprar um comprimido dizendo que eu emagreci com aquilo. Já botei advogado atrás, mas não consegue rastrear. É muito cansativo”, explica. 

“As pessoas ficam me ligando. Meu ex-marido, pai dos meus filhos. Meu médico. Perguntando: ‘O que aconteceu?’ Eu falo: ‘Nããão! É fake news!’ Eu estou muito bem [na Globo]”, afirma ela.

Aos 70 anos, Ana Maria é formada em biologia. Já foi casada com o economista Eduardo de Carvalho, com quem teve dois filhos, e com os empresários Carlos Madrulha e Marcelo Frisoni. Paulista de São Joaquim da Barra, trabalhou como vendedora de espaço em feiras, foi diretora comercial na editora Abril, apresentou o programa “Note e Anote” na Record e superou três cânceres —um deles, no pulmão. Neste mês, ela publica uma nova edição de seu romance “À Espera dos Filhos da Luz”, que foi lançado pela primeira vez em 2009. 

Ela recebeu a coluna com um bolo de massa de pão de queijo e linguiça em sua casa em SP, onde passa os fins de semana com suas cachorras e joga videogame com o neto. “Você precisa estar se atualizando. Saber apertar botão e entender como funciona. Não pode deixar seu neto saber mais de internet que você. Tem que aprender com ele, se for o caso.”

 
 

70 ANOS

Me assusto até agora quando falam esse número [70 anos]. Quando eu ia fazer 50, diziam: ‘A vida muda. Como se fosse um marco definitivo’. Não aconteceu nada! Foi igual quando voei num avião da Força Aérea Brasileira. Falavam: ‘Quando você ultrapassa a barreira do som, tem um não sei o quê’. Imagina. Eu ultrapassei a barreira do som. É como se batesse uma porta, sabe? Tum. E pronto [risos]! Foi isso a barreira do som. 

Fazer 50 anos também foi isso. Eu estava esperando uma catástrofe. E não aconteceu nada. Continuei sendo ativa, fazendo o que eu faço. Obviamente hoje eu tenho mais ruga. Mas a minha disposição continua a mesma. Levanto todo dia com um tesão danado de trabalhar.

ENVELHECER

Depois dos meus filhos, tive que tirar o útero e o ovário por um problema médico, de policístico. E você para de produzir hormônios. Faz trinta anos que eu faço reposição hormonal. Então eu nunca tive menopausa, nunca passei por calores. Tive a sorte de não ter essa fase que as mulheres normalmente têm. Tenho osso de gente 20 anos mais nova, uma calcificação muito boa. Então não sinto nada diferente do que sentia quando eu tinha 40, 50. Continuo sendo uma mulher que sente desejo, que sente... Sou uma mulher igual. 

SOLTEIRA

Estou disponível para um amor, entendeu? Isso não vou negar. Não posso entrar no Tinder porque não dá [risos]. Ia me dar um problema grande, né? Todo mundo me conhece. Seria um deboche. 

Eu pouco consigo sair com um programa ao vivo diário. Só trabalho [ela dorme às 21h30 e acorda às 4h30]. Tenho poucas oportunidades sociais de conviver com pessoas, pra falar: ‘Vou conhecer alguém’. Não tenho liberdade, não sou a dona do meu tempo. E as pessoas têm medo de chegar perto. 

Se eu sair pra jantar fora, por exemplo: dá dez minutos, estou na internet. As pessoas, com razão, têm medo. Para que se expor? Andar comigo é uma bomba atômica. 

Não sou uma pessoa solitária. Sou gregária. Gosto de gente. Se você me ajudar e botar aí [que ela está disponível para o amor], quem sabe [gargalha]?

CÂNCER

Ouvir outra pessoa falar que tem câncer e que pode morrer daqui a seis meses, você escuta, mas não introspecta. Não é com você. Você não pensa nisso. Eu tinha, sei lá, uns 30% de chance de sobreviver. Aí você olha e percebe que é finito. Vê quanto vale cada dia, cada minuto. Levanta de manhã e fala: ‘Acordei. Estou aqui! O que eu vou fazer com esse dia que eu tenho? Vou me lamuriar? Ou vou achar as oportunidades para exercer a gratidão, que faz um bem danado pra saúde?’. 

Melhorei muito depois do câncer. Eu era muito exigente. Sou ainda. Mas deixei de ser tão ariana quanto era. Você percebe que não precisa bater para sobreviver. Não que eu seja uma santa. Ainda cobro muito. Mas de um jeito mais suave. Não precisa ser bravo para ter razão. 

TV

A televisão é o único meio que muitas pessoas têm de se informar, aprender. A maior parte do tempo [no programa] eu faço o papel da minha mãe, que fez até o quarto ano [de escola]. Converso como se fosse ela. Faço a pergunta para o convidado daquilo que a minha mãe gostaria de aprender. 

Às vezes parece burra. Quando eu comecei a fazer TV, me chamavam de Ana Maria Brega. Naquele sentido de que tem menos capacidade intelectual. Mas é o jeito que eu consegui de chegar no coração de todo mundo. 

CIGARRO

Faz dois meses que eu tomei a decisão [de parar de fumar]. Venho me preparando psicologicamente. Porque não adianta remédio, nada. E faz 15 dias que venho reduzindo o número de cigarros. 

A gente nunca acaba com um amor assim. Você está na cama com um cara e fala: 'Não quero mais você! Vou- me embora e acabou!' Não existe isso [risos]. Imagine. [O cigarro] tá lá, é meu companheiro, meu confidente. 

Hoje mesmo fumei muito menos do que eu costumava fumar. Vamos imaginar: eu fumava 45 cigarros. Era bastante. Dependendo do tamanho da noite. E de que vinho eu estava tomando. Aí vim diminuindo. Vou marcar hora para parar. Mas estou num processo, negociando comigo mesma. 

LOURO JOSÉ

A gente não tem script. O Tom [Veiga, que dubla o personagem] era o meu produtor na Record. Um monte de gente testou fazer o Louro e não dava certo. Não casava a voz e o boneco —que era um horror. Aí um dia ele fez o teste e deu um casamento. Ele incorporou o Louro. Mas ele é uma pessoa. O Louro, outra. São temperamentos diferentes. Nunca briguei com o Tom. Ele é um grande amigo meu. Eu brigo com o Louro. O Louro é muito metido. 

RECEITAS

Não posso dar uma receita errada. A responsabilidade que eu tenho de a pessoa acreditar em mim, comprar os ingredientes, fazer e não dar certo, significa muito para quem ganha salário mínimo. 

CIDADÃ

É uma responsabilidade muito grande interferir no pensamento do outro [opinando sobre política]. Tem gente, por exemplo, que é comentarista de futebol e não fala o time que torce, né? E eu acho que faz sentido. Tenho as minhas posições políticas, mas eu não acredito que eu deva ou precise expô-las. Acho que é a minha função ser apolítica no meu trabalho. Torço por um Brasil melhor. Mas eu me abstenho de falar mal ou falar bem. 

MULHERES

Quando fala de asilo, de criança, de câncer, você acha bastante gente que vai em coquetel, gente que faz doação. Agora, quando você fala em defesa da violência contra a mulher, não tem quem patrocine isso. As empresas parecem que têm vergonha de dizer que os homens maltratam as mulheres. 

No meu programa eu falo direto para as mulheres: ‘Olha, se você fizer esse negócio aqui [receita, artesanato], você levanta essa bunda do sofá aí e vai trabalhar’. Porque você precisa da sua independência financeira. Sem independência financeira, ela vai ser morta. Os filhos dela vão apanhar, ela vai apanhar. 

Fui uma moça muito bonita. Acho que sou bonita ainda. Então fui assediada de diferentes formas. Como eu tinha autonomia financeira, nunca precisei me vender.

GAMES

Jogo videogame desde que nasci. Acho [risos]. Ou desde que nasceu o videogame [risos]. O meu neto vem pra cá todo fim de semana, e ele não vai pra lugar nenhum. Porque a gente joga junto, porque atualizo os jogos pra ele. 

Jogar videogame é um momento legal para abrir a cabeça. E aí dá uma outra visão daquilo que você não estava vendo e às vezes está na sua frente. 

Sempre gostei de computação. Jogo desde a época do disco de papel. Quando comecei, tinha um jogo horrível que eu ficava noites adentro. De uns zumbis que andavam dentro de um labirinto. “Doom”! Era terrível! Saía sangue! Mas você punha a sua raiva toda pra fora [risos]. [Atualmente] Tem o Fortnite. É lindo, né?

MEMES


Tem que aprender a rir de você mesmo. Ou você não faz o que eu faço [TV ao vivo]. E não dorme, né? Porque fica olhando nas redes sociais o que estão falando. Que que me importa o que estão falando? Se eu ficar te olhando 24 horas por dia você vai fazer uma cagada qualquer, não vai? [risos]. Todo mundo faz na vida real. E lá [a TV], pra mim, é a vida real. Não sou perfeita e não tenho vergonha disso.

[No começo] Ficava puta. Aí você vai aprendendo que o teu coração vale muito mais, e a felicidade também. Tem que se perguntar: ‘Que diferença vai fazer isso na sua vida daqui a uma hora. E daqui a uma semana. E daqui a um mês, um ano?’ Em 99,9% das vezes, não fará diferença nenhuma. Tem coisas que são decisivas. Saúde. A perda de alguém. O resto? Meu filho, tem coisa que você fica bravo agora e daqui a uma hora e meia já esqueceu.

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