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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'CQC' levantou Bolsonaro mas também a Palmirinha, diz Marco Luque

Humorista admite que não conhecia o atual presidente antes do programa, mas retira peso da atração pelo resultado da eleição

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Retrato do humorista Marco Luque em seu escritório na zona sul de SP

Retrato do humorista Marco Luque em seu escritório na zona sul de SP Bruno Santos/Folhapress

Enquanto retoca a maquiagem para fotos e retira do rosto sobras de pele que caem por conta do peeling [tratamento de descamação] que fez recentemente, o humorista Marco Luque, 45, encara o mapa do Brasil fixado a uma parede de seu escritório.

Entre Pelotas (RS) e Belém (PA), há quase uma centena de alfinetes espalhados por todos os municípios onde já se apresentou.

Embora haja mais por vir —o comediante estreou a temporada do seu novo espetáculo, "Todos Por Um", no Teatro Frei Caneca, em SP, na quinta (1º)— ele contabiliza cerca de 1.300 apresentações na carreira. 

O auge chegou no início da década: "Era show sexta, sábado, domingo e sessão extra. Solteiro, molecão e trabalhava pra caramba. Então eu pegava e dava todo o dinheiro para o meu pai cuidar. Ele me dava uma mesada de R$ 5 mil".

"Ia gastar com o quê? O show acabava e o produtor arrumava um camarote para a gente ir na balada da cidade sem pagar nada. E aí eu consegui juntar uma grana legal. Foram uns quatro ou cinco anos fazendo um pé de meia", conta Luque.

Aproveitou o boom da carreira para comprar uma casa na zona sul paulistana e transformá-la em estúdio de trabalho. O que era quarto virou sala de reunião, o que poderia ser uma dispensa se tornou um depósito de perucas e trajes dos personagens que interpreta nos palcos, e o que era sala de estar virou gabinete, onde a entrevista foi feita.

Cada reforma realizada na casa, marcação de data na agenda ou mera vírgula fora do lugar nos textos apresentados são sempre observados de perto pelo pai, João. "Antes, a família toda andava meio preocupada com ele", diz Luque.

"Ele vivia de aposentadoria, estava meio perrengão, com o olhinho velho, um furo no assoalho. E pô, ninguém vai contratar um cara de 60 anos para trabalhar, entendeu? É muito mais difícil."

"Meu pai foi secretário do prefeito de Itanhaém (SP), trabalhou numa tesouraria por uns 18 anos. É um cara que está sempre com um grampeadorzinho no bolso para grampear um papel, sabe?"

"Perguntei: 'Topa viajar pelo Brasil?'. Desde lá, ele perdeu só dois shows. Rejuvenesceu uns 10 anos, fez tatuagem, começou a usar cabecinha raspada."

Alguns anos antes, Luque havia aberto mão do sonho que o pai tinha para o filho: jogar futebol profissional.

Atacante, iniciou a carreira no Santo André e embarcou à Espanha para jogar na segunda divisão de uma das principais ligas do mundo.

"Foi uma fase bem solitária. Não era o que eu queria fazer. Gostava era de desenhar. Resolvi voltar para terminar a faculdade de artes plásticas."

Rumou para a comédia após fazer bicos de palhaço em feirões e se apresentar em bares. Fez parte do grupo "Terça Insana" nos teatros, e dali foi à bancada do "CQC", na Band.

Uma das perguntas que mais responde a respeito do humorístico é sobre a visibilidade dada pelo programa ao então deputado federal Jair Bolsonaro.

"Acho que a gente mostrou o Bolsonaro. Assim como levantamos a Palmirinha também. Antes do programa, eu não conhecia ele. Mas o 'CQC' não tem culpa de Bolsonaro ser hoje o nosso presidente."

"Acho que [ele foi eleito] muito mais pelo desespero da população em querer mudar o quadro, em querer ser diferente", diz, antes de recorrer às duas assessoras ao seu lado: "Pode falar dessas coisas?".

Sinal verde concedido, e a "revolta do povo" volta a ser citada quando faz referência ao comediante e deputado Tiririca: "Ninguém votou nele achando que ele ia fazer alguma coisa foda. Não, né, cara?!".

"O Tiririca perdeu a chance de chegar lá e falar: 'Ó, não vou aceitar porque não tenho preparo para ser político, mas gostei de ver que o país está se mostrando revoltado com o quadro atual'".

Luque deixou o "CQC" em 2015, quando a Band encerrou o programa. "Durou oito anos. É um tempo bom. Mas foi por uma queda do Ibope mesmo. O segundo time não era tão legal quanto a primeira formação. Algumas contratações eu não entendi muito bem, mas não vou entrar nessa pauta."

Quando o fim virou notícia, o apresentador Serginho Groisman telefonou: "Luque, eu não sei como, não sei o formato, mas eu quero você trabalhando comigo", disse.

Hoje, o humorista está no ar também como Patropi na "Escolinha do Professor Raimundo".

"É uma turma muito foda, né? Adnet, Lucio Mauro Filho, Evandro Mesquita, [Dani] Calabresa, Rodrigo Sant'Anna, Mateus Solano, [Leandro] Hassum, Marcius Melhem. Porra, acho que é o grupo mais legal. Marcos Veras então, fantástico!"

Embora tenha sido lançada em homenagem aos 25 anos da série original, a nova "Escolinha" já está na quinta temporada. "O humor de antigamente, hoje, não caberia mais", afirma.

"Por exemplo, os quadros do Chico Anysio, os próprios 'Trapalhões'. Eles faziam muita piada com o Mussum por ser afrodescendente, sabe?"

A "Escolinha" até mudará um de seus quadros. Segundo ele, o hábito de Capitu, interpretada pela atriz Ellen Rocche, de apagar a lousa de costas para o restante da turma enquanto rebola com sua saia curta será eliminado.

Mesmo orgulhoso, Luque não acostuma as filhas Isadora, 8, e Mel, 6, a acompanharem o que ele faz na TV.

"Papai, a gente também é famosa?", questionaram elas dias atrás. Nem quer que sejam, por enquanto. "Que elas tenham uma vida normal enquanto puderem."

Separado da jornalista Flavia Vitorino, vê as filhas às segundas, quartas e em finais de semana alternados.

"Antes de dormir, ensino elas a agradecer. Eu rezo: 'Papai do céu, muito obrigado pela minha vida, pela nossa comida, pelo meu trabalho, pelas minhas filhas. Amém.'"

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