Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Me ouviram', diz Martinho da Vila sobre Carnaval que estava 'chato', mas agora mudou

Cantor elogia posicionamento das escolas, com enredos que mandam 'uma mensagem'

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A coluna chega na concentração da Sapucaí para tirar um retrato de Martinho da Vila, 82, com sua filha Mart’nália, 54, mas só encontra ela. Em minutos, os dois desfilariam pela Unidos da Vila Isabel, escola da qual Martinho faz parte há mais de 50 anos e é presidente de honra.

Questionada sobre o paradeiro do pai, a cantora dá de ombros. Mas não iriam desfilar lado a lado? "Deus me livre!", diz, rindo. "Ele nem é da bateria, ia fazer o que aqui? Vai lá na frente.”

O sambista chega logo depois com a mulher, Cleo. Enquanto isso, os diretores da escola começam a gritar para apressar a organização dos foliões. "Antes de entrar é sempre assim, um pouco tenso. Mesmo pra mim, depois de tantos carnavais. Só fico tranquilo depois que piso na avenida. E quando faço shows é a mesma coisa.”

Há três anos, quando deu uma entrevista para a coluna, Martinho dizia que estava desanimado com os desfiles porque as escolas estavam todas muito parecidas, e o Carnaval, chato. "Mas isso já mudou bastante, acho que me ouviram", diz, rindo. "Porque agora todos os enredos têm um posicionamento, uma mensagem, um recado, não só contam uma história."

Pouco antes da entrevista, passava por ali o último carro da São Clemente, que fez um desfile crítico a Jair Bolsonaro, com direito a imitação do presidente pelo humorista Marcelo Adnet. Já a Vila Isabel se baseou numa lenda indígena para falar sobre a construção de Brasília.

Ligado ao movimento negro, Martinho prefere não comentar sobre a atuação do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que se diz um "negro de direita" e já proferiu ofensas racistas. "Eu não quero falar disso hoje, no Carnaval", diz ele. "Mas as escolas estão falando".

Para a veterana Elza Soares, “é lógico” que Carnaval e política se misturam. “Tem o momento de abrir a boca, de falar. Fala no samba, fala no povo. O povo que está aberto”, disse ela, que se apresentou no camarote Rio Exxperience e foi tema do desfile da Mocidade. 

Já é madrugada quando Seu Jorge chega vestindo óculos escuro ao Camarote N1, onde foi uma das atrações —antes, o cantor se apresentou em um camarote do sambódromo de SP na sexta (21) e em um bloco com o jogador Daniel Alves no domingo (23). 

“A gente sabe muito sobre a história através dos sambas e do Carnaval”, afirma ele. “É uma festa criada do povo para o povo mesmo. Acho que dentro de tantos enredos e alegorias, discutir a política e a sociedade é inevitável. E é bom que isso ocorra.”

“Todos nós estamos em um estado de atenção para que esse discurso moral estabelecido no país hoje não se transforme numa ditadura ou numa privação de liberdade”, segue o cantor, para quem “o papel do artista hoje é buscar a beleza”. “Só a beleza que vai fazer com que a gente continue tendo a confiança das pessoas.”

com BRUNO B. SORAGGI, BRUNO FÁVERO e VICTORIA AZEVEDO, do Rio

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