Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Rainha do Copa, Camila Queiroz diz que já viveu situações difíceis, mas que não precisa se vitimizar

Baile do Copacabana Palace fala de diversidade e hotel diz que trabalha por ela ao empregar haitianos, angolanos, colombianos, venezuelanos e peruanos

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Neste ano, o tradicional baile de Carnaval do Copacabana Palace foi mais, digamos, popular. Pela primeira vez, hóspedes do hotel, e não apenas celebridades e convidados, puderam participar da festa. Talvez por isso as celebridades praticamente desapareceram dela.

Uma girafa de três metros de altura, muito requisitada para selfies, dava o tom do evento, relata a repórter Ana Luiza Albuquerque. A organização fez do hotel uma floresta para ilustrar a diversidade e a pluralidade representadas no tema deste ano: abra suas asas. O mote, segundo texto distribuído à imprensa, significa abrir a mente para o novo e respeitar as pessoas, independente de orientação sexual, gênero, raça ou religião.

Nesta edição, a coroa de rainha do baile ficou com a atriz Camila Queiroz, 26, alçada à fama após interpretar Angel, uma prostituta de luxo, em uma novela global. Foco das atenções, ela recebeu a imprensa em um dos camarotes do salão, após tomar um copo d'água —mineral e sem geosmina. 

Camila disse que está muito feliz em emprestar sua imagem para tratar do tema da diversidade. "[Quero] que eu possa conseguir chegar em alguém com essa mensagem, de que a gente tem direito de ser o que é", afirmou.

Quando o assunto enveredou para o papel do presidente Jair Bolsonaro no que diz respeito aos direitos das minorias, a atriz seguiu o script e respondeu que não queria falar sobre política. Ela afirmou, ainda assim, que "a gente tem que dar voz para a minoria, porque ela existe e precisa da nossa atenção".

Camila, nascida no interior de São Paulo, disse que veio "de um lugar considerado minoria" —e que sempre estudou em escola municipal. 

"Eu já tive [que lidar com] questões da minoria, mas não preciso ficar falando disso para me vitimizar."

A decoração fez sucesso entre os convidados, que disputavam os melhores lugares para fazer a selfie perfeita. No lobby, uma fila se formou para tirar uma foto nas escadas, em frente a uma planta artificial com estampa animal. 

Finalmente chegou a vez de dois homens de meia-idade fantasiados. "Pô, cara, vamo", reclamou um deles, impaciente, puxando o outro pelo braço. O amigo se distraiu ao tirar uma série de selfies e quase fez com que perdessem o lugar. 

No andar de cima, a sensação era uma enorme girafa que se movia e abaixava a cabeça para posar para fotos com quem passava. Quem via de primeira poderia pensar que se tratava de uma máquina, mas logo se percebia que havia uma pessoa por baixo da fantasia. Ela ficou lá por horas, em cima de duas pernas-de-pau, divertindo os convidados.

O salão tinha imponentes colunas decoradas com estampas de pavão, zebra e oncinha, enquanto ao fundo havia um painel com grandes borboletas pintadas. O som do ambiente imitava o de uma floresta. 

A modelo Yasmin Brunet, 31, ficou contente ao ser informada de que os animais da decoração representavam um conceito maior de defesa da diversidade. "Não sabia que era tudo isso, eu juro. Achei que era bem literal. Mais legal ainda."

Usando um longo vestido dourado, ela foi simpática e mudou de posição a toda hora para atender aos pedidos dos fotógrafos, que buscavam o melhor cenário para as imagens. 

Segurando a enorme cauda de seu vestido, disse que o respeito às diferenças é o tema mais importante de qualquer momento político.

Questionada se os direitos das minorias estão mais ameaçados no governo Bolsonaro, a modelo riu e afirmou, um tanto constrangida: "Cara, não tem o que responder. É óbvio que está mais ameaçado."

A diretora do Copacabana Palace, Andréa Natal, discorda que esses direitos estejam em perigo. "Muito pelo contrário, acho que tem sido muito falado, e cada vez mais as novas gerações estão respeitando [as diferenças]", disse.

E o que o hotel faz para abraçar a diversidade? "A gente tem 12 nacionalidades diferentes trabalhando para a gente. Tem do Haiti, Angola, Colômbia, Venezuela, Peru. Uma diversidade muito grande. Aqui no hotel a gente é uma zona neutra", afirmou.

Com um chamativo vestido dourado e uma gola alta, que lembrava as vestimentas de uma rainha da Renascença, Andréa saiu em desfile com a banda, tocando um pandeiro. Ao chegar às grades onde curiosos que não foram convidados para o baile se aglomeravam, foi recebida com "uhuuu" e parou para tirar fotos.

A atriz Leticia Lima, ex-Porta dos Fundos, condenou o ataque com coquetéis molotov contra a sede do grupo, levado a cabo no mês passado. 

"Eu não faço o Porta há muitos anos, mas nada justifica a violência. Acho que assusta qualquer um que existam pessoas assim, que cometam atos de violência tão grandes", disse. Ela afirmou que o momento político é muito complicado, de retrocesso do governo, e que o tema do baile é o mais oportuno. 

Sobre as dificuldades de lidar com temas sensíveis ao fazer humor, a atriz respondeu: "Acho que o humor está diferente hoje, porque tudo está evoluindo. É uma linha muito tênue, do que é piada e do que não é. Tem que tomar cuidado mesmo".

O comediante Marcos Veras também diz enxergar uma evolução quanto à aceitação das diferenças, e disse que Bolsonaro vai acabar sozinho em sua luta. "Acho que o discurso dele é patético, ruim para o futuro, nada progressista."

O ator disse que vê nas ruas, nas redes, e em conversas com amigos, um movimento contrário ao do presidente. "Um exemplo é o Carnaval da Sapucaí, sem dinheiro, e a grande maioria dos sambas tem um tom crítico a esse tipo de discurso [preconceituoso]", afirmou.

Para o comediante, o movimento da sociedade é mais forte do que aquilo que enxerga como as "falácias" de Bolsonaro. "Uma hora a casa vai cair. Ele vai se enrolar com as próprias pernas."

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