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'Bolsonaro é um cara que chora e se sente sozinho', diz Antonia Fontenelle

Apresentadora não descarta ser candidata e diz que é preciso cancelar a ignorância dos 'juízes' da internet

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Antonia Fontenelle fantasiada de Anita Garibaldi na concentração da Escola de Samba da Gaviões da Fiel, em São Paulo

Antonia Fontenelle fantasiada de Anita Garibaldi na concentração da Escola de Samba da Gaviões da Fiel, em São Paulo Mathilde Missioneiro/Folhapress

Era 2017 quando o apresentador Gugu Liberato foi à casa da atriz e apresentadora Antonia Fontenelle, 45, para entrevistá-la sobre a sua relação com o ator e diretor Marcos Paulo, que morreu em 2012. “Ele se mostrou indignado com a minha situação”, conta Antonia.

Na época, ela brigava na Justiça para receber parte da herança do ex-global, com quem morou junto e manteve união estável de 2006 a 2012. Em 2019, a apresentadora ganhou o processo que movia contra as três filhas do ex-marido e obteve o reconhecimento à sua parte do espólio. 

“Quando saiu a notícia [de que Gugu não relacionou em seu testamento a médica Rose Miriam Di Matteo, mãe dos três filhos dele], eu falei: ‘Ele jamais faria isso’. Mas fez. Ou por descuido ou porque achava que a família dele ia proteger a mulher”, diz a apresentadora, que atualmente mantém contato com Rose.

“Falei: ‘Como você permitiu isso, Rose?’. Ela: ‘A gente não imagina que uma pessoa do nada vai cair e morrer’ [o apresentador morreu aos 60 anos após sofrer uma queda em sua casa, no fim do ano passado]. O Gugu era jovem. A vida inteira resolvia os problemas [dela].”

“Eu nunca fui mulher de ter marido que resolvesse os meus problemas”, diz a apresentadora. “Agora ela [Rose] está sem saber o que fazer. Com a mãe do Gugu contra, o que não aconteceu comigo. O Vicente, pai do Marcos Paulo, comprou a minha briga. Isso foi fundamental para a opinião pública, para o Judiciário.”

“E eu não tinha filhos com o Marcos para ter medo de perdê-los. Então, a situação dela é muito delicada”, emenda. “Detalhe: essa briga da família do Marcos Paulo comigo não chega a R$ 100 milhões. O Gugu a gente fala de coisa próxima de R$ 1 bilhão”, diz.

Antonia falou com a coluna no vaivém de empilhadeiras, passistas e carnavalescos na concentração das escolas de samba no Anhembi, em São Paulo, na madrugada de domingo (23). Trajava uma peruca preta e um chapéu que compunham a fantasia de Anita Garibaldi com a qual desfilou pela Gaviões da Fiel. No dia seguinte, sambou pela Grande Rio, na Sapucaí, neste que ela diz ter sido seu último Carnaval. “Acho importante saber a hora de parar. Vou fazer 46 anos.”

Ela faz uma relação entre si própria e a italiana que participou da Revolução Farroupilha. “Tenho opinião firme. Então acho que liga, né? Mulheres corajosas, fortes. Vim do sertão do Piauí [ela nasceu no Distrito Federal, mas foi criada naquele estado por uma mãe adotiva] e conquistei o meu espaço. Estou conquistando ainda”, compara.

“Sou uma mulher que as pessoas veem como polêmica por falar o que pensa”, diz ela, que atualmente mantém no YouTube o canal Na Lata, com mais de 1,7 milhão de inscritos e para o qual entrevista figuras da direita do espectro político, como Jair e Eduardo Bolsonaro, o senador Major Olímpio e a ministra Damares Alves  —de quem ela diz ter mostrado “o outro lado”. “A Damares foi dar uma palestra em Boston e falou: ‘Desde que dei uma entrevista para um canal chamado Na Lata, nunca mais fui atacada’. Isso é muito legal”, afirma.

Antonia lembra que “não estava nem aí para a política” até o nascimento do seu filho mais novo, Salvatore, que hoje tem três anos. “Falei: ‘Lascou’. Em que país essas crianças vão crescer? Aí fui me aprofundar”, conta. “A gente está tão cansada de ser assaltada, ser roubada. O povo brasileiro é muito passivo nesse sentido. Não tem saco pra acompanhar essa azia que é a política. E aí eles [políticos] deitam e rolam em cima da gente”, diz.

Diante de tudo isso, decidiu: “Vou apoiar esse cara”. Antonia votou em Bolsonaro para a Presidência da República. “Ele tem aquele jeito temperamental, às vezes acho que ele não está nem aí para a liturgia que o cargo pede, né? Se irrita e fala coisas que um presidente, pelo protocolo, não deveria falar. Mas ele está trabalhando. Tá mostrando ser um cara honesto, né?”

Ela, porém, diz não concordar com todas as decisões do presidente. Uma discordância recente foi a indicação da atriz Regina Duarte para a Secretaria Especial da Cultura. “Eu me encontrei com ela [Regina] no casamento da [deputada] Carla Zambelli [em fevereiro]. Falei: ‘É uma pasta tão complicada, o buraco é tão mais embaixo, acho que não é pra você’. Não é pessoal, é a minha opinião. Estou doida para ela provar o contrário”, diz.

Como a atriz recebeu o comentário? “Ela falou: ‘Eu sei, Antonia. Entendo’. E logo desconversou. Tinha muita gente em cima, a primeira-dama [Michelle Bolsonaro] estava com a gente também. A Regina foi de uma gentileza incrível. Disse: ‘Gente, essa que é uma grande apresentadora. Adoro ver as entrevistas dela’ [referindo-se a Antonia]’”, lembra. 

“Ela [Regina] é uma mulher de 73 anos. Sabe o que viu lá e entendeu o que eu quis dizer. Não sei se é porque eu já estou com 45 querendo paz, aí penso que uma mulher de 70 também queira, né? E é tudo o que ela não vai ter: paz.” 

Antonia é veemente contra a postura do ator Zé de Abreu ao criticar Regina. “Acho o Zé de Abreu um desserviço”, diz ela. “É um cara que cospe em mulher [o ator foi filmado cuspindo em um casal em um restaurante em 2016, o que depois ele disse ter sido um “ato impensado”], que se veste de presidente da República e vai debochar do outro. É um cara nojento”, emenda. 

“Ele [Abreu] faz o diabo e a Globo passa a mão na cabeça dele. O Zé Mayer, por muito menos, rodou feio. E ele [Mayer] dava muito mais resultado para a casa”, conclui ela.  

“Acho que por falar [esse tipo de coisa] é que faz de mim polêmica, entende? Não sou de ficar em cima do muro”, diz. “[Também o] fato de eu ter me colocado em relação ao Marcos Paulo, me beneficiado como esposa, de terem querido me transformar em uma putinha dele e eu não ter deixado.”

Ela diz defender o direito das mulheres. Exemplifica isso lembrando de uma foto que postou seminua em uma rede social. “Um monte de mulher veio me atacar. Falei: ‘Fiz isso pra mostrar que uma mulher de 45 anos pode ter esse corpo. E quero que se lembrem que sou aquela que briga por vocês quando apanham dos machos de vocês’.” 

Antonia diz que não acompanhou o insulto de conotação sexual feito por Bolsonaro à repórter da Folha Patrícia Campos Mello. “Se ele falou ‘dar o furo’, foi de mau gosto, né? Uma pena.” 

“Tenho certeza que [ele] depois deve pensar, como sei que o Paulo Guedes se arrependeu muito do comentário que fez em relação às domésticas [irem à Disney]. Ele deve ter pensado ‘não deveria ter falado isso’. Mas falou”, diz.

“Não tenho intimidade com ele [Bolsonaro] de conversar essas coisas. Por conhecer o pouco que o conheço, ele é um cara que chora”, diz ela. “Que se sente sozinho. Porque o povo elegeu, mas a Casa não recebe ele. Esse sentimento de exclusão não é legal pra ninguém quando a vontade dele é de melhorar o país.”

“Uma vez que me deu muito dó foi quando ligaram ele ao caso Marielle [Franco]”, afirma Antonia, citando o caso do porteiro que mencionou o nome do presidente no inquérito sobre o assassinato da vereadora carioca. “Achei uma sujeira danada, porque a gente sabe que não tem nada a ver. E acho que quem 
levantou essa lebre também sabe”, conta.

A apresentadora revela ter recebido convites de partidos para concorrer nas eleições deste ano e em próximas. “Um me chama para ser vereadora, o outro, para ser deputada. Me chamaram até para ser vice de um prefeito que não vou dizer o nome”, conta. 

“Não descarto, mas só quando eu estiver pronta. Não sei roubar, não vou fazer aliança com o demônio. Diante disso, pelo que conheço, não dá pra fazer carreira na política”, afirma. “É aquela coisa: tenho três milhões de seguidores, um canal que está dando certo, sou meio conservadora, meio liberal. Metade de mim não condena ninguém, a outra metade impõe respeito. É um prato cheio para eles.”

Antonia critica a cultura do “cancelamento”, termo usado para descrever o boicote a indivíduos e instituições por conta de opiniões ou atitudes. Um exemplo recente foram as críticas à atriz Alessandra Negrini por ter se fantasiado de índia no Carnaval.

“As pessoas estão muito chatas”, diz ela. “O outro pegou uma retroescavadeira e foi lá matar policiais. Tomou tiro. Claro!”, diz ela, referindo-se ao senador licenciado Cid Gomes, baleado ao avançar com um trator sobre policiais amotinados no Ceará

“Tem que estar preocupado com o que de fato é preocupante. Vai se preocupar com o seu extrato [bancário], com o que você pode fazer pra melhorar a vida”, diz. “É muito juiz. A internet empoderou essas pessoas, que antes não tinham alcance e agora falam tudo. Tinham que cancelar a ignorância delas, entendeu?”

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