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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Se o povo não pedir, o Exército não vai fazer nada', diz Sérgio Reis

Isolado em sua casa, em São Paulo, o cantor sertanejo diz temer o contágio pelo novo coronavírus, critica a relação de cantores com bebidas alcoólicas, elogia Bolsonaro e diz que a esquerda 'está tomando conta'

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Em seus quase 80 anos de existência, Sérgio Reis diz nunca ter temido tanto pela própria vida quanto nesta pandemia. Sua oitava década será completada na véspera do dia de São João, em junho deste ano. “Vou soltar foguete se eu estiver vivo até lá”, diz.

Ele está isolado em sua casa na serra da Cantareira, na zona norte de SP, desde a chegada do vírus ao Brasil. Além da idade, o diagnóstico de diabetes e seu histórico com problemas cardíacos o colocam no grupo de risco da Covid-19.

Sergio Reis
O cantor Sérgio Reis - Sérgio Reis no Instagram

“Nós não pensamos que poderíamos passar por uma fatalidade dessas. É uma tristeza. Quantas pessoas já morreram, quantos pais não perderam os filhos, quantos filhos não perderam os pais? Avós, esposas. É muito triste”, diz.

Proprietário de um terreno que tem quase 2.500 metros quadrados de área verde, ele passa os dias na companhia da esposa, Angela, e de seus cães, Mike, Meg, Alvinho e Fred.

Pela manhã, costuma oferecer frutas para os saguis e pássaros que perambulam no entorno de sua residência e toma chimarrão com dois limões espremidos. “[Assim] eu crio anticorpos”, explica ele, que reforça seu almoço com cinco dentes de alho crus.

“Não posso sair daqui, mas a minha casa é uma maravilha. É [como] estar numa colônia de férias. Estou pensando numa família que mora num apartamento de dois quartos, sala e cozinha e fica todo mundo confinado”, diz Sérgio, que é vizinho dos músicos Renato Teixeira e Almir Sater, os quais não tem visto.

“A gente fica quieto aqui. Eu não quero perder a minha esposa, ela não quer perder o maridão dela, esse bonitão aqui”, brinca.

No dia 26 de abril, a live de Sérgio Reis foi assistida por mais de 1,2 milhão de espectadores no YouTube. Dos ganhos que teve com patrocínios, distribuiu a cada um de seus 15 músicos e colaboradores a quantia de R$ 3 mil. Eles acompanhariam Sérgio nos nove shows previstos para abril, todos cancelados por causa da crise sanitária.

“Os velhos têm que ficar em casa. Os mais jovens têm que ficar, se não precisar trabalhar. Se precisar trabalhar pra comer, tem que se virar. O que ele vai fazer, vai roubar?”, afirma.

“Aqui nós estamos numa democracia, cada um tem o direito de escolher o seu destino. Se ele acha que não vai pegar, que saia e vá trabalhar e vá se defender. Se pegar, corre para o Pacaembu”, diz, em referência ao hospital de campanha construído pela Prefeitura de São Paulo.

Deputado federal de um só mandato eleito em 2014 pelo PRB, Sérgio Reis é hoje apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a quem diz ter conhecido nos tempos de Câmara. “A gente assistia o jogo do Palmeiras juntos, porque ele é palmeirense como eu”, relembra.

“Ele começou a campanha dele e eu falava: ‘Bolsonaro, fala pra mim onde você vai fazer a campanha que eu tenho amigos no Brasil todo. Se você precisar de um avião, eu te consigo; se você precisar de caminhonete, eu consigo’.”

“Sabe o que ele falava para mim?”, segue. “‘Sérgio, não quero nada de ninguém. Se eu tiver que ganhar, eu ganho sozinho, porque depois eu não quero que ninguém venha bater no meu ombro falando ‘eu te ajudei lá, te emprestei avião e caminhão’. Eu não quero isso, eu quero ganhar como o povo acha que tem que ser’. Foi uma vitória brilhante”, afirma o cantor.

Em março deste ano, Sérgio divulgou um vídeo no qual convocava a população às ruas no dia 15. “Chegou a hora da gente mostrar o amor que nós temos pela nossa pátria, o respeito que nós temos pelo nosso presidente Bolsonaro e a vergonha que nós temos desse Supremo [Tribunal Federal], desses nossos políticos lá em cima. Temos que tirar essa raça de lá, é uma raça”, disse.

À época, o princípio da escalada do coronavírus no país colocou em dúvida a realização dos atos, e Bolsonaro chegou a fazer um pronunciamento em cadeia nacional pedindo cautela. No dia 15 de março, no entanto, o presidente participou de manifestação em Brasília. O evento contou com palavras de ordem contra o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal), proferidas pelos manifestantes.

“Esquece a política, se ponha no lugar do Bolsonaro”, diz o sertanejo. “Esse homem não dorme mais, pelo amor de Deus. É um cargo muito pesado, tem que ser capitão do Exército para aguentar. E se o povo não sair na rua pedindo Exército na rua, o Exército não vai fazer nada. A esquerda já está tomando conta”, afirma.

Sérgio Reis estende suas críticas à imprensa e à Folha. “Não sei quem são os diretores desse jornal, quem é seu chefe, ele deve ser esquerdinha, deve ser PT, deve ser comunista para não gostar do Bolsonaro”, diz à repórter. “Ser contra um presidente que está consertando o país ou é burro, ou é petista.”

Em 1964, ano em que foi deflagrado o golpe militar no Brasil, o cantor tinha 24 anos de idade. “Não tive problema nenhum. Eu era apolítico, eu não ficava fazendo guerra, guerrilha, nada. Eu trabalhava, ia fazer show e cantava”, diz.

“Não tivemos ditadura, não tivemos ditador no Brasil”, segue. “Chico Buarque, Caetano [Veloso], [Gilberto] Gil, eram todos da esquerda. O governo, para não mexer com eles, que eram famosos na época, falou: ‘Sai do país, vai ficar lá fora, depois vocês voltam’. Depois voltaram. O Gil chegou a ser ministro da Cultura.”

Em abril de 2016, Sérgio Reis foi o 195º “sim” para o prosseguimento do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). “Não é possível que nós tenhamos 10 milhões de desempregados, o povo morrendo nos hospitais e ninguém faz nada. Meu voto é sim”, disse na ocasião.

“Não podiam ficar mais lá, já acabaram com o país”, afirma ao relembrar o episódio.

Apesar de seus posicionamentos contrários à ideologia ligada à esquerda e aos governos petistas, Sérgio Reis conta que costumava deixar as diferenças políticas de lado para discutir propostas para a saúde.

“A Benedita da Silva (PT-RJ), que trabalha demais, é uma deputada excepcional, apesar de ser lá da esquerda, do PT e tudo mais. Nossa, o que aquela mulher trabalha, fiquei impressionado com ela”, diz.

Foi nessa época que conheceu o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que foi exonerado em meio à crise do coronavírus. Sérgio Reis diz ter sugerido seu nome para o governo.

“Queriam o Henrique Prata, que é o presidente do Hospital de Amor. Eu falei: ‘Henrique, não vai, pelo amor de Deus. Você vai parar os nossos hospitais’”, explica.

Autor do clássico sertanejo “Pinga Ni Mim”, Sérgio afirma ter uma relação comedida com o álcool desde a juventude. “A cachaça não combina com ninguém. Ela acaba”, diz. Ele critica cantores que aparentaram embriaguez durante suas lives nesta quarentena. “O Bruno [da dupla Bruno e Marrone] foi cantar e ficou bêbado. O Gusttavo Lima falou um monte de bobagem.”

“Ele está na casa dele e acha que pode tudo. Faltou um pouco de orientação pra ele, né? Que ele é um menino bom. Gusttavo Lima é uma beleza de pessoa, todos eles. É uma pena que o Bruno bebeu, não sei que diabo. Vou pegar na orelha deles qualquer hora e falar: ‘Precisa beber, ô, idiota?’”, diz, rindo.

E é cantarolando uma música que ele descreve a chegada aos 60 anos de carreira. “Tô ficando velho, tô ficando fraco/Já não sou o mesmo, tô virado em caco/Tô mais encolhido do que gato em saco/Fui madeira boa que virou cavaco.”

“O tempo foi passando, eu fui vivendo, fui trabalhando. Trabalho até hoje. Tenho saúde, graças a Deus, me cuido, e eu tenho certeza que vou durar bem mais. Tomara que esse vírus não me pegue, porque se pegar, é mortal”, diz. “Mas Deus tem que olhar por mim. Eu não faço mal a ninguém, sempre cuidei dos meus amigos, nunca abandonei ninguém. Nunca, nunca, nunca.”

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