Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo

'Quem não causa, amor, passa em branco', diz Leo Dias

Jornalista que declarou guerra a Anitta diz que fofoca torna as pessoas mais inteligentes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Leo Dias atende o telefone. “Oi! Tô dando entrevista”, diz o jornalista à pessoa do outro lado da linha. “Tá dando merda! Pega dinheiro emprestado para eu pagar a Justiça, por favor? Tchau! [risos]”, brinca ele.

São 10h de domingo (31), e o carioca de 45 anos de idade se ajeita em frente ao computador pelo qual fala com a coluna, por vídeo, de sua casa em Botafogo, no Rio.

“Adoro causar”, afirma Leo quando encerra a ligação e volta à conversa. “A minha vida é isso, tá vendo?”, diz, exibindo o celular.

“Em média, recebo 2.000 mensagens por dia. A maioria é me xingando, xingando a minha mãe. Algumas dizendo que me adoram. E uma ou outra tem notícia”, conta ele, que há 25 anos ganha a vida tornando pública a intimidade de celebridades.

“Mas quando vem a notícia, meu querido... É foda! Aí vale a pena ouvir o xingamento da minha mãe, que graças a Deus não acessa a internet. O que os meus pais sofreriam se lessem o que escrevem de mim!”

Leo foi um dos principais assuntos da internet brasileira na última semana de maio, quando travou uma guerra de fofocas e acusações com a cantora Anitta. O jornalista divulgou registros de conversas em que a artista de 27 anos o abastece com informações sobre traições e picuinhas no mundo dos famosos.

Exemplos: os áudios em que Anitta aponta a atriz Marina Ruy Barbosa como o motivo da separação dos atores José Loreto e Débora Nascimento e no qual a cantora diz que Preta Gil a desencorajou de participar de um DVD de Claudia Leitte para não desagradar Ivete Sangalo.

Segundo ele, a suposta rixa entre Anitta e Marina poderia ser explicada por disputas de cachê no mercado publicitário.

“Quando eu falei que a Anitta ‘deu’ pra rádio FM O Dia inteira, a minha irmã, que é feminista, teve um ataque. Gritava comigo no telefone. Bloqueei ela”, conta o jornalista. Ele foi criticado por quem viu nas postagens de cunho sexual uma tentativa de atribuir promiscuidade à artista e, assim, desmoralizá-la.

Toda essa exposição, argumenta Leo, foi “uma questão de sobrevivência”. “Era ela [Anitta] ou eu. Precisava me defender”, afirma. “Ou eu expunha aqueles áudios ou a minha reputação ia para o lixo.”

Tudo começou quando o jornalista divulgou que a mãe da cantora, Miriam Macedo, saiu da casa da filha na nobre Barra da Tijuca para voltar a viver no suburbano bairro de Honório Gurgel, onde a funkeira foi criada. Segundo ele, isso ocorreu por Miriam não concordar com a “vida louca” da artista.

Anitta e a mãe desmentiram a informação. Leo se ofendeu por ter sido desacreditado e atacou a cantora. Ela então publicou vídeos nos quais disse que há anos vem sendo chantageada pelo jornalista, e que atuou como fonte dele por medo de ele prejudicar a carreira dela.

“Era uma história tão irrelevante”, diz Leo sobre o estopim da crise. “[Mas] ela [Anitta] falou que eu chantageei ela. Chantagem é crime! Ela me chamou de criminoso! Jamais fiz isso com ninguém!”, alega o jornalista. “Pode falar que sou drogado, porque eu sou dependente químico”, diz ele, que usa cocaína desde 2001. “Agora, não vem me chamar de mentiroso. Eu não minto!”

A rusga levou Anitta a processar Leo. A Justiça proibiu o jornalista de citar o nome da cantora. “A preocupação dela é que eu cale a boca”, diz ele. “Ela sabe que estou falando a verdade.”

“Lamento que os fãs dela percam tanto tempo idolatrando ela em vez de estudar, ler um livro. Não o livro da Anitta, tá? Um livro melhor [risos]”, afirma, caçoando da biografia “Furacão Anitta”, que ele mesmo escreveu —a obra, segundo o jornalista, foi um acordo no qual a cantora tinha que aprovar tudo. “Não que o livro seja mentira. É a verdade contada por Anitta.” Mas ele diz “nunca” ter sido amigo dela.

Leo diz que conhecidos o alertaram de que o vazamento de conversas entre ele e Anitta faria com que outras celebridades parassem de lhe contar coisas. “Você acha que a Deborah Secco me conta da vida da Juliana Paes? Não!”, diz ele. “Quem sempre usou a vida dos outros foi a Anitta. Eu não perdi nada!”

“Se eu começar a citar os nomes que odeiam a Anitta, amor, essa entrevista não acaba hoje.”

A conversa de Leo com a coluna se deu após idas e vindas. O jornalista não atendeu a reportagem para uma entrevista marcada para a sexta (29). No sábado (30) à noite, ele enviou um texto no qual diz que o seu “maior erro foi ter virado notícia”. “Passei pela semana mais turbulenta da minha vida profissional”, escreveu ele, referindo-se à crise com a cantora.

“Tenho muito mais coisa [guardada sobre Anitta], mas prometo que não vou usar. Aliás, nem quero. Essa história está encerrada. Acho até que passei dos limites na hora da raiva”, diz ele no texto. “Saio dessa história arrasado, triste, decepcionado comigo mesmo. Como fui tão inocente? O cara mais ‘temido’ do país caiu na lábia de uma ‘mina louca’. Eu que me achava tão esperto…”, segue a mensagem.

Após insistência, Leo aceitou dar a entrevista aqui publicada. “Eu não estava bem esse tempo todo.”

“O meu empresário mandou a minha faxineira vir aqui porque ele tinha certeza que eu tinha morrido [risos]”, conta Leo, que ficou “sumido” por alguns dias depois do auge da briga. “Dormi dois dias seguidos. Sem remédio. Acho que foi de tristeza”, diz. “Não usei tanta droga, não.”

“Todo mundo tinha certeza que eu ia morrer de overdose. Até a Anitta! Mas não foi dessa vez, amor”, brinca.

“Sempre fui acelerado”, conta Leo. “Quando eu era criança, arrancava os dedos dos bonecos da minha irmã, de tão nervoso que era. Leonardo Antônio Lima Dias é filho de uma dona de casa e de um ex-policial militar. “Eu era bem fragilzinho, bem veado”, conta ele. “Meu pai sofreu. Ele é muito católico. Ele entendeu que era a cruz dele”, afirma. “[Mas] não é só porque eu sou gay drogado que sou filho renegado, não. Acho até que eles têm orgulho de mim”, diz.

Leo começou no jornalismo nos anos 1990. “Fui ao consulado de Portugal e peguei uma lista de rádios. Aí pode dizer que eu inventei. Menti dizendo que era jornalista e estava oferecendo os meus serviços como correspondente internacional no Brasil. Fui contratado por dez anos [da emissora portuguesa RDP].”

“Durante esse tempo, eu fiz a chamada ‘notícia ortodoxa’”, lembra. “Cobri a visita do papa João Paulo 2º a Havana, em Cuba. Eu estava na missa com Fidel Castro”, diz, sobre o evento ocorrido em 1998.

Ele também diz ter conseguido um furo com o ex-presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão, quando este estava preso na Indonésia. “Consegui entrevistar o Xanana. Com suborno, óbvio. Dei três camisas da seleção brasileira para funcionários do presídio, mandei as perguntas pro Xanana escritas em papel, e um gravador. Fizeram o papel chegar no Xanana, que leu as perguntas e gravou as respostas. Isso foi manchete lá em Portugal.”

Ele entrou no mundo da fofoca como redator da extinta revista Amiga. Depois, passou por outras publicações do ramo até virar colunista do jornal Extra, em 2005. “Aí decidi causar! Quem não causa, amor, passa em branco.”

“O auge do jornalismo de celebridades na época era a Caras, né? Decidi fazer o oposto. Se a Caras mostrava a Adriane Galisteu dizendo que terminou o romance com o [Roberto] Justus por problemas de agenda, eu ia lá e publicava que, na verdade, eles tinham problema na disputa pelo secador! Entendeu?” Em seguida, diz ele, passou a provocar “as pessoas mais perigosas da cidade”. “Comecei a atacar todos os bicheiros do Rio de Janeiro.”

“Já fui ameaçado pelos principais bicheiros do Rio. Acha que eu vou ter medo de artista, de funkeira suburbana? Amor, eu nasci no Méier.”

Leo, que já passou pelas revistas Chiques e Famosos e Contigo, foi colunista do Extra e do UOL e hoje está no portal Metrópoles, não vê demérito em viver de fofoca, e não “do que chamam de jornalismo fodão”. “Para mim é a mesma coisa. Aliás, ganho muito mais hoje, fazendo fofoca, do que falando sobre João Paulo 2º e Fidel Castro”, compara. “É pretensão o jornalista achar que vai mudar a história de alguma coisa.”

“Essa semana as pessoas falaram assim: ‘Você dominou o assunto no Brasil’. Hã?! Nossa, que falta de assunto que o Brasil tá, né?”, brinca. “Entendeu? Não me dou esse valor todo.”

O colunista se ajeita diante da câmera do computador. “Estou com cabelo branco. Não vou mais pegar ninguém na noite!”, diz, rindo. E volta ao papo. “Fofoca é falta do que fazer. É diversão. Mas as pessoas precisam disso. É bom falar da vida dos outros. Porque a gente desconstrói aquela imagem que as pessoas querem criar pra gente. É tão bom. [Com isso] o mundo se abre, e a gente se torna até mais inteligente.”

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.