Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo

Militares inventam guerra da Albânia contra Gilmar para desviar foco, dizem advogados

Grupo Prerrogativas compara ataque ao ministro do STF a filme em que Robert de Niro e Dustin Hoffman tentam salvar imagem de presidente dos EUA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O grupo de advogados Prerrogativas afirma que o ataque ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é uma tentativa de "desviar o real foco: o massacre de dezenas de vidas proporcionado por ausência de políticas públicas, pela delegação das nobres funções do Ministério da Saúde a militares sem expertise pela negação científica da própria pandemia".

Em nota divulgada nesta terça (14), o Prerrogativas compara a hostilidade a Gilmar ao enredo do filme "Wag the Dog" ["Mera Coincidência", no Brasil], estrelado por Robert de Niro e Dustin Hoffman.

Na película, dois homens são chamados para resolver uma crise do presidente dos Estados Unidos --que havia sido filmado em uma atitude inapropriada com uma menor de idade. "Os dois personagens, especialistas em 'limpeza', têm a seguinte ideia: inventar uma guerra contra a Albânia", diz a nota. "E então fazem uma superprodução. E o povo acredita."

"No Brasil, o governo, integrado por um expressivo número de militares, e em maus lençóis por causa da péssima gestão da crise da Covid-19, em que sequer Ministro da Saúde existe, inventou uma 'guerra contra a Albânia', para com isso desviar a atenção do fracasso e da triste marca de mais de 72 mil mortos até o presente momento", diz o grupo de advogados.

No fim de semana, Gilmar disse em um seminário virtual que o Exército, ao ocupar cargos técnicos no Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus, está se associando a um genocídio. A fala fez do magistrado alvo de ataques --o vice-presidente Hamilton Mourão cobrou nesta terça-feira um pedido de desculpas.

O ministrou divulgou nota afirmando que não atingiu a honra do Exército.

Segundo o grupo Prerrogativas, com a sua afirmação, Gilmar "botou o dedo na ferida do governo" ao dizer "que não era aceitável o vazio no comando do Ministério da Saúde e que, se o objetivo de manter um militar à frente da pasta era o de tirar o protagonismo do governo na crise, o exército estaria se associando a esse 'genocídio'".

"Por óbvio que o contexto da fala do ministro e dos demais participantes da webinar mostrava claramente que se tratava de uma hipérbole", segue a entidade.

Leia abaixo a íntegra da nota do grupo Prerrogativas:

"*NOTA PÚBLICA DO GRUPO PRERROGATIVAS EM DESAGRAVO E EM DEFESA DO MINISTRO GILMAR MENDES*

No filme Wag the Dog (no Brasil, Mera Coincidência) , dois personagens, interpretados por Robert de Niro e Dustin Hofman, são chamados para resolver uma crise no salão oval da Presidência dos Estados Unidos.
O Presidente havia sido filmado em atitude inapropriada com uma menor de idade.

Os dois personagens, especialistas em “limpeza”, têm a seguinte ideia: inventar uma guerra contra a Albânia. E então fazem uma superprodução. E o povo acredita.

No Brasil, o governo, integrado por um expressivo número de militares, e em maus lençóis por causa da péssima gestão da crise da COVID 19, em que sequer Ministro da Saúde existe, inventou uma 'guerra contra a Albânia', para com isso desviar a atenção do fracasso e da triste marca de mais de 72 mil mortos até o presente momento.

Quem botou o dedo na ferida do governo foi o Ministro do STF Gilmar Mendes, ao dizer, em webinar no último dia 11, que não era aceitável o vazio no comando do Ministério da Saúde e que, se o objetivo de manter um militar à frente da pasta era o de tirar o protagonismo do governo na crise, o exército estaria se associando a esse “genocídio”.

Semelhantes críticas já foram feitas por diversas autoridades. A palavra genocídio é uma clara hipérbole para mostrar o tamanho da crise e do descaso do governo para com dezenas de milhares de mortes, que logo chegarão à casa de uma centena de milhar. E como chamaremos a morte de mais de cem mil pessoas?

Por óbvio que o contexto da fala do Ministro e dos demais participantes da webinar mostrava claramente que se tratava de uma hipérbole, ou seja, quando mais de 70 mil pessoas são mortas deixando mais de 200 mil pessoas-familiares enlutadas, afora os efeitos econômicos da perda de arrimos, qualquer expressão se torna fraca e incapaz de demonstrar o tamanho da tragédia. Óbvio isso.

Enquanto o ex-ministro do governo, Mandetta, dizia que o ministério da saúde tinha acabado, entre outros adjetivos, as Forças Armadas decidiram atacar os mensageiros. Mais, decidiram brigar com os fatos e, para tanto, inventaram uma guerra com a Albânia, atacando o Ministro Gilmar, para, assim, insistimos, desviar o real foco: o massacre de dezenas de vidas proporcionado por ausência de políticas públicas, pela delegação das nobres funções do Ministério da Saúde a militares sem expertise e pela negação científica da própria pandemia.

A trajetória do ministro Gilmar é conhecida de todos. Sempre respeitou as instituições. Como Presidente do STF, implementou o maior programa de ressocialização de presos e denunciou os perigos de um estado policial.

Como ele mesmo afirmou em nota, 'além do espírito de solidariedade, devemos nos cercar de um juízo crítico sobre o papel atribuído às instituições no enfrentamento da maior crise sanitária e social de nosso tempo'.
Portanto, é hora de os brasileiros e as autoridades juntarem esforços para combater a crise sanitária e a crise econômica e não para vitaminar falsas polêmicas por meio da artificial construção de crises políticas, desviando os olhares da sociedade.

Seguimos. Os desafios são grandes."

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.