Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Tenho milhões de vizinhos fofoqueiros, diz a cantora Luísa Sonza

Gaúcha de 22 anos é alvo de ataques machistas após fim do casamento com Whindersson Nunes

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Luísa Sonza acha “talvez um pouco engraçado” o imenso interesse na sua intimidade. “Imagina você ter um vizinho fofoqueiro. Eu tenho, tipo, milhões de vizinhos fofoqueiros [risos]”, brinca a cantora, que aos 17 anos deixou a cidade gaúcha de Tuparendi e seus 8.000 habitantes, onde era “conhecida como a filha do César [seu pai]”, e hoje, aos 22, tem 20 milhões de seguidores em suas redes sociais —e frequentemente vira assunto na internet.

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“Sou normal como você, só que as pessoas querem muito saber sobre a minha vida, ou inventam coisas”, afirma ela. “Vivo isso há um tempo, porque represento algo maior. Não sei dizer como é sem ser assim”, segue a jovem, que diz não se deixar afetar por fake news que a envolvam. “Prefiro viver a minha verdade do que a mentira dos outros.”

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Luísa voltou a ser alvo de ataques machistas desde o término do seu casamento de dois anos com Whindersson Nunes, em abril de 2020.

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Dois meses depois do fim do relacionamento, ela lançou um clipe com o cantor Vitão, o que fez internautas especularem sobre um novo namoro, descontentou fãs de Whindersson, deu pano para manga para teorias sobre traição e gerou uma campanha massiva de avaliações negativas do vídeo no YouTube. Whindersson se manifestou contra a conduta de seus admiradores.

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Antes, ela havia sido chamada de “interesseira” por se casar com o youtuber milionário —em dezembro do ano passado, ela figurou na capa da revista “Forbes” sobre jovens talentos brasileiros e respondeu às críticas dizendo que ganhava tanto quanto o então marido. E em 2018, Luísa também sofreu hostilidades misóginas ao lançar o clipe “Rebolar”.

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“Vivi muito isso desde que eu comecei”, afirma ela, referindo-se ao machismo. “Me afetava mais no começo, quando eu não entendia o que era e pensava: ‘Será que é porque eu tenho cabelo comprido? Ou porque a minha bunda é grande? Qual é o meu problema?’” Foi então que ela mudou a forma de encarar a questão. “Vi que o problema não era eu, que seria atacada independentemente de como fosse ou me portasse”, reflete.

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“Tinha duas opções: ou entendia uma estrutura social doente ou eu ficava doente”, diz. “Atacam os artistas porque são figuras públicas. Ali você vê o reflexo de uma sociedade.”

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“Consegui entender que o problema não era eu ser atacada. Qualquer mulher que estivesse no meu lugar seria. A gente tem que pensar no macro.”

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“Não é sobre mim que estão falando. Estão usando a estrutura para falar da mulher, para colocá-la em um lugar de não merecedora, de menos inteligente, de não suficiente sem um homem —como colocaram a minha mãe, a minha avó, a minha tia."

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Luísa afirma não guardar mágoas de seus ‘haters’, termo usado para descrever pessoas que usam as redes sociais para manifestar ódio e ofensas. “Se a gente conversasse ou tomasse uma cervejinha juntos, nos daríamos muito bem [risos]”, brinca a cantora.

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“Se eu começar a xingar, a apontar o defeito do outro, não vai curar, não vai mudar o pensamento. Retribuir ódio com ódio não vai fazer ninguém evoluir”, diz. “O machismo, o racismo, a homofobia estão impregnados na gente.”

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“Antes de querer desconstruir o outro, tenho que me desconstruir. É natural que tenhamos atitudes erradas, mas quando a gente passa a olhar pra gente, começa a se corrigir. Quando a gente aprende a se desconstruir, entende que está todo mundo no mesmo barco”, segue ela.

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Entre goles de chimarrão, Luisa conversou com a coluna por videochamada de sua casa em Alphaville, em São Paulo, onde passa a quarentena com a cachorra Gisele Pinscher.

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O período de isolamento social pela Covid-19 trouxe a ela um novo hábito: “Sentar e não fazer nada”. “Eu sou workaholic, mas na quarentena aprendi que você pode parar, assistir a um filme ou tomar um vinho à noite. Não tem problema”, diz.

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“Eu estava num nível de exaustão muito grande que hoje [isolada] eu enxergo. Não dormia. Ainda durmo, no máximo, quatro horas por noite. Sentia a necessidade de estar sempre produzindo. Hoje falo: ‘Horário de almoço, vamos almoçar’. E reservo uma hora para isso.”

Na sexta (28), ela anunciou em suas redes sociais que testou positivo para Covid-19, mas que está assintomática.

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Filha de um agricultor e de uma professora, Luísa conta que começou a cantar quando era criança, para manter o pai acordado nas longas e frequentes viagens de carro que a família fazia ao Mato Grosso para visitar parentes. Aos sete, ela ingressou em um grupo vocal e passou a se apresentar em festivais da cidade. “Passei perrengues que foram essenciais para as coisas com que eu lido hoje.”

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Deixou o grupo dez anos depois e começou a gravar covers de músicas famosas e a publicar em um canal no YouTube. “Vi uma porta de entrada pela internet”, diz ela, que decidiu manter isso até chegar ao seu primeiro milhão de seguidores. Como plano B, começou uma faculdade de direito, mas a incursão na vida artística deu certo, e ela trancou o curso.

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Com 19 anos, casou-se com Whindersson. Ela não comenta sobre o fim do relacionamento, mas diz seguir amiga do ex e afirma que viveu com ele “um ciclo incrível”, pois ele foi “uma pessoa muito especial” em sua vida.

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“Casamento sempre foi um tabu para mim. Eu tinha a visão de que a mulher abria mão da vida para se anular e viver pelo homem ou pelos filhos”, afirma ela. “Mas não é dever da mulher fazer ou ser nada. Não é nosso dever ser mãe, casar. A não ser que você queira, sou contra a mulher abrir mão dos sonhos dela pra viver o de outro.”

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“E tive uma experiência em que não abri mão de nada. Foi muito legal para entender que é possível ser casada, mas não abrir mão da individualidade. Foi muito importante pra mim.”

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Luísa lançou o seu primeiro álbum, “Pandora”, no ano passado. Atualmente, ela trabalha em um próximo disco, ainda sem data de lançamento. “Estou compondo muito por Facetime, coisa que nunca tinha feito”, conta ela sobre o aplicativo de videochamada.

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A cantora diz ser “viciada” em Beatles, a ponto de ter visitado o The Cavern Club, bar em Liverpool onde o quarteto britânico se apresentou no começo da carreira. “A minha música não tem nada a ver com a deles, mas me inspiro neles porque eles inovaram”, diz ela, que também tem como referências nomes como Beyoncé, Lady Gaga e Rihanna, e afirma ser eclética no consumo de músicas. Ouve Aretha Franklin, Johnny Cash e The Doors.

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“Me inspiro em tudo quanto é coisa: de Beatles a bregafunk”, diz ela, para quem “música é o que toca as pessoas, independentemente da complexidade ou de quantas notas você vai usar”. “Música é música, você não diminui um estilo musical ou enaltece outro.”

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Ela não concorda com quem desmerece o funk brasileiro, ritmo do qual usa elementos em sua obra. “É uma das maiores coisas que a gente tem no Brasil, com potencial quase que inigualável para exportação, como o reggaeton é para o mercado latino”, diz.

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“Mas ele é muito criticado por um grupo, vamos dizer, elitista, que tenta diminuí-lo. E isso é muito triste pelo fato de o funk ter uma riqueza cultural que não é reconhecida. Mas a gente tem que ter orgulho, porque veio do Brasil, da comunidade, de uma expressão muito pura, e retrata muita coisa que tem que ser ouvida e olhada”, defende a artista.

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Luísa diz não sentir obrigação de se manifestar sobre assuntos do momento. “Acho que tenho que me posicionar quando sei e acredito no que estou falando”, diz ela, que em 2018 desembarcou de um voo no qual viajava o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro e, em 2019, entoou o tema antibolsonarista “Ele não!” na parada LGBTQ de São Paulo.

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“E tá tudo bem o artista não ser o dono da verdade, porque a gente também é humano”, afirma ela. “Óbvio que ninguém quer ser cancelado”, diz, referindo-se à prática de hostilizar celebridades que desagradam a opinião pública virtual. “Mas, antes do cancelamento, tenho medo da responsabilidade de falar algo errado, porque não quero prejudicar os outros.”

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“Todos os dias a gente tem que acordar querendo ser uma nova pessoa. E isso significa mudar de opinião, de estilo de roupa, de cabelo, ou a sua forma de dar bom dia.”

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“Isso significa mudar todos os dias. Acho que a gente está aqui para isso. O dia em que não melhorar como pessoa, a gente está vivendo o dia errado.”

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