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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Elitismo cultural é cafona', diz Iza

De volta aos trabalhos depois de ficar isolada em casa, a cantora se diz preocupada com o setor cultural no país, critica quem menospreza a epidemia e afirma que chorar na quarentena foi 'muito curativo'

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Retrato da cantora Iza Alex Santana/Divulgação

A cantora Iza não vê a hora do pós-pandemia chegar para poder reunir amigos e familiares em sua casa. Ela diz que a primeira coisa que pretende fazer é um grande churrasco.

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“Cara, vou querer reunir todo mundo e fazer um almoço de três dias [de duração]. Tô com abstinência absurda de ver gente! De beber cerveja em pé, cerveja quente, de falar alto no ouvido dos outros porque a música tá muito alta. Estou com saudades de gente!”, diz, entre risos.

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A cantora Iza
Retrato da cantora Iza - Alex Santana/Divulgação

Ela conta que está em sua casa no Rio de Janeiro desde a primeira quinzena de março com o marido, o produtor Sérgio Santos. Há poucas semanas, se mudou —saiu do Jardim Oceânico e migrou para Itanhangá, na zona oeste do Rio.

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O período de confinamento, diz, serviu para que ela se acostumasse com a sua “própria presença”. “Estava trabalhando muito, fazendo muita coisa, sem conseguir absorver o que estava acontecendo com a minha própria vida. Tem sido um momento de reavaliar o que realmente importa.”

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“Não tinha tido tanto tempo com o meu marido, só eu e ele”, continua. Os dois se casaram em dezembro de 2018. “A gente tem se amado cada vez mais. Quero ver como vai ser quando tudo voltar. Dormir sem ele vai ser um negócio muito estranho”, diz.

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“Tem sido desafiador manter a normalidade na pandemia, né? Graças a Deus, ela não me afetou financeiramente. Mas emocionalmente foi muito complicado”, diz. Iza perdeu dois familiares para a Covid-19.

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Ela diz que “fica chocada” com a “irresponsabilidade das pessoas” que não levam a sério a epidemia. “Parece clichê, mas não é brincadeira! Queria muito que as pessoas entendessem que a gente precisa fazer a nossa parte. Até agora não sabemos direito com o que estamos lidando”.

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“A gente fica super assustada, com medo de perder todo mundo a toda hora. É uma pressão psicológica muito complicada”, segue. Houve dias, afirma, em que ela só queria chorar. “Acordei várias vezes angustiada, sem ter muita certeza do futuro. Chorar foi muito curativo pra mim.”

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Profissionalmente, a epidemia não afetou tanto a vida de Iza. Em dezembro, ela já havia decidido tirar férias nos meses de abril, maio e junho —com isso, teve que cancelar só dois shows que estavam previstos.

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No entanto, diz que se preocupa com o setor cultural, que “está muitíssimo penalizado”. “Se existem setores que já reabriram, como academias, salões... Poxa, se isso foi liberado, e é uma coisa tão íntima, de pessoas estarem próximas umas das outras, tem sim como o nosso voltar.”

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“Óbvio, não do jeito que a gente gosta, com gente por cima de gente, suor. Mas de uma forma segura em que a gente possa levar alegria para as pessoas e, principalmente, trazer tranquilidade para os que precisam disso para se sustentar.”

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A cantora diz que acompanha o noticiário sobre a cultura no governo Jair Bolsonaro, e arregala os olhos ao ouvir o nome da ex-secretária Regina Duarte. “Aí, nem sei te explicar o porquê dessa reação [risos]. Vimos tanta coisa bizarra e impensável ser dita e passar na TV. O povo brasileiro tá tendo muita coisa para digerir além da pandemia. [O ano de] 2020 tá pesado.”

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Iza diz que só começou a sair de sua casa em setembro, com as gravações do reality show musical “The Voice Brasil”, da TV Globo, do qual é uma das juradas. A 9ª temporada do programa estreou em outubro.

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Por causa da pandemia, conta que a produção da atração segue uma série de protocolos. As cadeiras dos jurados, por exemplo, foram afastadas umas das outras, há restrições de circulação no estúdio e a plateia tornou-se digital.

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Ela afirma que já perdeu a conta de quantos testes PCR já fez. “Eu já conheço a senhora que vem colher [o exame] aqui [em casa], a gente se fala porque, né, é com tanta frequência.”

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Iza se orgulha ao discorrer sobre a cena musical brasileira, e critica quem menospreza alguns gêneros. “Elitismo cultural é uma das coisas mais cafonas que existem. É muito escroto pensar que alguém acha que porque escuta jazz e blues, que é o que eu amo ouvir, fica se achando melhor que alguém que curte brega funk, axé e pagode”, diz.

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“Tem que dar crédito às pessoas que vieram antes, que abriram as portas, que criaram movimentos como a Tropicália, o iê-iê-iê, a MPB, a Bossa Nova. É o nosso legado, a nossa raiz. Mas olha que coisa mais rica! O Brasil é um país que faz qualquer tipo de música”, segue.

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Um dos pontos altos da quarentena, diz, foi ter feito uma live com Gilberto Gil, em junho. Ela conta que estava avessa à ideia de fazer shows nesse formato, mas que não podia recusar o convite de se apresentar com o compositor. “Não sou doida [em recusar], né? Não sou louca [risos]. Foi com certeza uma das paradas mais assustadoras que já fiz na vida. Fiquei mais nervosa do que no [dia de seu show no] Rock in Rio.”

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“Assim que acabou a live, eu me joguei no chão e fiquei deitada, esperando o trem acabar de passar, porque foi intenso [risos]. E o Gil ficou rindo de mim. Foi um presente sem tamanho!”, segue. Ela diz que Gil está em seu top 3 de artistas brasileiros, ao lado de Alcione e Djavan. “Vai ser um dia que realmente nunca vou esquecer.”

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Ela conta que se sentiu pressionada a produzir no começo da quarentena. “Você tá sempre vendo na rede social as pessoas animadas, fazendo cursos, malhando, e tudo o que você queria era ficar de pijama o dia inteiro assistindo série”, diz.

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“Mas acabei aprendendo uma coisa que vou levar para o resto da vida: temos que respeitar o nosso tempo. É normal você se sentir improdutivo. A gente tá numa pandemia, porra! Acho que só de a gente não enlouquecer já está show de bola”. Iza diz que estava em seus planos lançar um álbum neste ano, mas desistiu por causa da pandemia. Mesmo assim, compôs algumas canções que devem ser lançadas em breve.

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Recentemente, foi selecionada para integrar a lista global de Afrodescendentes Mais Influentes de 2020, organizada pelo Most Influential People of African Descent em parceria com a ONU. “É uma conquista muito grande, isso é uma honra. É um puta combustível pra mim, uma confirmação de um caminho, de escolhas certas.”

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Ela diz que seria “muita hipocrisia ou maluquice” de sua parte se não levantasse a bandeira contra o racismo, “por conta de todas as coisas que eu passei quando era mais nova”. “Preciso falar como isso impacta negativamente na vida de uma pessoa, como é estúpido, retrógrado e criminoso.”

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“As pessoas acham que a gente adora falar sobre [racismo]. Estamos falando porque precisa, e não porque é o único assunto de que a gente gosta de falar. O microfone é uma arma que precisamos usar. Infelizmente morre um George Floyd ou vários deles todos os dias em várias favelas do Brasil. É só abrir os olhos para ver que o racismo ainda está aí.”

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Com mais de 13 milhões de seguidores no Instagram, Iza já usou o perfil para abordar temas políticos. “O público também tá esperando isso. Ninguém tá aceitando mais ninguém em cima do muro, cara.”

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A cantora diz que não sente medo de ser cancelada na internet, e que a “fome de cancelar as pessoas” deve ser estudada. “Ninguém está imune a isso. A minha maior preocupação é ter uma imagem sólida o suficiente para que quem realmente me conhece saiba exatamente o que eu quis dizer”, segue. Por outro lado, ressalta que é importante apontar casos graves, como racismo, homofobia​ e machismo.

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Iza completou 30 anos em setembro. Diz que sua família virou expert em comemorar os aniversários por meio de plataforma online. Conta que, a cada aniversário, a família encomenda cupcakes personalizados, para que cada um possa apagar as velinhas direto de suas casas.

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No seu aniversário, sua mãe preparou uma “mesa de café da manhã gigante”. “Foi muito especial. Óbvio que não é da forma como a gente estava esperando comemorar. Mas comemorar a vida no meio de uma pandemia é muito gratificante.”

Retrato da cantora Iza - Alex Santana/Divulgação

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