Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'Quem perdoa é Deus', diz Lucas sobre Karol Conká, Nego Di e Projota

Ex-participante do BBB que deixou a casa por vontade própria após ser hostilizado, ator diz que não tem arrependimentos, agradece acolhimento do público e se empolga com os novos projetos

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O ator e ex-BBB Lucas Penteado

O ator e ex-BBB Lucas Penteado Karime Xavier/Folhapress

O ex-BBB Lucas Penteado, 24, diz, rindo, que não descarta a possibilidade de concorrer à Presidência do Brasil no futuro. “Quem sabe daqui a uns anos”, diz o ator. “Eles não deixam, por causa da idade. Mas, se pudesse, nóis tava aí na República”, segue, soltando uma risada. “O nome do partido seria Tropa do Penteado. TP, entendeu? É o contrário [de PT]. Por enquanto é só uma brincadeira.”

A passagem de Lucas pelo reality da Globo causou comoção dentro e fora do programa. Em fevereiro, ele deixou o BBB por vontade própria após ser isolado por outros participantes que discordaram de seu comportamento em uma festa na qual ficou bêbado. A partir dali, passou a ser hostilizado por parte dos jogadores, como a cantora Karol Conká, o humorista Nego Di e o rapper Projota.

Com isso, telespectadores e celebridades se mobilizaram em sua defesa nas redes sociais —e pela eliminação do grupo, que foi apelidado de gabinete do ódio. Como resultado, os três deixaram o programa com recordes de rejeição.

“Muitas coisas que aconteceram no BBB acionaram gatilhos nas pessoas. Elas não votaram pelo Lucas. Cada uma votou por si, pelo gatilho que foi acionado em cada uma delas”, diz. Lucas conta que nenhum dos integrantes do trio o procurou depois que deixaram o programa. “Se procuraram, não fiquei sabendo.”

Nascido no bairro do Bexiga, na capital paulista, mas morador da Bela Vista há 18 anos, Lucas é ator, diretor, produtor e slammer (quem participa de competições de poesia falada e interpretada). Entrou no programa com menos de 1 milhão de seguidores no Instagram —hoje, tem 10 milhões. É filho da professora Andréa Penteado e do autônomo Janderson Penteado. Em 2015, participou do movimento de ocupação de colégios que se opunha ao projeto de reorganização das escolas estaduais de São Paulo.

Como ator, participou de um projeto do grupo teatral Satyros para estudantes de escola pública. E, em 2017, integrou o elenco de Malhação - Viva a Diferença.

Lucas conversou com a coluna por chamada de vídeo. Diz que não tem arrependimentos, que está no “melhor momento” de sua vida e se empolga ao contar dos novos projetos, entre eles um contrato de dois anos recém-firmado com a Globo, um filme para a Netflix e a retomada de sua banda Triplx —além de apontar uma possível carreira no funk.

E não deixa claro se toparia ou não voltar para uma outra edição do BBB. “Se me convidarem, eu pergunto para o povo: ‘E aí? Eu entro ou não entro lá?’. E aí o povo responde [risos].”

BBB

Quando vi o BBB pela primeira vez, não gostei. Achava horrível. Aí, teve o do [dramaturgo e ator] Rodrigo França [em 2019]. E isso mudou minha perspectiva, porque me vi ali como eu nunca tinha me visto. Ele foi muito perseguido por falar sobre pautas necessárias.

Sou militante porque a militância pro jovem preto, pra mina preta, pra pessoa da periferia, pra galera da comunidade LGBT é vida. E o que ele [Rodrigo França] estava falando ali era sobre vida. A população não está pronta pra ouvir porque parece que nós estamos problematizando. Mas o que estamos falando é que queremos permanecer vivos.

Entrei no BBB para comprar uma casa para a minha mãe e para mostrar para todos os nossos representantes políticos e à população que a luta ainda é pelo digno, pelo mínimo. É para não passar fome, não morar na rua, saca? Para quem vem da periferia, a nossa principal revolução é dar uma casa pra mãe. Porque ela trabalha a vida inteira e ainda assim não consegue comprar uma. Aliás, quando consegue terminar as contas sem sujar o nome, já é muito.

ARREPENDIMENTOS

Por que eu me arrependeria [de ter participado do programa]? Fui pela causa mais digna que eu tenho na minha vida, que é a estabilidade da minha família. Não tem como me arrepender de lutar por eles. Sempre segui o que a minha mãe me ensinou. Ela me fez entender que se eu tivesse caráter, tudo o que eu fizesse seria digno e justo. E fui justo lá dentro [do BBB] comigo. Me redimindo quando tinha que me redimir. Ouvindo quando tinha que ouvir. E saindo quando tive que sair. Não me arrependo de nada.

VIDA REAL

[O BBB21 fez história ao se tornar a edição com recorde de participantes negros e LGBT]

Quando você junta 20 pessoas [na casa], você traz um reflexo social junto. Agora, assisti um BBB com pessoas reais. As pessoas não estão acostumadas a ver pessoas reais na TV, mas sim personagens.

Como não ser natural com tantas câmeras? Elas estão te vendo desde o momento em que você acorda até quando você vai dormir. Nem o maior dos gênios num dia de mau-humor conseguiria manter um personagem [risos]. Não dá, não tem tempo para você pensar em construir uma persona. E olha que sou ator.

E AGORA?

[Respondendo se pretende estabelecer relações com Nego Di, Karol Conká e Projota]

Deus sabe o que faz. Se Deus quiser que isso aconteça, [que ele] entre dentro dessas pessoas, ilumine elas, encha os corações delas de amor e aí Ele decide o meu caminho.

Por enquanto, Deus tá falando para eu me entender. Só o tempo vai dizer isso. Não posso dizer que ‘nunca mais vou ver essas pessoas’ ou ‘eles são monstros’ ou ‘eu perdoo’. Quem perdoa é Deus. Ele é maravilhoso e eu acredito que vá ser maravilhoso com todos eles caso os próprios mereçam. E é só Ele que pode decidir isso.

ÍDOLOS

É bom conhecer os ídolos. Conheci a dona da música que eu gosto. A pessoa da Karol é uma coisa e a música da Karol é outra. O Brasil precisa aprender a dividir isso aí. Às vezes, o artista faz uma poesia, uma música, uma dança e a gente acha ele incrível como pessoa, endeusa e acha que ele não pode errar. E é um ser humano como qualquer outro. A música da Karol continua sendo incrível na minha opinião. Não comparo a pessoa com a arte que ela produz.

[Ele fica em silêncio por um tempo antes de responder sobre a eliminação de Projota. No programa, chegou a dizer que as músicas do rapper o salvaram de uma depressão.]

Acho que tá muito recente. Não vamos falar sobre Projota, não. Não acho que é o momento. Tem a hora de brincar e tem a hora de respeitar. Ele deve estar bem baqueado. Entrou [no BBB] como um dos rappers mais famosos do Brasil e no momento está tendo que reestruturar essa correria.

CANCELAMENTO

Preto e periférico, eu nasci cancelado. Não podia ter nada, não podia falar nada, nenhuma das minhas opiniões eram certas.

NA TELA

Sempre foi um sonho muito grande conseguir alcançar esse espaço de empoderamento e visibilidade preta. Só que eu nunca imaginei que nós fecharíamos um contrato [com a Globo, oficializado há duas semanas] tão duradouro. São 24 meses garantidos do seu trabalho ali, de carteira assinada.

Para um jovem artista preto saber que a sua carteira está assinada dentro da profissão que você sonhou... Sem contar que nós alcançamos duas realidades que nunca tinha imaginado. O contrato com a Globo e um filme, em que serei protagonista, na Netlifx. É surreal! Vai ser um filme dirigido pelo grande Rodrigo França. Vou fazer um personagem que representa muito a minha vida. As gravações serão em junho e em julho. E o contrato com a emissora começa em agosto.

SOM

[Lucas anunciou a retomada da banda Triplx, criada em 2015. A ideia é resgatar canções que o grupo, que mistura rock e rap, chegou a gravar em 2016, mas não lançou. O CD deve ser lançado neste semestre.]

Essa banda é literalmente um pedacinho do meu coração, da minha história, da minha linha de evolução. Me perguntaram se não achava que o CD estava muito pesado. ‘Ele toca em feridas muito doídas, não é melhor deixar essa ferida fechar?’ Ferida suja não se fecha, não cicatriza. É preciso limpar pra que algum dia ela possa fechar.

Esse CD limpou a minha. E espero que limpe muitas outras. Ele é muito significativo pra mim, porque estava no momento mais difícil da minha vida e agora estamos lançando no comecinho do melhor momento dela.

[Assim que Lucas deixou a casa, Dennis DJ, produtor de funk, afirmou que estaria disposto a ajudar o ex-BBB em sua carreira musical]

Quem descreve a revolução hoje é o funk e o rap. Dizer que o funk não representa o país é tentar criminalizar algo que vem da periferia e isso já acontece há muito tempo. Esse tipo de situação é racismo. E a gente não discute com racista, a não ser que ele queira se desconstruir. Provavelmente terão muitas parcerias aí pela frente, acho que teremos uma carreira no funk.

AMOR

[Antes da entrevista, a assessora de imprensa de Lucas informou que ele não responderia perguntas sobre Gilberto, outro participante. Os dois se beijaram em uma festa —o primeiro beijo gay entre homens na história do programa.]

O beijo fala por si só. A importância dele fala por si só naquele vídeo. Não tem nada que eu possa falar mais que possa agregar mais à situação.

Pra falar de amor e Big Brother hoje você tem que falar da Juliette. Só dela. Quem tá assistindo [o BBB] me entende. Juliette campeã! Eu tô apaixonado por essa mulher e o mundo inteiro também está.

FAMA

Tem uma frase no funk que é assim: ‘Famoso é Deus. O resto é conhecido’. Não fiquei famoso, fui acolhido pela sociedade brasileira. Acredito que pela trajetória e pelo respeito que eu tive até com as pessoas que estavam me oprimindo dentro da casa.

A população acolheu o Lucas pessoa. E agora queremos apresentar o Lucas artista, é uma outra fase. As pessoas falam muito mal da população brasileira, até ela fala mal de si mesma, né? Mas ela não tem ideia do quanto ela tem poder. É um poder de acolhimento, de revolução. E que foi esquecido. É literalmente um gigante.

Quando eu saí [do BBB], vi o tamanho desse gigante. É inacreditável! Sou 100% grato por esse acolhimento. Mas não se trata da fama. Ela nada mais é do que um poder. As pessoas estão olhando pra você. E agora? O que você vai querer fazer com ele?

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