Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Ou tiramos Bolsonaro ou ele implanta a ditadura, diz integrante do Judiciário em Brasília

Presidente discursou em Brasília e em SP fazendo ataques e diz que só sai morto

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Um integrante de um tribunal superior em Brasília se diz "abismado" com as falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nas manifestações desta terça (7) e definiu o episódio como "surreal".

"Parece um filme de ficção", disse a fonte à coluna, preferindo não ser identificada. "Ele focou no Alexandre [de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)], mas o ataque é ao Judiciário. Frontal", avaliou.

Na opinião deste membro do Judiciário, o presidente da República quer, com a sua atitude, "cavar o golpe". "Ou tiramos ele ou ele implanta a ditadura."

"A questão é que ele tem apoio, isso é um fato. Mas acho que agora não tem volta. Tem que parar o cara, ou ele é que nos para. Estamos pensando ainda em como reagir."

Em um dia marcado por manifestações de apoio ao Presidente da Repúbica e de ataques ao STF, Bolsonaro esteve presente nos atos realizados em Brasília e em São Paulo. Ele discursou para milhares de apoiadores nas duas ocasiões, quando fez ameaças golpistas contra o Supremo, exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.

Pela manhã, na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro fez uma ameaça direta ao presidente do STF, ministro Luiz Fux. "Ou o chefe desse Poder [Fux] enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos", disse, referindo-se às recentes decisões de Moraes contra bolsonaristas.

"Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair", disse o presidente, em um caminhão de som no gramado em frente ao Congresso.

Homens em cima de carro de som; um deles faz sinal de arma com uma das mãos
O presidente Jair Bolsonaro ao lado de apoiadores em cima de um carro de som na avenida Paulista durante protesto no 7 de Setembro - Danilo Verpa - 7.set.2021/Folhapress

"Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil", disse Bolsonaro em outra referência a Moraes.

Moraes foi o responsável por decisões recentes contra bolsonaristas que ameaçam as instituições. O ministro tem agido a partir de pedidos da PGR (Procuradoria-Geral da República), sob o comando de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, e da Polícia Federal, órgão subordinado ao presidente.

Os atos desta terça foram dominados por discursos golpistas do presidente e por faixas, cartazes e gritos autoritários e antidemocráticos de seus apoiadores. O STF foi o principal alvo.

À tarde, na avenida Paulista, exortou desobediência a decisões da Justiça.

"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor ​Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", afirmou Bolsonaro.

"[Quero] dizer aos canalhas que eu nunca serei preso", disse o presidente, que prosseguiu. "Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade."

"Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha, deixa de oprimir o povo brasileiro."

Ainda na Paulista, assim como tem dito em discursos no interior do país, Bolsonaro afirmou que as únicas opções para ele são ser preso, ser morto ou a vitória, afirmando na sequência, porém, que nunca será preso. "Dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá."

A atual crise institucional, patrocinada por Bolsonaro, teve início quando o presidente disse que as eleições de 2022 somente seriam realizadas com a implementação do sistema do voto impresso —essa proposta já ter sido derrubada pelo Congresso.

No discurso em São Paulo, ele voltou a mirar o sistema eleitoral e o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE. "Não é uma pessoa que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável, porque não é", afirmou. "Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do TSE."

Bolsonaro também atacou a decisão do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, que vetou repasses de dinheiro a páginas bolsonaristas investigadas por disseminar fake news sobre a urna eletrônica.

"Não podemos admitir um ministro do TSE também, usando a sua caneta, desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação."

O STF analisa atualmente cinco inquéritos que miram o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos ou apoiadores na área criminal. Já no TSE tramitam outras duas apurações que envolvem o chefe do Executivo.

Apesar de a maioria estar em curso há mais de um ano, essas investigações foram impulsionadas nas últimas semanas após a escalada nos ataques golpistas do chefe do Executivo a ministros das duas cortes e a uma série de acusações sem provas de fraude nas eleições.

No discurso da Paulista, o mandatário lembrou em diversas frases a importância de seus apoiadores e agradeceu a todos os que chamou de patriotas, que se manifestaram pelo país na data. "Não existe satisfação maior do que estar no meio de vocês", "onde vocês estiverem eu estarei".

"O apoio de vocês é primordial, é indispensável para seguirmos adiante. Nesse momento eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus pela minha vida e pela missão."

O feriado da Independência também foi marcado por um factoide do chefe do Executivo que envolveu STF e Congresso.

Bolsonaro chegou a anunciar uma reunião para esta quarta-feira (8) com os presidentes de Supremo, Câmara e Senado, mas as assessorias de Luiz Fux (STF), Rodrigo Pacheco (Senado) e Arthur Lira (Câmara) disseram que não há nenhuma previsão de reunião.

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