Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Final de 'Verdades Secretas 2' será o mesmo sem Camila, e 3ª temporada vem aí, diz Amora Mautner

Ela diz que sobrenome do pai, Jorge Mautner, a ajudou a entrar na Globo, onde há 26 anos trabalha como diretora, mas que seu trabalho depois fala por si. E conta que saída da atriz protagonista Camila Queiroz da novela foi difícil, porém Walcyr Carrasco não precisou mudar finais da trama

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Amora Mautner, 46, não nega que o sobrenome famoso lhe ajudou a abrir algumas portas dos Estúdios Globo. O outrora chamado Projac é seu local de trabalho desde que ela tinha 20 anos e virou assistente de direção de "Malhação".

"Não vamos ser hipócritas, né? Network ajuda. A meritocracia vem depois que começamos com o privilégio", diz a carioca, filha do cantor e escritor Jorge Mautner e da historiadora Ruth Mendes. "Sou privilegiada, de uma bolha da bolha da bolha, né? Eu não represento uma mulher comum que quer ser diretora. Eu represento uma pessoa que teve privilégios."

A diretora Amora Mautner
A diretora Amora Mautner - Marcelo Sabah/Divulgação

Diretora de novelas de sucesso como "Avenida Brasil", "A Dona do Pedaço" e "Cordel Encantado" e da série "Assédio", inspirada na história do ex-médico Roger Abdelmassih, Amora diz que seus 26 anos de carreira falam por si. E que não se incomoda em ser associada ao pai. "Pelo contrário. Meu pai é maravilhoso, um poeta lindo e que todo mundo ama. Só me ajudou."

Com Mautner, conta, aprendeu o que diz ser sua premissa número um: não se importar tanto com o que os outros pensam. "A ideia de que eu, uma mulher, devia alguma coisa a homens não veio para mim como uma narrativa primeira, porque tive uma educação libertadora", diz.

Segundo ela, na sua casa não havia machismo estrutural. Os pais, conta, a colocaram para fazer análise aos sete anos de idade e lhe deram para ler, no início da adolescência, a autora francesa feminista Simone de Beauvoir. "Minha casa era a Grécia antiga, arcaica, Creta."

Nesta semana, Amora encerrou mais uma produção com sua assinatura na Globo, a direção artística de "Verdades Secretas 2", primeira novela feita para o serviço de streaming Globoplay.

O trabalho marcou uma experiência inédita em suas quase três décadas de trabalho na TV. Às vésperas de gravar os capítulos finais da trama de Walcyr Carrasco, soube que Camila Queiroz, uma das protagonistas, não havia renovado seu contrato com a Globo.

Em 2015, a atriz protagonizou a primeira temporada da novela vencedora de um prêmio Emmy Internacional e sucesso de audiência —o que levou à criação de uma continuação em 2021.

A diretora Amora Mautner com as atrizes Agatha Moreira e Camila Queiroz nos bastidores de 'Verdades Secretas 2'
A diretora Amora Mautner com as atrizes Agatha Moreira e Camila Queiroz nos bastidores de 'Verdades Secretas 2' - Instagram @amoramautner

Em entrevista exclusiva à Folha, o diretor de entretenimento da Globo, Ricardo Waddington, disse que em 39 anos de emissora nunca havia visto as exigências da atriz, como a alteração do final de sua personagem, Angel, e a confirmação de que ela estaria numa possível nova temporada. Pelas redes sociais, Camila pediu aos fãs para não acreditarem nas 'mentiras' que estavam saindo.

"A gente não esperava nada disso, né? Foi muito difícil para todo mundo. Mas somos profissionais e nosso trabalho é esse, resolver problemas que apareçam", diz Amora, em entrevista à coluna, feita por videochamada desde seu apartamento no Leblon, no Rio. "Sempre me dei bem com a Camila pessoal e artisticamente. A saída dela foi uma questão estritamente contratual. A Globo e o Ricardo [Waddington] foram muito claros, eu não tenho nada a acrescentar."

Com a saída da protagonista, o público ficou especulando como ficaria o desfecho da trama. E se surpreendeu quando a emissora ofereceu dois finais para a história que a aborda prostituição no mundo da moda, consumo de drogas, traição e assassinatos.

"O Walcyr é um gênio e um craque e resolveu tudo em três horas. O final foi o mesmo que estava escrito desde a sinopse", diz. "Nossa maior preocupação sempre foi com que o público tivesse essa história da melhor forma possível."

Ela conta que tudo foi gravado de um jeito pensado para ninguém perceber essas pequenas mudanças. Algumas cenas, revela, acabaram sendo feitas por outros atores e que também foram usados recursos tecnológicos para "poder chegar ao final que estava escrito".

O músico e poeta Jorge Mautner com a filha, a diretora Amora Mautner
Amora com o pai, o cantor, músico e poeta Jorge Mautner - Instagram @amoramautner

Em um dos finais exibidos, o autor deixa no ar a possibilidade da personagem de Camila Queiroz voltar à terceira temporada da trama cheia de cenas de sexo que Amora define como "thriller erótico". Por causa disso, a atriz disse, nesta semana, que isso pode ocorrer.

"Quem decide isso é sempre o autor. Eu, pessoalmente, acho que esse assunto já deu muita confusão. E quando um assunto tá mais complicado do que bom, acho melhor desistir", diz. "E essa história já deu. A imprensa deveria se preocupar com coisas sérias acontecendo agora."

A parceria com Walcyr, a quem ela se refere como "gênio" a cada citação, seguirá. Amora revela que a Globo deu o sim para a terceira temporada da novela. "’Verdades Secretas 3’ vem aí", adianta à coluna. Antes, ela e o autor já começam a trabalhar na novela das nove que já têm encomendada. Em janeiro, diz, eles viajam para fazer pesquisas no Mato Grosso. "É só o que posso contar."

Amora Mautner com o ator Alexandre Nero na festa de lançamento da novela 'A Regra do Jogo', de João Emanuel Carneiro - Zô Guimarães - 28.ago.2015/Folhapress

Sua ideia de eventualmente parar de dirigir novelas e séries para se dedicar à física quântica e à neurociência, temas que diz serem sua paixão há dez anos, ficará para o futuro.

"Eu leio todo dia durante duas horas livros de física quântica. Acho que isso veio do meu avô que era físico e o meu pai sempre foi interessado. Ele nunca estudou a fundo, mas sempre me falou que a ciência é tudo", diz .

Para ela, é inconcebível ver a turma antivacina "indo contra a ciência". "Essas pessoas são perigosíssimas. Quando o negacionismo chega a um extremo como esse, atrapalha a vida da sociedade."

A diretora diz que o único problema com sua nova paixão é achar com quem conversar sobre esses dois assuntos. "Já pensei até em ir para um congresso de neurociência para ver se faço algum amigo. É uma área muito nichada, não tenho com quem falar."

Ela conta que a filha, Júlia, 14, do relacionamento com o ator Marcos Palmeira,, divide o mesmo interesse e quer fazer faculdade de física.

Outra paixão que Amora diz nutrir é por Sigmund Freud, o pai da psicanálise. "Sou obcecada, já li quase toda a obra dele", afirma. "Meus avós paternos moravam no mesmo vilarejo que o Freud na Áustria."

A diretora Amora Mautner
A diretora diz que está 'mais calma e doce' - Marcelo Sabah/Divulgação

Conhecida nos corredores da Globo por ser enérgica e falar as coisas na cara, algumas vezes sem tato, Amora diz que se tornou uma pessoa mais "doce" nos últimos anos.

"Este ano foi o mais determinante da minha vida adulta no sentido de transformação. Sou bem mais calma, antigamente eu era muito intensa. A gente vai envelhecendo e vai ficando cansado, começa a relativizar as coisas. Hoje eu tenho um entendimento mais claro da pessoa que eu quero ser", afirma.

Para entender o ser humano, afirma, tem que ler Freud e Nietzsche. "O Nietzsche fala que a gente está em guerra dentro da gente. As células e o cérebro estão em guerra o tempo todo. A vida é uma luta, a gente vai vivendo e se transformando internamente."

Marcos palmeira, juliana paes e Amora Mautner
Amora Mautner (à dir.) com o ator Marcos Palmeira, seu ex-marido, e a atriz Juliana Paes nos bastidores da novela 'A Dona do Pedaço' (Globo), de Walcyr Carrasco - João Miguel Jr.-27.fev.2019/Divulgação

Já pela política, diz não sentir amor, porque é um assunto que domine. "Quando era criança meu pai me fazia reverenciar a bandeira do Partido Comunista", lembra, cantando um trecho da Internacional.

Mas, nos últimos sete anos, namorou um dos filhos do ex-presidente Fernando Collor, Arnon Affonso de Mello. No entanto, diz que nunca conheceu o sogro. "Não aconteceu."

Para as próximas eleições, afirma que ainda não tem um candidato a presidente. "A única coisa que eu sei é que a gente tem que se unir para tirar o Bolsonaro, esse monstro, porque se ele continuar eu realmente não sei o que vai acontecer com o Brasil."

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