A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) elaborou nesta quarta-feira (19) uma carta em apoio à médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo.
Ela diz ter se tornado alvo de ataques virtuais após publicar artigo na Folha em que dizia que a realização do Carnaval em sambódromos poderia ser uma atividade de alto risco, considerando a alta de casos de Covid-19 no país.
Na publicação, Dalcolmo cita o cancelamento do Carnaval de rua e de outros eventos por prefeituras e diz que seria incongruente, dos pontos de vista sanitário e administrativo, manter os desfiles de escolas de samba.
"O uso de transportes coletivos, inevitável para a maior parte dos espectadores e foliões, e a concentração de pessoas nas próprias agremiações, bem como em arquibancadas e camarotes, resultaria em alto risco de transmissão", afirmou a pesquisadora no artigo.
"Lembremos que os primeiros casos de Covid-19 que tratamos —e algumas pessoas faleceram, em 2020— foram oriundos dos desfiles nos sambódromos. Naturalmente, era o momento inicial, com pouco conhecimento sobre a dinâmica da doença e sem vacinas", seguiu.
A médica diz ter atendido dois pacientes que se infectaram durante a festividade, em 2020.
A menção aos casos que teriam sido originados em desfiles gerou uma nota de repúdio da Federação Nacional das Escolas de Samba (Fenasamba), que também falou em processar a pesquisadora.
A entidade afirma que o Carnaval de 2020 foi realizado entre os dias 21 a 25 de fevereiro, enquanto o primeiro caso de Covid 19 registrado no Brasil ocorreu em 26 de fevereiro daquele ano, em uma pessoa vinda da Itália.
"A afirmação da doutora Dalcolmo carece de qualquer amparo nos fatos reais e contraria a postura de defesa da ciência e da verdade que sempre pautou o comportamento da respeitada cientista", diz a federação. "Mais do que isso, a Fenasamba desafia a dra. Margareth Dalcolmo a apresentar provas concretas, objetivas e científicas que justifiquem sua descabida afirmação."
Em nota elaborada nesta quarta-feira, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência diz prestar solidariedade a Dalcolmo e ao epidemiologista, professor da Ufpel (Universidade Federal de Pelotas) e colunista da Folha Pedro Hallal, descritos como "ameaçados pelo negacionismo".
"Neste momento, quando recrudesce o número de casos e a hospitalização ameaça tornar-se crítica, com a possível superlotação dos leitos, bem como se esgotam os testes disponíveis para detecção adequada da covid-19, mais do que nunca é preciso apelar à prudência, como têm feito os drs. Margareth, Pedro e vários outros profissionais, honrando a categoria e as instituições a que pertencem, sempre de acordo com a ciência e suas evidências", diz a SBPC.
A pesquisadora Margareth Dalcolmo ainda recebeu apoio da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), que endossou seus argumentos.
"A SBMT manifesta profunda indignação e repúdio ao ataque e destaca que neste momento TODA a ciência brasileira está sendo atacada pelas escolas de samba, na pessoa da doutora Margareth Dalcolmo", diz a associação, em resposta à Fenasamba.
A Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro também manifestaram apoio a Dalcolmo.
Leia abaixo a nota emitida pela SBPC:
"EM SOLIDARIEDADE AOS PROFISSIONAIS AMEAÇADOS PELO NEGACIONISMO
Perante os ataques sucessivos a cientistas respeitados – entre eles, os drs. Margareth Pretti Dalcolmo e Pedro Hallal – por parte de quem nega ou minimiza os riscos de se alastrar ainda mais a pandemia da covid-19, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC vem prestar sua solidariedade a esses notáveis profissionais, que não têm medido esforços no combate à pandemia, salvando vidas, além de alertar, pelos jornais e pela mídia em geral, para os cuidados que devem ser tomados para a proteção dos cidadãos brasileiros.
São Paulo, 19 de janeiro de 2022.
Renato Janine Ribeiro
Presidente da SBPC"
JOELMIR TAVARES (interino), com LÍGIA MESQUITA, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH
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