Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Coronavírus

Mortalidade da Covid é 60% maior entre homens negros do que a média na cidade de SP, diz estudo

Instituto Pólis alerta para o fato de que a pandemia não está sob controle e sugere revisão de atividades liberadas

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As populações negra e de baixa renda da cidade de São Paulo foram as mais impactadas pela mortalidade da Covid-19 desde o início da pandemia, segundo um estudo feito pelo Instituto Pólis. O levantamento analisou registros de março de 2020 a janeiro de 2022.

Sepultadores colocam caixão dentro de cova aberta; ao redor, há mais sepultadores com roupas de proteção
Sepultadores enterram vítima de Covid-19 no Cemitério Vila Formosa, em São Paulo - 28.abr.2021 - Mathilde Missioneiro/Folhapress

De acordo com o instituto, a taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens negros foi 60% maior do que a média da capital paulista. Na comparação com homens brancos, negros morreram 30% a mais. E, no mesmo período, mulheres negras foram 40% mais afetadas pela doença do que as brancas.

De acordo com os pesquisadores, os dados indicam desigualdades no acesso à saúde, na possibilidade de isolamento e em outras variáveis de vulnerabilidade socioeconômica —uma vez que o vírus não faz distinção de raça ou cor da pele.

Ao analisar as taxas de mortalidade a partir de óbitos por Covid-19 ocorridos entre março de 2020 e novembro de 2021, o Pólis ainda identificou índices elevados em regiões mais pobres da cidade de São Paulo —como foi o caso de bairros na zona leste, a exemplo do Parque do Carmo.

"Quanto maior o poder aquisitivo, menores as taxas de mortalidade pela pandemia", diz o estudo. "A concentração da população negra em áreas de menores rendimentos médios corrobora a leitura de que este grupo está mais suscetível aos efeitos da pandemia", segue.

Já a população negra que mora em regiões da capital com maior renda média foi menos impactada do que a fatia que reside em áreas mais vulneráveis, conclui o instituto.

O Pólis também identificou um aumento de 638% nos óbitos ocorridos na capital paulista em janeiro de 2022, quando comparado a dezembro do ano passado. Ao todo, foram registradas 864 mortes em decorrência da doença no primeiro mês do ano —um número sete vezes maior que os 117 óbitos do último mês de 2021.

"O aumento expressivo é consequência da circulação da variante ômicron (mais infecciosa), mas também de um relaxamento geral da população e das autoridades, que deixaram de implementar medidas necessárias ao controle epidemiológico, como vigilância ativa, testagem, busca ativa de contatos", diz o documento.

O estudo alerta para o fato de que a Covid-19 não está sob controle, enquanto o contágio pelo vírus tem atingido índices sem precedentes desde o início da pandemia.

"O que isso tudo nos mostra é negligência do Estado e que medidas urgentes de prevenção e combate ao coronavírus devem ser retomadas por parte do poder público", afirma a coordenadora-geral do Instituto Pólis, Danielle Klintowitz.

"Não é como na primeira onda, quando não conhecíamos o comportamento do vírus. Estamos um passo à frente dessa vez, sabemos como controlar", segue.

O médico sanitarista Jorge Kayano, um dos pesquisadores que assinam o estudo, destaca que apenas o avanço da vacinação na capital não é suficiente para determinar o fim da pandemia. "A retomada de atividades presenciais precisa ser revista, especialmente daquelas não essenciais e que geram aglomerações", afirma.

Os pesquisadores lembram que o acesso limitado a testes de Covid-19 pela população impede que todos os casos sejam devidamente registrados, o que pode levar a subnotificação.

O balanço, que utilizou dados da Secretaria Municipal de Saúde, também traz informações sobre a ocupação das vítimas da Covid-19 na capital paulista. Como já havia sido identificado anteriormente, aposentados e donas de casa são os grupos mais atingidos pela doença em números de óbitos. Nos dois casos, 90% das vítimas eram pessoas idosas.

Trabalhadores do setor de transporte, como taxistas e motoristas de aplicativos e de ônibus, do setor da construção civil e trabalhadoras domésticas também foram altamente impactados, já que se expuseram mais em atividades presenciais.

com LÍGIA MESQUITA, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH

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