A secretária municipal de Relações Internacionais de São Paulo, Marta Suplicy, diz que os partidos brasileiros só querem poder, e não estão interessados em colocar mulheres em cargos de liderança ou ministérios. "A mulher é muito mais difícil de controlar, pelo menos aquelas que valem estar [ali]", afirma.
A ex-prefeita e ex-senadora realizou um jantar em sua casa na região dos Jardins, na noite de segunda-feira (22), para receber participantes do Brasil Mulheres, grupo de trabalho liderado por ela para debater a questão feminina na política.
Marta reuniu cerca de 30 líderes políticas, ativistas, personalidades, intelectuais e mulheres do movimento LGBTQIA+.
Um dos principais temas da conversa foi o governo do novo presidente do Chile, Gabriel Boric, que formou seu gabinete com maioria de ministras mulheres. Algumas das convidadas presentes no jantar, como a diretora do Instituto Marielle Franco, Anielle Franco, e a escritora e diretora-executiva da Casa Sueli Carneiro, Bianca Santana, foram à cerimônia de posse do novo líder e compartilharam relatos da experiência.
"Saímos nessa expedição pela América Latina para voltar com esperança. Vimos um movimento construído a partir do feminismo", disse Santana.
Marta apoia a candidatura de Lula (PT) à Presidência, mas diz que não enxerga possibilidade, caso o petista seja eleito, de formação de um ministério com paridade entre homens e mulheres na atual conjuntura política do Brasil.
"Agora, eu acho que seria um gol [do Lula], mas todos os partidos vão ficar alucinados. Tem que amadurecer [a ideia]", afirma. "As mulheres não estão na pauta. Eles [partidos] falam que estão, ninguém tem visto mulher nem [como] vice."
Também estavam presentes a vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL), a especialista em educação e colunista da Folha Claudia Costin e a diretora-executiva do Instituto de Estudos da Religião, Ana Carolina Evangelista.
Evangelista viajou ao Chile e disse que uma das coisas que chamou a atenção dela no país é que "não há medo de se assumir de esquerda" entre as forças e partidos políticos.
Marta comentou que é fundamental que as candidaturas defendam "pautas perigosas" para vencer as eleições, mas disse que não sabe se a receita daria certo no Brasil. "[Lula] teve que colocar o Alckmin [como vice] para mostrar que não ia ser [um governo] tão de esquerda", afirmou.
Este é o segundo evento do grupo promovido por Marta. Em janeiro, ela ofereceu um almoço em sua casa para estimular a inclusão de propostas para a mulher nas campanhas à Presidência. O encontro teve defesa da descriminalização do aborto e pautas antirracistas para eleições.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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