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Viúvo de Paulo Gustavo entrará na Sapucaí 'abalado', mas diz que homenagem ao ator será 'energia radiante'

Thales Bretas, familiares e amigos do ator desfilam na madrugada deste sábado (23) o enredo 'Minha Vida É uma Peça', da escola São Clemente

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​Viúvo de Paulo Gustavo, o médico Thales Bretas afirma que tem sido uma semana emotiva para ele. Na madrugada deste sábado (23), a escola de samba São Clemente desfila na Marquês de Sapucaí o enredo "Minha Vida É uma Peça", uma homenagem ao humorista que morreu em maio do ano passado, vítima da Covid-19.

"A gente fica rememorando tudo de bom que viveu, repensando e trabalhando essa aceitação [da morte]", diz ele à coluna. Bretas estará na avenida em um carro alegórico que conta a história de amor do casal e os frutos desse relacionamento: os gêmeos Romeu e Gael, 2 anos.

Paulo Gustavo e Thales Bretas
Paulo Gustavo e Thales Bretas - Instagram/ThalesBretas

"Eu posso falar que tive o maior azar do mundo de perder o meu companheiro, de ter tido uma reviravolta na minha vida. Mas eu fico trabalhando o outro lado, a sorte que eu tive de viver com ele sete anos e meio, quase oito, e que a gente construiu tanta coisa legal que, talvez, eu pudesse nunca ter vivido", diz.

"O destino é isso, a vida é isso, te tira e te dá o tempo todo. Eu sou muito grato pelo tanto que meu deu. Triste também pelo tanto que tirou, mas a gratidão e o amor prevalecem", completa.

Paulo Gustavo e Thales oficializaram o namoro no meio do Carnaval de 2014. Eles tinham começado a se envolver em janeiro. "Em março, ele me chamou e a gente ficou junto no Copacabana Palace. Foi quando ele fez o pedido de namoro e a gente foi ver os desfiles juntos", relembra.

Passar pela primeira vez a data sem Paulo é um símbolo de tudo o que o médico vem vivendo no último ano. "Mas o fato de ter essa homenagem e ter essa memória da alegria, dos momentos bonitos que vivemos juntos é uma forma linda de fazer essa transição e tentar transformar isso em alegria e em energia radiante, como ele era", diz.

A São Clemente será a quarta escola na madrugada deste sábado (24). No tributo ao humorista Paulo Gustavo, estarão presentes também Déa Amaral, mãe do ator, e artistas amigos dele, como Tatá Werneck, Mônica Martelli, Heloisa Périssé e Ingrid Guimarães.

Por serem muito pequenos, Romeu e Gael não vão estar na avenida. "Vou guardar todo esse material e vou mostrar sempre para eles. Tenho certeza que eles vão amar fazer parte disso", afirma Bretas.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, com respostas enviadas por áudio de WhatsApp:

Como você está se sentindo com a proximidade do desfile da São Clemente?
Eu estou muito feliz e emocionado com essa homenagem que é super merecida. Eu tive a honra de viver ao lado de um gênio, um cara carismático pra caramba, muito envolvente e alegre que espalhava só alegria por onde ele passava, que era um furacão. E eu tive a honra de ser o escolhido por ele para construir uma família, dividir o dia a dia, nossa rotina, nossas questões. A gente abraçou muito um ao outro desde sempre. Eu acho que alcançamos o nosso objetivo que é mostrar que o nosso formato de família é possível, normalizar isso e enaltecer sempre o amor. A São Clemente está fazendo isso com tanto cuidado e carinho. E a escola também vai mostrar o que o Paulo conquistou com a arte dele, que foi também muito transformadora e que teve um alcance enorme, uma receptividade muito boa por todos os extratos da população brasileira: idosos, pessoas mais novas, pessoas carentes, pessoas de classes privilegiadas. Eu acho que ele pregou muito amor e humor, que são os elementos que vencem em qualquer dificuldade, qualquer dureza.

Qual é a sua expectativa? O que o público pode esperar?
A minha expectativa é que seja uma homenagem bonita e emocionante, que as pessoas vibrem amor e energia, emanem isso para ele. De onde ele estiver que ele esteja recebendo tudo isso e que ele veja o quanto ele conquistou multidões, o quanto ele foi importante na vida de muita gente, continua sendo e continuará para sempre.

Eu também recebo muito feedback positivo, até de pacientes e de amigos, do quanto a nossa relação é importante para aceitação das famílias de outras pessoas, o quanto a gente incentivou casais homoafetivos a seguirem em frente, serem felizes, seguirem os planos de ter filhos. E de serem bem incorporados à família. Porque o amor realmente não tem formato. Se ele é multiplicado e vivido, isso é o essencial. Agora como e se é nos padrões que uma sociedade expressa é irrelevante. Acho que o público pode esperar um pouco dessa alegria.

É claro que a saudade vai vibrar no coração, que vai ter uma tristeza por essa partida tão precoce, mas acho que o que vai prevalecer é a gratidão. O enaltecimento de tudo de bom que ele conquistou, todo o amor que ele espalhou, transformou e todo o humor que ele gerou em cima de uma arte que foi super politicamente importante para gente, para o nosso movimento no país e principalmente neste momento tão nebuloso político que a gente vive.

Como você vem se preparando fisicamente e psicologicamente para o desfile?
Fisicamente, eu não estou me preparando muito não, estou até com medo porque não sou muito acostumado com Carnaval, com desfilar. Psicologicamente, eu esta semana confesso que estou bem abalado, mais emotivo. Acho que essas datas mais importantes, essas homenagens mexem muito. A gente fica rememorando tudo de bom que viveu, repensando, trabalhando essa aceitação [da morte].

Eu, com certeza, vou me emocionar muito, mas vou tentar fazer com que a alegria e a gratidão prevaleçam no meu coração. Eu posso falar que eu tive o maior azar do mundo de perder o meu companheiro, de ter uma reviravolta na minha vida. Mas eu fico trabalhando com a sorte que eu tive de viver com ele sete anos e meio, quase oito anos, e que a gente construiu tanta coisa legal junto que, talvez, eu pudesse nunca ter vivido.

O destino é isso, a vida é isso. Te tira e te dá o tempo todo. Eu sou muito grato pelo tanto que me deu. Triste também pelo tanto que tirou, mas a gratidão e o amor prevalecem.

O que dá para adiantar da apresentação da São Clemente?
O desfile vai contar com algumas alas e carros contando as diferentes fases da vida do Paulo e da nossa família. Tem o momento que ele passou em Niterói, ajudando a mãe a entregar as quentinhas, tem o momento dele indo de barca para o Rio estudar teatro. Tem os momentos das peças, filmes e programas de televisão que ele participou, os personagens. Tem o momento do nosso casamento, onde vão contar essa história, um exemplo para essa geração nova, com os frutos desse amor que são Romeu e Gael. Eu acho que conta a história de uma forma cronológica muito bonita, muito cuidadosa e que vai ser muito emocionante.

Eu vou neste carro que conta a nossa história. Vai ter uma ala da minha profissão, de médico dermatologista. Tem uma ala que enaltece o nosso amor, com fotos nossas nas fantasias. Não posso contar muita coisa não, porque tem que ter surpresa.

Como era a relação de vocês com o Carnaval?
A gente começou a se relacionar em janeiro, e em março teve o Carnaval. Ele me chamou, e a gente ficou junto no Copacabana Palace. O nosso namoro começou no Carnaval, ele me pediu em namoro no dia 1º de março de 2014. Sempre tenho essa memória afetiva com ele. Todos os Carnavais que vivi no Rio de Janeiro foram do lado dele.

E como está sendo este ano passar o Carnaval sem ele?
Passar o Carnaval sem ele é um simbolismo de tudo o que eu vivo. Eu estou tendo que reaprender a passar vários momentos importantes que a gente vivia juntos sem ele. Acho que vai ser muito difícil, mas o fato de ter essa homenagem e ter essa memória da alegria, dos momentos bonitos que vivemos juntos é uma forma muito linda de fazer essa transição e de poder viver este Carnaval sem ele, mas ainda assim com ele no coração, na mente, na homenagem. E tentar transformar isso em alegria mesmo, em energia radiante como era a dele.

O Paulo Gustavo dizia que "rir é um ato de resistência". Em um momento tão polarizado como o que vivemos, como você vê a importância desta mensagem do Paulo ser ressaltada em uma festa popular como o Carnava?
Eu acho que o humor realmente transforma. E o maior exemplo disso é tudo o que ele fez: todo esse movimento de aceitação e de amor através do humor, porque as pessoas se sensibilizam muito com o humor. Elas riem e internalizam mensagens que muitas vezes não são engraçadas, mas são incorporadas porque é de uma forma gostosa que elas chegam ao coração das pessoas e ficam. E o Paulo tinha essa capacidade de transformar muitas coisas com o humor, no dia a dia, na sua arte, na vida.

E rir é realmente um ato de resistência porque, apesar de tudo isso que a gente vive, apesar de todas as dificuldades, a gente ainda consegue sorrir, resistir e seguir em frente.

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