Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu casamento

'Janja é gente como a gente, não tem frescura', diz Helô Rocha, que assina vestido de noiva

Estilista diz que experiência com casamento de Lula (PT) foi um 'turbilhão' e afirma não ter atritos políticos com a família, dona das lojas Riachuelo; veja fotos inéditas da confecção da peça

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Helô Rocha desenhou seu primeiro vestido aos 14 anos de idade. Na cor preta e preenchida por bordados, a peça com formato de camiseta foi pensada para o aniversário de 15 anos de uma prima. O experimento logo se tornaria hábito da adolescente que vivia em Natal e não queria se vestir igual aos demais.

O sapato estilo boneca e o vestido branco de pregas usados como uniforme pela Escola Doméstica, onde estava matriculada, não passou incólume por suas mãos.

"Era um uniforme que [para mim] precisava estar quatro dedos acima do joelho, eu usava tênis, aquelas coisas de adolescente querendo se rebelar. Todo dia eu precisava voltar para casa para trocar o sapato", relembra a estilista, entre risos. "Todo dia, não. Mas acontecia bastante."

A estilista Helô Rocha - Eduardo Bravin/@helorocha no Instagram

Desde então, os vestidos nunca deixaram o imaginário de Helô Rocha. Aos 41 anos, a estilista criada na capital potiguar e radicada em São Paulo tem sua trajetória marcada por modelos esvoaçantes e coleções que têm o trabalho manual como tônica. Sua marca homônima, tocada em sociedade com a estilista Camila Pedroza, é hoje referência em roupas de festa e sob medida, mas também em vestidos de noiva.

O mais recente deles foi aguardado com grande expectativa e revelado na quarta-feira (18). Nele, o luar do sertão, um céu estrelado, as fases da lua e a fauna e flora do Nordeste brasileiro foram bordados sobre seda para que a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, se casasse com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A socióloga Rosângela da Silva, a Janja, vestida de noiva para o casamento com o ex-presidente Lula - Ricardo Stuckert/Divulgação

A primeira vez que Helô Rocha fez um vestido de casamento foi para Roberta Sá, cantora que naquele início dos anos 2000 se consagrava na música brasileira e, já muito antes disso, era sua irmã. "Acho que eu nem tinha terminado a faculdade [de moda]", relembra a estilista sobre a peça feita para a irmã, a quem chama de Beta.

"Era um vestido mais simples, tinha uma pegada anos 1920. O bordado era lindo. Foi um desafio porque eu tinha experiência zero. Mas com amor a gente consegue." Quase uma década depois, a segunda noiva vestida pela estilista foi a cantora Preta Gil, que em 2015 subiu ao altar com três camadas de renda chantilly francesa e 50 mil pérolas bordadas.

Se a primeira peça foi usada em uma cerimônia pequena, restrita a familiares e pessoas próximas, o casamento luxuoso de Preta para mais de 600 convidados causou frisson. A movimentação em frente à porta da Igreja Nossa Senhora do Carmo, no centro do Rio, era tamanha que Helô ficou presa entre os curiosos e acabou levando um tombo depois de ultrapassar a grade de proteção.

A cena foi fotografada por paparazzis e espalhou-se pelas redes como pólvora —assim como o nome Helô Rocha. "Foi um aprendizado fazer o vestido da Preta. Era um vestido muito importante, de uma amiga por quem tenho um carinho enorme, mas eu também não tinha experiência. Nem com vestido de noiva nesse porte nem com essa grandiosidade de foco e de mídia", conta.

De lá para cá, sua marca homônima selou sua união com o mercado de noivas. Nomes como Ísis Valverde e Mariana Goldfarb optaram por ela no dia do matrimônio. Mas nenhuma experiência até então, conta, se compara à que viveu com Janja nesta semana.

"Está sendo um turbilhão", diz Helô, que conversou com a coluna poucas horas antes de vestir a socióloga para a cerimônia. "O que eu sinto é que é muito mais sério do que qualquer coisa que eu já tenha feito. É outro tipo de approach [abordagem], principalmente da mídia. Uma coisa é eu vestir celebridades para bailes e shows, tem um peso. Mas essa é uma responsabilidade muito maior."

A peça foi um presente dela e de sua sócia, Camila, à noiva do presidenciável, mas também contou com o trabalho de pelo menos mais dez pessoas, incluindo bordadeiras da cidade de Timbaúba dos Batistas (RN), na região do Seridó, e o modelista e costureiro Edson Honda.​

"A gente abraçou a causa muito feliz", afirma a estilista, que emenda em elogios à esposa do petista. "A Janja é uma pessoa muito gente como a gente, não tem nenhuma frescura, então eu senti um acolhimento. Sempre foi muito leve. Nesses últimos momentos que eu estou sentindo o peso da responsabilidade. Eu já imaginava que seria assim, mas agora estou sentindo mais."

Helô diz que nunca temeu represálias por ter seu nome associado aos de Lula e Janja. "Eu sempre enxerguei como uma honra mesmo", diz ela, que declara voto no ex-presidente.

Antes de se aventurar em casórios e de levar seu nome para as etiquetas, Helô comandava a Têca, marca batizada em homenagem à avó que tinha estampas como carro-chefe. "Eu abri a Têca muito jovem e fui amadurecendo com a marca. Chegou um momento em que aquela garota muito girly [feminina] não fazia mais sentido para mim. Eu preciso desejar e vestir o que estou fazendo."

A transição entre a Têca e os vestidos de festa da Helô Rocha se deu em 2015, após o casamento de Preta Gil. Para se despedir da empreitada que marcou sua estreia na moda profissional, a estilista fez um evento-funeral. "Todas as coisas boas devem chegar ao fim", dizia a imagem de divulgação, em que Helô segurava um terço e usava véu e vestido preto.

"Tem muito estilista que tem pavor de se imaginar fazendo vestido de noiva", diz sobre o nicho. "São muitas expectativas, as noivas ficam muito ansiosas, e aí você tem que ter calma a cada percalço que vai acontecendo. Quando alguma coisa sai fora do planejado, a gente faz de tudo para superar as expectativas delas."

"Eu amo fazer vestido de noiva. A gente tem essa sensação de fazer parte da história daquele casal e da família. É um momento muito especial, é o vestido da vida daquela pessoa."

Atualmente, a estilista vive na ponte aérea entre São Paulo e Los Angeles com sua esposa, Carol Ponce. As duas estão juntas há sete anos. "Já era um desejo nosso de morar lá desde que a gente começou a namorar, e a pandemia meio que deu um empurrão para isso acontecer. Estou sempre lá e cá", diz.

"A pandemia me deixou muito presa. Quando eu pude desbravar o mundo, no ano passado, a gente já foi. Foi muito traumático para todo mundo esses anos [sob a crise sanitária]. Porque já são anos. Parece que a gente viveu uma pausa."

Helô Rocha foi criada com cinco irmãos —Roberta entre eles— e vem da família do Grupo Guararapes, proprietário das lojas Riachuelo. Apesar do título de herdeira, ela sempre defendeu que buscou um caminho oposto ao escolher o slow fashion e a alta costura.

"Cada estilista deve pensar na forma como contribuir para fazer essa moda sustentável. Além do upcycling [reutilizar produtos], eu faço peças que são únicas, não têm uma produção muito grande, e as pessoas envolvidas são bem remuneradas", diz sobre seu processo. "Não acredito numa moda que tenha essa sazonalidade de que a cada três ou seis meses você tem que fazer uma nova coleção."

Helô Rocha também se distancia do negócio familiar por sua posição política, uma vez que a marca Riachuelo já foi alvo de protestos antibolsonaristas.

"Acho que cada pessoa tem uma visão", contemporiza. "Tem uma parte da minha família que eu não tenho muito contato diário, então eu não tenho esses atritos diariamente. Mas acho que todo mundo se respeita e cada um tem sua maneira de pensar. E eu só posso falar por mim."

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