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Isabel Teixeira fala sobre 'humor safado' de Maria Bruaca e popularidade de 'Pantanal': 'É a glória'

Atriz se emociona ao relembrar que pensava em desistir da atuação quando surgiu o convite para trabalhar no audiovisual

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A atriz Isabel Teixeira

A atriz Isabel Teixeira Marlene Bergamo/Folhapress

"Eu já fui ‘aqualouca’. Você sabe o que é isso?", pergunta a atriz, diretora e dramaturga Isabel Teixeira. Diante da resposta negativa da coluna, a intérprete de Maria Bruaca na novela "Pantanal" (Globo), explica: "É uma mistura de salto ornamental com balé aquático, mas de um jeito mais louco."

Bel, como é chamada pelos amigos, tinha 14 anos quando começou a treinar a modalidade com um grupo de atores. "A gente fez algumas apresentações em clubes. Era bem interessante", revela. O pai, o músico Renato Teixeira, ficou maravilhado. "Ele fala até hoje: ‘Bel, a minha filha, é ‘aqualouca’.’"

O assunto surge em meio à conversa online de uma hora e meia que ela teve com a coluna na semana passada, um dia após voltar das gravações na região pantaneira. Aos 48 anos e com uma carreira consolidada no teatro, Bel é um dos grandes destaques do remake.

A trajetória de superação de Maria Bruaca aliada às suas divertidas tiradas conquistaram as redes sociais e as ruas. No Twitter, os fãs passaram a lhe chamar de Mary Bru.

A atriz não se faz de blasé. Pelo contrário: Está amando ser popular. "Eu fui capa da Tititi. Você tá ligada?", diz ela ao citar a popular revista que aborda assuntos da televisão. "Eu estava no Pantanal e liguei para o Osmar, aqui da banca perto de casa e que é meu amigo há anos, e falei: Osmar, eu fui capa da Tititi! E ele falou: ‘Eu já fiz todo um painel aqui em sua homenagem’".

"Eu achei aquilo a glória, a glória. Isso é teatro. Eu estou na ligação com o primordial do teatro, sabe, que é ser popular", anima-se. Para Bel, o reconhecimento atual é como uma "iluminação da estrada" que já vinha percorrendo havia mais de três décadas nos palcos.

Até 2019, ela nunca tinha feito uma novela. Participações em projetos audiovisuais também tinham sido mínimas. "Eu estava atravessando uma fase —e é uma fase recorrente— que é: Eu vou desistir."

"Acho que o ator chega à maturidade desistindo [risos] e continuando. O [dramaturgo Samuel] Beckett fala isso: ‘Vou continuar, não posso continuar, eu quero continuar, não vou continuar’".

Foi neste momento que surgiu o convite para entrar no elenco da série "Desalma", do Globoplay. E, na sequência, veio a oportunidade, pelo diretor José Luiz Villamarim, de fazer a Jane, na novela "Amor de Mãe" (Globo). "Me dá vontade de chorar, porque eu acho que o que estou vivendo agora tem a mão dele [do Villamarim ]", emociona-se.

Bel diz estar hoje com motivação semelhante à de quando cursou a Escola de Arte Dramática (EAD), da USP. "Estou sentido a mesma paixão de aprendizado, de vontade de fazer, de entender a máquina", afirma. "Comecei a namorar o audiovisual sem saber no que ia dar, e acabei me apaixonado."

A atriz afirma que o que sabe fazer na vida "é trabalhar". "O meu pai fala assim: ‘Eu sou um funcionário da música’. E eu sou uma funcionária das artes."

Para construir Maria Bruaca, a primeira coisa que ela fez foi assistir no YouTube toda a versão original de "Pantanal", de 1990, da Manchete. "Eu gritava com a Ângela Leal interpretando a personagem. Fui me apaixonando também por ela, porque tudo é sobre paixão."

Nesse processo, Bel diz ter se lembrado de como Ângela foi uma referência para a sua mãe, Alexandra Corrêa, que também era atriz e que morreu aos 56 anos.

Depois, a atual intérprete de Maria Bruaca se concentrou no texto de Bruno Luperi, neto do autor da trama original, Benedito Ruy Barbosa. "Percebi que ele estava fazendo com o avô uma coisa que eu poderia fazer com Ângela também, que é reverenciá-la."

"E aí eu ponho o meu coração na coisa toda", acrescenta. A personagem, diz ela, tem também muito do humor da família do pai, de Ubatuba (litoral de São Paulo), especialmente da avó Jaci Teixeira. "A história dela não tinha abuso como a de Maria Bruaca, mas a minha avó viveu para nós todos, a vida inteira. E era uma grande musicista, cantora, dançarina e uma piadista."

As mulheres da família, revela Bel, eram muito engraçadas e muito assanhadas. "Eu lembro que ela [a avó] cantava uma música que era assim: ‘Subiu um rato pela perna da comadre / Veio o filho do compadre ver o que aconteceu / Tiraram a roupa da comadre, sacudiram e mesmo assim não descobriram onde o rato se escondeu", cantarola. "Tinha essa malícia... Onde é que o rato se escondeu se ele subiu pelas pernas da comadre, né? Minha avó tinha esse humor safado", diz, entre risos.

Em "Pantanal", um dos momentos que se tornaram memes é quando Bruaca diz para Alcides (Juliano Cazarré), com quem trai o marido, Tenório (Murilo Benício): "Não sabia que você andava armado", em referência ao volume em sua calça. O peão responde que é apenas a fivela do cinto. "Fivela de respeito", rebate a personagem, levando a internet ao delírio.

É ao falar sobre Maria Bruaca que Bel se lembra do período em que foi ‘aqualouca’. Na história, ao descobrir a traição do marido, a personagem dá uma virada e deixa de ser submissa a ele. Mas o processo não é simples, pondera a atriz. "Todo o mundo fala assim: ‘Põe um cropped, mulher, e reage’", afirma, citando outro meme das redes. "Tudo bem, eu posso colocar porque eu quero."

"Mas no momento em que você está sozinho no seu quarto, que você fala: ‘Caramba, eu vivi 30 anos numa história que todo dia eu fazia tudo sempre igual e hoje eu vou acordar e não vai ter aquilo: que medo desse abismo."

É neste salto para o desconhecido em que se encontra Bruaca. Sensação semelhante à de pular de um trampolim de dez metros na piscina, compara ela. "Você dá o primeiro passo e não tem volta."

"E aí você pula e tem que se reorganizar no ar, porque se você cair na piscina de barriga, você pode se cortar inteiro. Você tem que reorganizar todo o seu sistema de forças para cair do jeito que você quer. Isso é um treino, né."

Para Bel, é por isso que Maria Bruaca gera tanta identificação com o público. E, assim como na vida real, o percurso da personagem não é linear, mas curvo e cheio de idas e vindas.

A atriz avalia que mostrar essas falhas, erros e acertos não só de Bruaca, mas dos outros personagens da novela, é um dos segredos do sucesso de "Pantanal", especialmente em tempos tão polarizados —palavra, aliás, que ela diz estar cansada de falar. "É muito bonito que a novela como um todo está mostrando que não é oito ou 80. E que a gente aprende pelo erro, que a gente aprende pela queda, que a gente aprende pelo perdão, que a gente aprende pela escuta", reflete.

Embora gravar a trama esteja sendo um trabalho intenso, ela conta que há espaço também para a diversão nos bastidores. Assim como os atores da primeira versão que improvisaram uma boate na sala da fazenda em que ficavam hospedados no Pantanal, Bel afirma que eles também têm a sua "Tuiuiú Dance". "Só que a nossa está espalhada por várias fazendas", diz.

"Eu sou uma pessoa da alegria, da vida, da dança. Na minha casa era sempre festa. Mas eu não dançava há um bom tempo, e voltei por causa da novela", afirma. "É um dançar porque a gente está celebrando, porque a gente está trabalhando muito e, às vezes, é bom você chacoalhar o corpo de outro jeito", diz. Segundo a atriz, os DJs da turma são os atores Jesuíta Barbosa, Cazarré e o assistente de direção Rafael Cabral.

Bel se define como uma atriz independente, que é capaz de produzir uma peça do começo ao fim, aprendizado que teve com os artistas Regina Braga e Renato Borghi. "A Regina, ela escolhe o que fazer, não espera ser chamada. E isso é a grande liberdade de um ator enquanto artista. Se você tem essa vontade de falar, tem que ser um ator produtor. Eu virei uma atriz produtora", afirma ela.

A atriz Isabel Teixeira posa para foto com fã no Minhocão, em São Paulo
A atriz Isabel Teixeira posa para foto com fã no Minhocão, em São Paulo - Marlene Bargamo

Em seu ateliê em sua casa, ela mantém vários outros projetos, como o da editora Fora de Esquadro. "É uma editora fora da curva, porque são livros de tiragem muito limitada e que eu os faço do começo ao fim."

Enquanto segue alimentando os seus projetos autorais, Bel afirma estar aberta a outros trabalhos no audiovisual. E diz que adoraria fazer uma outra novela que fosse uma obra aberta, diferentemente de "Pantanal", em que os destinos dos personagens já são conhecidos desde o início. "Eu adoraria jogar esse jogo, de não saber direito o que vai acontecer e de ir sentindo o público. Acho que seria muito legal sambar esse samba."

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