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Sara Winter se retrata por chamar ativista de 'abortista' e culpa Damares por 'fatos mentirosos'

Ex-ativista afirma que confiou em informações falsas compartilhadas com ela por ex-ministra

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A ex-ativista de direita Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, se retratou publicamente neta quinta-feira (8) por ter chamado a professora e antropóloga Débora Diniz de "a maior abortista brasileira". O​ episódio ocorreu em 2020, quando uma menina capixaba de dez anos realizou um aborto legal após ter sido vítima de um estupro.

Ao se retratar, Sara afirmou que a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, convenceu ela de que Debora teria sido a responsável por vazar o nome da menor de idade à imprensa.

A ativista Sara Winter, que hoje usa o nome do marido, Hoff
A ativista Sara Winter, que hoje usa o nome do marido, Hoff - Raquel Cunha - 4.ago.2018/Folhapress

"Lamento ter me deixado influenciar por fatos mentirosos compartilhados comigo pela à época ministra encarregada pela pasta responsável pelo programa de proteção a defensoras e defensores de direitos humanos, Damares Regina Alves", escreveu a ativista em seu Instagram.

"Entendo que sou responsável pelos meus próprios atos e poderia ter apurado a veracidade de uma montagem falsa que atribuía à Debora Diniz o crime de ter divulgado a identidade da menina em um artigo de jornal, o que jamais aconteceu. Contudo, confiei na integridade da ministra e me deixei levar pelas instigações para que reagisse à conduta falsamente atribuída à professora", seguiu ela.

Há dois anos, Sara divulgou um vídeo em suas redes sociais acusando Debora também de ser defensora da prática de tortura. A ativista também chegou a publicar a identidade da menina nas redes sociais, divulgando amplamente o nome da vítima, contrariando o que preconiza o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Debora moveu ações nas áreas cível e criminal contra a ativista, que foi condenada a fazer agora a retratação pública e a pagar a ela uma indenização de R$ 16.531,06.

"Houve o reconhecimento de algo muito errado. A Sara fala, em juízo, que a informação chega a ela por uma então ministra que tem o dever de proteger seus cidadãos. Mostra como o bolsonarismo opera, é uma disseminação do ódio a partir de seus representantes políticos", afirma Debora à coluna.

Em abril deste ano, Sara assinou um acordo na Justiça para pagar a multa em 30 parcelas de R$ 550 —o dinheiro será depositado na conta da Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, que promove pesquisas relacionadas à temática dos direitos humanos, feminismo e justiça entre os gêneros.

Reportagem da Folha também mostrou que Damares Alves agiu nos bastidores para impedir que a criança de dez anos que foi estuprada fosse submetida ao procedimento para interromper a gestação.

A então ministra enviou à cidade capixaba representantes do ministério e aliados políticos que tentaram retardar a interrupção da gravidez e, em uma série de reuniões, pressionaram os responsáveis por conduzir os procedimentos, inclusive oferecendo benfeitorias ao conselho tutelar local.

Sara, que rompeu com o bolsonarismo e hoje usa o sobrenome do marido, Hoff, aproximou-se do governo Jair Bolsonaro (PL) e chegou a ser nomeada coordenadora nacional de políticas à maternidade do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, sob a gestão da então ministra Damares, em 2019. Ela deixou o cargo no mesmo ano.

Em 2020, a então ativista foi uma das líderes do movimento 300 pelo Brasil, formado por bolsonaristas e suspeito de organizar e captar recursos para atos antidemocráticos e de crimes contra a Lei de Segurança Nacional. Em manifestações, membros do grupo dispararam fogos de artifício contra a sede do STF, em Brasília.

Procurada, a ex-ministra Damares Alves não se pronunciou até a publicação da reportagem.

Leia a íntegra da retratação de Sara Giromini:

"Por meio desta mensagem, me retrato publicamente das ofensas e acusações que fiz à Professora Debora Diniz, a qual, de maneira infundada e falsa, acusei de ser ‘a maior abortista do Brasil’, bem como de ter desejado a tortura de uma criança de 10 anos elegível ao aborto legal, fatos que não correspondem à verdade.

Reconheço que Debora Diniz é uma pessoa honrada e íntegra, além de pesquisadora de renome nacional e internacional nas áreas de bioética, direitos humanos e saúde, cujo trabalho sempre possuiu sério compromisso com os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e meninas.

Compreendi que os atos que cometi contribuíram para novos ataques contra a Debora Diniz, a qual, lamentavelmente, vem sendo alvo de diversas ameaças desde 2018, apenas por exercer seu direito à liberdade de expressão na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos. Entendo, hoje, que ninguém deve ser atacado por participar do diálogo democrático de forma legítima e respeitosa, como o fez Debora na defesa dos direitos humanos de uma menina vítima de violência, à qual reagi de forma leviana, atacando a honra da professora.

Lamento ter me deixado influenciar por fatos mentirosos compartilhados comigo pela à época Ministra encarregada pela pasta responsável pelo programa de proteção a defensora e defensores de direitos humanos, Damares Regina Alves.

Entendo que sou responsável pelos meus próprios atos e poderia ter apurado a veracidade de uma montagem falsa que atribuía à Debora Diniz o crime de ter divulgado a identidade da menina em um artigo de jornal, o que jamais aconteceu. Contudo, confiei na integridade da Ministra e me deixei levar pelas instigações para que reagisse à conduta falsamente atribuída à professora.

Por essa razão, as acusações por mim feitas, e fundadas em desacordos morais, não são verdadeiras e violaram a honra, imagem e reputação de Debora Diniz, pelo que me retrato publicamente."

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