Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Mônica Bergamo Itaú

De NYT a revista alemã e TV Suíça, 200 veículos vão cobrir ato pró-democracia na USP

Emissoras como CNN internacional e BBC e jornais como Financial Times também acompanharão o evento, que pretende colocar um freio nas iniciativas de Jair Bolsonaro que são consideradas golpistas

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O ato pró-democracia que será realizado na quinta (11) na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, será acompanhado por pelo menos 200 jornalistas de veículos nacionais e internacionais.

De acordo com a organização do evento, entre os já credenciados estão uma dezena de profissionais estrangeiros que devem acompanhar a leitura da "Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado democrático de Direito".

Fachada do prédio da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo
Fachada do prédio da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo - Eduardo Knapp -20.jan.2022/Folhapress

Se inscreveram até agora profissionais do jornal norte-americano The New York Times, do francês Liberation, do britânico Financial Times e da revista alemã Der Spiegel. Entre as emissoras de TV que enviarão correspondentes estão a CNN internacional, a inglesa BBC e a suíça RSI Televisione. A agência de notícias britânica Reuters também estará presente.

O documento que será lido na faculdade não cita diretamente Jair Bolsonaro (PL), mas critica com contundência "ataques infundados" ao sistema eleitoral e ao "Estado democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira".

Embora não seja mencionado, o próprio presidente entendeu que o texto é endereçado a ele e passou a fazer críticas ferozes, dizendo que a "cartinha" foi assinada por pessoas sem caráter, caras de pau e até mesmo por empresários "mamíferos".

A carta já teve a adesão de 858 mil pessoas até esta quarta (10).

Entre os signatários estão banqueiros como Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) como Celso de Mello, Joaquim Barbosa e Nelson Jobim, empresários como Eduardo Mazzilli, da Votorantim, Pedro Passos, Guilherme Leal e Fabio Barbosa, da Natura, e Walter Schalka, da Suzano, e artistas e personalidades como Chico Buarque e Luciano Huck.

No mesmo dia 11, um documento organizado por entidades da sociedade civil, e que também defende a democracia, será lido na USP.

Entre as entidades que endossam o documento estão Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de SP), Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e as centrais sindicais CUT, Força Sindical e UGT.

Leia, abaixo, a íntegra da carta às brasileiras e aos brasileiros:

"Em agosto de 1977, em meio às comemorações do sesquicentenário de fundação dos cursos jurídicos no país, o professor Goffredo da Silva Telles Junior, mestre de todos nós, no território livre do Largo de São Francisco, leu a Carta aos Brasileiros, na qual denunciava a ilegitimidade do então governo militar e o estado de exceção em que vivíamos. Conclamava também o restabelecimento do estado de direito e a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

A semente plantada rendeu frutos. O Brasil superou a ditadura militar. A Assembleia Nacional Constituinte resgatou a legitimidade de nossas instituições, restabelecendo o estado democrático de direito com a prevalência do respeito aos direitos fundamentais.

Temos os poderes da República, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal.

Sob o manto da Constituição Federal de 1988, prestes a completar seu 34º aniversário, passamos por eleições livres e periódicas, nas quais o debate político sobre os projetos para o país sempre foi democrático, cabendo a decisão final à soberania popular.

A lição de Goffredo está estampada em nossa Constituição "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".

Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral.

Nossa democracia cresceu e amadureceu, mas muito ainda há de ser feito. Vivemos em país de profundas desigualdades sociais, com carências em serviços públicos essenciais, como saúde, educação, habitação e segurança pública. Temos muito a caminhar no desenvolvimento das nossas potencialidades econômicas de forma sustentável. O Estado apresenta-se ineficiente diante dos seus inúmeros desafios. Pleitos por maior respeito e igualdade de condições em matéria de raça, gênero e orientação sexual ainda estão longe de ser atendidos com a devida plenitude.

Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional.

Assistimos recentemente a desvarios autoritários que puseram em risco a secular democracia norte-americana. Lá as tentativas de desestabilizar a democracia e a confiança do povo na lisura das eleições não tiveram êxito, aqui também não terão.

Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática.

Imbuídos do espírito cívico que lastreou a Carta aos Brasileiros de 1977 e reunidos no mesmo território livre do Largo de São Francisco, independentemente da preferência eleitoral ou partidária de cada um, clamamos às brasileiras e brasileiros a ficarem alertas na defesa da democracia e do respeito ao resultado das eleições.

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:

Estado Democrático de Direito Sempre!!!!"


COQUETEL

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo, Paulo Sérgio Brant de Carvalho Galizia, compareceu ao lançamento do projeto documental "Memória do Direito Eleitoral Brasileiro: História Audiovisual", realizado na semana passada, na Cinemateca, em São Paulo.

O advogado e ex-prefeito de São Bernardo do Campo Tito Costa prestigiou o evento, organizado pela Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep). Os procuradores regionais eleitorais de SP Paula Bajer e Paulo Taubemblatt passaram por lá.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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