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Governo Lula legitima acusação não comprovada, diz Melhem sobre encontro de ministra com atrizes

OUTRO LADO: Defesa das denunciantes diz que tentativas de silenciamento por parte do ex-diretor da Globo são 'aterradoras'

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O ex-diretor do departamento de humor da Globo Marcius Melhem gravou um vídeo em que critica a existência de uma reunião entre a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, e as atrizes que o acusam de assédio, prevista para ocorrer na próxima terça-feira (4). O convite partiu da própria chefe da pasta, como antecipou a coluna.

Melhem diz ser alvo de uma tentativa de pressão política em torno do caso. E, sem citar nominalmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a sua relação com a Operação Lava Jato, questiona o governo por apoiar a iniciativa que supostamente o presume como culpado.

O ator e humorista Marcius Melhem - João Motta - 25.abr.2016/Globo/Divulgação

"É óbvio que a ministra recebe quem ela quiser, mas eu preciso alertar para alguns absurdos nessa situação. Primeiro, esse governo sofreu e lutou e alertou contra o pré-julgamento, o abandono da presunção de inocência e a questão da paridade de armas. O devido processo legal tem um rito", diz ele na gravação, obtida pela coluna.

"Eu não sou nem réu. Não existe ação penal contra mim. Ainda que um dia ela venha a existir e que eu me torne réu, também ainda não serei culpado, porque não existe trânsito em julgado, não existe sentença, nada. Não existe nada. Existe uma investigação preliminar para averiguar se essas denúncias fazem sentido. E aí, sim, o Ministério Público vai decidir se eu sou réu", continua.

Preso em Curitiba por 580 dias após denúncia e condenação da Lava Jato, Lula sempre se disse inocente e vítima de uma perseguição política encabeçada pelo ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR), em que não teria sido respeitada a sua presunção de inocência.

Durante a reunião entre as atrizes e a ministra, que ocorrerá em Brasília na próxima semana, deve ser apresentada a elas uma proposta para a construção de um marco normativo contra o assédio sexual no ambiente de trabalho.

Entre as convidadas que já confirmaram a sua participação no encontro estão as atrizes Dani Calabresa, Maria Clara Gueiros, Georgiana Góes, Veronica Debom e Renata Ricci, as roteiristas Carolina Warchavsky e Luciana Fregolente e a diretora Cininha de Paula.

Para Melhem, suas denunciantes buscam "desviar o foco do caso para a causa" com o encontro. "Estender um tapete vermelho a essas mulheres legitima uma acusação não comprovada", afirma. "Isso é uma jogada midiática, uma jogada de pressão política que está querendo gastar toda a energia que poderia estar sendo dispensada para fazer o processo andar, paralisar aqui tudo e ir para a opinião pública para criar uma comoção, um cenário que pressione o Judiciário a arrumar uma desculpa para me acusar."

O ex-diretor da Globo ainda afirma que as denunciantes estariam travando o andamento das investigações. Segundo ele, o processo estava pronto para conclusão em agosto do ano passado, mas as supostas vítimas pediram que novas testemunhas fossem ouvidas e isso protelou o julgamento.

Essas testemunhas, por sua vez, não teriam comparecido à delegacia até então. "É o único caso em que quem é acusado quer que julgue, e quem acusa, atrasa o processo. Por quê? Porque os autos mostravam que isso teria que ser arquivado", afirma.

Melhem diz ainda que é a favor de uma discussão em torno da criação de um marco para combater o assédio no ambiente de trabalho, mas que não considera a participação de suas denunciantes adequada.

"O que eu estou tentando dizer é que há aí uma clara tentativa de se desviar o foco do caso para a causa. É uma pena que as pessoas não tenham acesso ao que está aqui, na Justiça do Rio de Janeiro. Mas, um dia, terão", finaliza.

Procurada, a defesa das atrizes diz que Melhem quer silenciá-las. "As tentativas de silenciamento por parte do Sr. Marcius Melhem continuam e são aterradoras. Novamente a postura dele reflete rigorosamente quem ele é e como age", afirmam os advogados Mayra Cotta, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, Marcelo Turbay e Davi Tangerino, em nota.

"Com extrema ousadia tenta impedir que as mulheres se reúnam para debater uma pauta nacional extremamente relevante: a necessidade urgente de um novo marco normativo para o enfrentamento do assédio sexual no trabalho. Ele confunde pressão política com exercício de cidadania por parte das mulheres. Para ele deve ser mesmo difícil entender. Lamentável", finalizam.

O convite para a reunião é feito pelo governo Lula num momento em que o caso voltou a ganhar destaque no noticiário. Na semana passada, quatro mulheres e sete testemunhas do caso Marcius Melhem mostraram, pela primeira vez, suas identidades, e reforçaram as acusações de assédio sexual contra o ex-diretor, em entrevista concedida ao jornalista Guilherme Amado, do site Metrópoles.

Segundo o grupo, a decisão se deu porque as vítimas estariam passando por um processo de descredibilização, o qual seria capitaneado por Melhem.

A Dani Calabresa se juntaram as atrizes Renata Ricci, Georgiana Góes, Veronica Debom e Maria Clara Gueiros, as roteiristas Luciana Fregolente e Carolina Warchavsky, os diretores Mauro Farias e Cininha de Paula, além dos atores Marcelo Adnet, ex-marido de Dani, e Eduardo Sterblitch.

Num vídeo, as atrizes afirmam que, durante as gravações, Melhem forçava beijos de língua, encostava nos colegas com o pênis ereto e manipulava seus subordinados, como se nada daquilo passasse de uma brincadeira.

Melhem rejeita todas as acusações, embora diga acreditar que pudesse ter se comportado de outra maneira. "Em perspectiva, tive comportamentos e fiz brincadeiras que, como chefe, eu não faria", afirmou. "Nunca encostei pênis ereto ou forcei beijo, no ambiente de humor acontece brincadeira para caramba." Em dado momento, o ator chegou a classificar como golpe a acusação de assédio sexual.

A primeira denúncia contra Melhem foi feita pela atriz Dani Calabresa, em 2019. Mas foi mantida em segredo e veio a público, sem muito alarde, como um caso de assédio moral.

No ano seguinte, a advogada Mayra Cotta, representando 12 pessoas, afirmou à coluna que Melhem tinha agido de forma violenta contra as atrizes. E relatou a série de denúncias que existiam contra ele, a maior parte delas de assédio sexual.


GRAMOFONE

A rapper Karol Conká compareceu ao evento que apresentou as novidades do Grammy Latino 2023, o "Por Dentro do Latin Grammy", realizado na sede do YouTube, em São Paulo, na terça (28). O rapper Criolo esteve lá. O diretor da distribuidora Altafonte, Alex Schiavo, e o diretor-geral da Sony ATV Music Publishing Brazil, Aloysio Reis, também participaram.

com CLEO GUIMARÃES (interina), BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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