Nabil Bonduki

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

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Nabil Bonduki
Descrição de chapéu

Bruno Covas pode rever gestão Doria sem virar traidor

Novo prefeito de SP precisa enfrentar herança maldita com mudanças essenciais

Na terra dos vices, a situação de Bruno Covas é substancialmente diferente da de Michel Temer e de Márcio França, outros desconhecidos que passaram a nos governar sem terem sido eleitos.

Temer ascendeu ao poder através de um golpe parlamentar, executado para implementar, traiçoeiramente, um programa elaborado pela oposição, diametralmente oposto ao da chapa pela qual foi eleito.

França ganhou um mandato tampão, depois de Alckmin ter administrado o estado de São Paulo por sete anos e três meses. Mais do que para governar, entrou para ser candidato à reeleição, contando com a máquina pública para dar uma “mãozinha”.

Covas tem outro desafio. Sem ter tido votos, ganhou de Doria a chance de governar efetivamente, por quase 33 meses, uma das maiores cidades do mundo.

O ex-prefeito abandonou a prefeitura pela porta dos fundos, atitude condenada por 66% dos paulistanos. Só 18% aprovam sua gestão, enquanto 47% a avaliaram como ruim ou péssima.

Os números expressam uma gestão desastrada. A “Cidade Linda” virou uma piada frente à sujeira nas ruas, semáforos apagados, ruas escuras e bueiros entupidos. A cracolândia se espalhou. Equipamentos de saúde foram fechados. Os desatinos não têm fim.

A forma como foi elaborada e encaminhada a frustrada reforma da previdência deixou o funcionalismo desmotivado. A aposentadoria de servidores se intensificou e vários órgãos estão com baixa capacidade de funcionamento.

Escândalos de corrupção se sucedem, como o recente caso do Ilume, que adiará por tempo indeterminado a resolução do problema da iluminação pública.

Projetos estratégicos do governo, como a desestatização de ativos municipais, a mudança do zoneamento e a licitação do transporte coletivo sofrem oposição de profissionais, coletivos, movimentos e organizações da sociedade, que desconfiam das relações pouco republicanas do governo com o setor privado.

Embora tenha se comprometido a continuar as iniciativas do seu antecessor, o novo prefeito precisa enfrentar essa herança maldita com mudanças essenciais tanto no estilo como no programa de governo.

A melhor alternativa para enfrentar essa situação, sem ser acusado de traição, é utilizar os canais institucionais de participação popular para dividir com a sociedade a responsabilidade pela formulação dos projetos e ações de governo.

Respeitando as divergências e construindo coletivamente as propostas mais adequadas, o prefeito poderá encontrar as melhores estratégias para enfrentar os desafios estruturais da cidade, como o desequilíbrio orçamentário, a desestruturação administrativa e descentralização da gestão.

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