Nabil Bonduki

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

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Nabil Bonduki
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Mesmo com o puxadinho de Alckmin, chegar ao aeroporto continua um tormento

Nova ligação ferroviária com o maior terminal aéreo do país não resolve problema histórico

Estação Aeroporto-Guarulhos, da linha 13-jade da CPTM; ramal leva ao aeroporto de Guarulhos
Estação Aeroporto-Guarulhos, da linha 13-jade da CPTM; ramal leva ao aeroporto de Guarulhos - Avener Prado/Folhapress

O sonho de todo viajante, em qualquer cidade, é pegar um metrô até o subsolo do aeroporto e, com um elevador, chegar ao terminal de embarque, com previsibilidade e conforto. Coisa de primeiro mundo, diriam os brasileiros que só usam transporte público no exterior. 

O sonho vira uma obsessão quando o acesso ao aeroporto ocorre por uma via frequentemente congestionada, tornando o tempo de percurso uma roleta-russa. “Quanto vai demorar?”, pergunta o viajante desprevenido. “Depende, pode levar até três horas!”, responde o motorista do táxi.

É o caso do aeroporto de Guarulhos, cujo principal acesso é a marginal Tietê, uma avenida expressa que não prioriza o transporte coletivo. A via liga a populosa zona leste ao centro expandido, onde está o emprego. Ela para de manhã, na direção do centro, e à tarde, na direção dos bairros e do aeroporto.

Assim, os paulistanos deveriam estar eufóricos com a inauguração da ligação ferroviária com o maior terminal aéreo do país. Mas a falta de articulação intergovernamental e de um projeto competente transformou esse sonho em uma obra que não resolveu um problema histórico da cidade.

A um custo de R$ 2,3 bilhões, implantou-se um puxadinho da linha 12-safira, com 12,2 km de extensão e apenas duas novas estações, entre as quais a Aeroporto-Guarulhos, nome pouco apropriado, pois fica a 1,5 km do Terminal 2 e a 2,5 km do Terminal 3.

Para usá-la, o passageiro deverá ir até uma estação de metrô, fazer de dois a quatro transbordos e, ao chegar ao “aeroporto”, atravessará uma passarela para pegar um ônibus, que levará 15 minutos até o embarque. Subindo e descendo escadas, carregando malas e bagagem de mão, necessitará mais de 1h30 para ir da avenida Paulista ao check-in.

A falta de planejamento é notória. O governo alega que a GRU Airport, concessionária do aeroporto, impediu a implantação de uma estação junto aos terminais, onde construirá um centro comercial, revelando a fraqueza do Estado e a força dos interesses privados em concessões de infraestrutura.

Em 2009, a gestão Serra, sem debate, criou três novas faixas para automóveis na marginal, a um custo de R$ 2,1 bilhões, em valor atualizado. Foi uma oportunidade perdida para implantar um corredor de ônibus ligando o centro expandido ao aeroporto de Guarulhos e à zona leste. A solução permitiria chegar diretamente aos terminais de embarque, sem trânsito.

Ambas as obras revelam um estilo de gestão em que decisões sobre investimentos em mobilidade não são transparentes nem participativas. Os R$ 2,3 bilhões gastos por Alckmin seriam mais úteis na melhoria dos trens metropolitanos, beneficiando a população da periferia da cidade.

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