Nabil Bonduki

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

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Nabil Bonduki

Uma luz em meio a tantas barbáries

Deixar Bolsonaro sangrar até 2022 é irresponsável com o país

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Censura a livros e a filmes; criminalização de lideranças de movimentos de moradia; ataques à comunidade científica, à Universidade Pública e às ONGs ambientalistas; violência policial nas comunidades pobres; cortes de bolsas; chicotadas em adolescente negro em supermercado; desmonte dos órgãos de controle ambiental; militarização da Cinemateca.

Isso tudo em apenas uma semana. Será que precisamos de mais evidências para que todas as forças progressistas entendam que é necessário uma frente ampla pela democracia para conter o avanço do autoritarismo e da destruição das instituições do Estado brasileiro? 

Um passo importante foi dado na 2ª feira (2), no Tuca, no ato “Direitos Já! Fórum pela Democracia”, com o qual contribui e do qual participei. O Fórum visa barrar o avanço do autoritarismo, da intolerância e do ódio, em defesa da Constituição de 1988 e do Estado de Direito. 

Não é uma aliança eleitoral nem uma coalizão governamental. É uma articulação ampla, que reúne diferentes setores da sociedade, da centro-direita para a esquerda, preocupados em conter os retrocessos. Nesse amplo leque, existem diferentes projetos políticos e programas para o país, e ninguém precisa abrir mão de suas posições para participar.

O que reúne forças tão diversas é a oposição às tendências autoritárias que a partir do governo federal se alastram pelo país, como se viu na censura à Bienal do Livro, promovida pelo prefeito carioca (com a aprovação do TJ-RJ), no recolhimento de livros didáticos determinada pelo governador de São Paulo e na instauração de estado de terror nas comunidades pobres, comandada pelo governador do Rio de Janeiro.

A ausência dos principais representantes do PT e do PSOL no ato, assim como de outras lideranças políticas de centro, preocupa mas pode (e precisa) ser revertida. 

O artigo Tiro no Pé, de Breno Altman, publicado na tarde do evento no blog Opera Mundi, gerou uma controvérsia que inibiu a presença de lideranças progressistas no Direitos Já!. Ele revela uma análise equivocada do atual momento político.

Segundo o articulista, “a questão é saber o que poderia unir forças tão heterogêneas”. Segundo ele “para que PT, PSOL e PCdoB pudessem se aliar a PSDB, DEM e Cidadania (ex-PPS), teriam que colocar de lado, ou relativizar, seu próprio programa econômico ou a campanha pela libertação de Lula, por exemplo”.

Ora, o que pode unir forças tão heterogêneas é a defesa da democracia e do Estado de Direito, sem que ninguém precise abrir mão do seu próprio programa econômico. As divergências são o cerne da democracia, e é positivo reunir os diferentes em defesa do direito de divergir.

Em relação à questão Lula, o governador do Maranhão, Flávio Dino, um dos destaques do ato, defendeu a necessidade de um novo julgamento, imparcial, pois a Vaza Jato consolidou e generalizou a certeza de que o juiz era sócio da acusação. Ampliar o consenso em torno dessa tese é fundamental para o país superar essa ferida aberta.

A esquerda não pode cair no erro de se isolar nesse momento de radicalização da extrema-direita. A história está repleta de exemplos em que a fragmentação das forças democráticas progressistas e o sectarismo geraram o avanço do fascismo, como ocorreu na Alemanha dos anos 1930.

O objetivo do Direitos Já! não é formar uma coalizão orgânica e estável. Ao participar da reconstrução democrática, nem o centro nem a esquerda irão conspurcar suas identidades, programas e imagens, como, aliás, não fizeram ao participar das Diretas Já, movimento que uniu de José Sarney a Ulisses Guimarães, de Tancredo Neves a Lula, e que está na origem da Constituição de 1988.

Noam Chomsky, presente ao ato, mostrou que a ameaça à democracia no Brasil faz parte de um processo global onde até mesmo as democracias mais antigas do mundo, como a Inglaterra e os Estados Unidos, estão desabando.

A previsão de que o melhor é deixar Bolsonaro sangrar até 2022 para derrotá-lo nas urnas é irresponsável com o país, além de ser uma aposta de extremo risco para todos. Talvez até lá, só restarão os escombros.

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