Nabil Bonduki

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, foi relator do Plano Diretor e Secretário de Cultura de São Paulo.

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Nabil Bonduki

As eleições de 2020

O cidadão comum quer saber o que o próximo prefeito fará para melhorar sua vida e sua cidade

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Muito tem se especulado sobre os candidatos a prefeito em São Paulo, mas quase nada se fala sobre suas propostas para a cidade. O debate gira em torno de nomes, em uma fragmentação de postulantes ainda desprovidos de conteúdo.

O atual prefeito Bruno Covas, o ex-governador Márcio França, os ex-prefeitos Marta Suplicy e Fernando Haddad, os candidatos a prefeito derrotados Celso Russomanno e Carlos Gianazzi, deputados novatos e bem votados nas eleições de 2018, como Joice Hassalmann, Gil Dinis, Tabata Amaral e Sâmia Bomfim, além do eterno quase candidato José Luiz Datena, são alguns dos que são frequentemente citados como possíveis pretendentes a gerir a maior cidade do país.

Uns afirmam não terem intenção de concorrer; outros, ao contrário, reafirmam sua condição de pré-candidatos. Nenhum deles, no entanto, parece estar preocupado com a formulação de um programa consistente e inovador para a cidade, no atual quadro de profundas mudanças econômicas, tecnológicas, urbanas, ambientais e administrativas por que passa o país e o mundo.

Muitos acreditam que a eleição de 2020 será nacionalizada e orientada pela polarização que domina o debate político. Que as questões locais pouco influenciarão as escolhas do eleitor. Que a eleição de 2020, sobretudo em São Paulo, será uma espécie de 3º turno de 2018 e de prévias de 2022.

Nessa linha de raciocínio, o eleitor irá se definir entre quem apoia ou se opõe a Bolsonaro. Ou, ainda, sobre quem apoia ou faz oposição às políticas econômicas neoliberais em curso no país.

É indiscutível que a situação nacional influenciará as eleições. E que seu resultado mostrará o posicionamento das forças políticas para o pleito de 2022. Se o bolsonarismo conseguirá manter e capilarizar o apoio obtido em 2018; se PT se recuperará do desastre de 2016, quando ficou em 10º lugar em número de prefeituras e não elegeu nenhum prefeito em municípios com mais de 400 mil habitantes; e, ainda, se a centro-direita, que apoia as reformas do governo sem se confundir com o bolsonarismo, será capaz de manter sua posição hegemônica, administrando a maioria dos municípios.

Mas é um engano acreditar que os paulistanos e eleitores das demais das cidades brasileiras irão escolher seus prefeitos exclusivamente em decorrência da disputa nacional, em uma repetição do Fla-Flu que contaminou o país.

As políticas municipais afetam diretamente o cotidiano do cidadão comum, que não está, majoritariamente, ligado no debate nacional, mas que quer saber o que o próximo prefeito fará para melhorar sua vida e sua cidade.

As pessoas querem saber como ficará o transporte coletivo e os serviços no posto de saúde que frequentam; se haverá vaga em creche para seus filhos e merenda escolar de qualidade na escola; como o desemprego e a violência urbana serão enfrentados; como será combatida a especulação imobiliária; quais são as propostas para o futuro da cidade, expressas na revisão do Plano Diretor.

Na falta de iniciativas partidárias abrangentes, a sociedade civil tem ocupado esse espaço e se mobilizado para formular e debater propostas. A Rede Nossa SP, que há muito vem denunciando a desigualdade socioterritorial da cidade, busca estabelecer metas de referência, em cada setor da gestão municipal, para enfrentá-la. O Fórum Br Cidades, que reúne ativistas em oito estados brasileiros, trabalha para elaborar propostas de política urbana capazes de aglutinar movimentos socais em defesa de “cidades mais justas, solidárias e ambientalmente sustentáveis”.

Mais ligada ao processo eleitoral, a Conferência São Paulo Sua, articulação de entidades, profissionais e acadêmicos recentemente criada, vem realizando seminários para construir uma agenda mínima para a cidade, em todas as áreas, a ser apresentada aos candidatos a prefeito.

São esforços coletivos que podem dar conteúdo às eleições de 2020. Os partidos, em especial os progressistas, deviam aproveitar essas discussões para construir e pactuar um programa unitário para a gestão da cidade, dando coerência e organicidade para a ampla gama de propostas que emergem da sociedade. Assim, o debate eleitoral ganharia consistência, caminhando para a construção de uma frente eleitoral reunida em torno de uma agenda capaz de apontar um futuro para a cidade.

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