Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nelson Barbosa
Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Que tal dar mandato sem bizarrices ao BC?

Dar anistia retroativa ou preventiva a membros do BC parece mais uma bizarrice do governo Bolsonaro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A agenda de política econômica está intensa. Além da reforma da Previdência, o governo também enviou um PL (projeto de lei) de autonomia do BC (Banco Central) ao Congresso. A proposta tem pontos positivos e negativos.

Começando pelo positivo, o PL define que o Copom (Comitê de Política Monetária) terá nove membros: o presidente do BC e oito diretores. Todos os integrantes terão mandatos de quatro anos, com possibilidade de uma recondução por igual período.

Os mandatos serão intercalados, isto é, o governo indicará dois diretores do BC por ano. Já o presidente do BC será indicado no segundo ano de cada mandato presidencial (o ideal é que fosse no primeiro ano).

Na prática, a proposta do governo significa que, nos dois primeiros anos de cada governo, será possível trocar 5 dos 9 membros do Copom.

Jair Bolsonaro na posse de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central
Jair Bolsonaro na posse de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central - Marcos Corrêa - 28.fev.19/PR

Essa proposta dá continuidade e previsibilidade à política monetária, ao mesmo tempo em que preserva o poder de quem for eleito de trocar todo o comando do BC ao longo de quatro anos.

O segundo ponto positivo é a criação de depósitos voluntários remunerados na autoridade monetária. Com isso, a administração da liquidez da economia poderá ocorrer sem necessariamente aumentar o volume de operações compromissadas e a emissão direta de títulos do Tesouro para o BC. Trata-se de proposta do governo Dilma (PLP 257/2016), atrasada por Temer.

Agora, os problemas. O PL do governo engessa o sistema de metas de inflação, colocando em lei que o objetivo fundamental da política monetária é a estabilidade de preços, com a estabilidade financeira em segundo lugar. Nenhuma menção é feita ao emprego ou ao crescimento econômico.

Como dizem os americanos, não devemos consertar o que não está quebrado. O sistema de metas de inflação funciona bem desde 1999 com base em um decreto presidencial de apenas duas páginas. Levar o tema para lei gerará debate sobre a hierarquia de objetivos do BC, quando isso pode e já é feito por decreto.

Sugiro ao Congresso tirar o tema do PL ou então estabelecer que os objetivos do BC serão: estabilidade de preços, estabilidade financeira e pleno emprego da força de trabalho, na forma definida pelo presidente da República.

Outro problema é dizer que o BC terá “autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira”. Como perguntar não ofende: isso significa que o BC poderá definir seu próprio orçamento e salários? Se for isso, trata-se de erro grave, pois criaremos mais uma casta burocrática, com poder de extrair renda da população sob o pretexto de autonomia orçamentária.

Por fim, a proposta do governo também estabelece que, ressalvada as hipóteses de dolo ou fraude, os integrantes do Copom e das carreiras do BC “não serão passíveis de responsabilização por atos praticados no exercício de suas atribuições”. E, se isso não é audácia suficiente, o PL também diz que o mesmo critério se aplicará a todos os que já ocuparam cargos no BC.

Entendo perfeitamente que muitas vezes os integrantes do BC sofrem contestação administrativa e judicial sem fundamento. O mesmo acontece com todos os membros dos demais órgãos da União. A solução para isso é explicar e defender os atos da autoridade monetária, não dar anistia retroativa ou preventiva a todos os integrantes do BC.

Do jeito que está o texto do PL, parece que todos no BC estarão livres para praticar qualquer ato sob forte emoção na garantia do controle da inflação e da estabilidade financeira, desde que sem nenhuma preocupação com o emprego. O Brasil não merece mais essa bizarrice do governo Bolsonaro.  

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.