Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

A grande recessão de 2014-16

É desonesto dizer que a recessão foi consequência só de erros de política econômica

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Na semana passada cobrei da direita o que sempre cobram da esquerda: autocrítica. Como de costume, alguns próceres demo-tuca-novos fugiram do tema listando questões econômicas que, na sua visão, requerem penitência da esquerda. É diversionismo, mas vamos lá.

A recessão de 2014-16 teve quatro grandes causas. 

Houve choques exógenos, com queda abrupta dos preços das commodities e os efeitos econômicos da seca no Sudeste. Quem mora em São Paulo se lembrará do “volume morto”.

 

Houve também erros de política econômica, sobretudo em 2012-14, vários dos quais já abordei em minhas colunas e textos. Escrevo isto com tranquilidade, pois deixei o governo em 2013, em parte, por discordar do rumo da política econômica daquela época. 

Retornei em 2015, para ajudar a corrigir os problemas.

Para resumir uma história longa, quando a situação internacional virou, em 2012, o governo deveria ter diminuído formalmente seu resultado primário e iniciado reformas estruturais do gasto e da tributação, deixando os preços se ajustarem e lidando com os efeitos inflacionários desses ajustes via taxa de juro. Isso foi debatido, mas não aconteceu.

O governo optou por retomar a agenda de estímulos para combater a desaceleração, uma vez que isso tinha dado certo em 2009-10. Porém, diferentemente do final do governo Lula, a partir de 2012 houve mais ênfase em desonerações e incentivos financeiros do que em investimento público.

E o governo também decidiu represar o reajuste de alguns preços administrados, na expectativa de que as pressões inflacionárias seriam passageiras. Como as condições iniciais de 2012 eram bem diferentes das de 2008, a estratégia fracassou e começou a ser corrigida no fim de 2014.

A terceira causa da recessão foi o holocausto de empregos e empresas pelos efeitos de curto prazo da Operação Lava Jato, cujas consequências sofremos até hoje, com diminuição de investimentos. Já disse e repito: é perfeitamente possível combater a corrupção sem destruir a economia, desde que se tenha mais responsabilidade e menos busca por holofotes.

Em quarto lugar houve o “quanto pior, melhor” de 2015-16. Seja por revolta do PSDB ao perder a quarta eleição seguida, seja pela retaliação do PMDB ao PT pelo espaço dado à Polícia Federal e ao Ministério Público para conduzir suas investigações, o fato é que a agenda de política econômica do governo Dilma foi bloqueada justamente quando era necessário fazer correções de rumo, e isso aprofundou a recessão.

Também houve erros em 2015-16. Por exemplo, o reajuste abrupto dos preços de energia e a parada súbita de crédito pelo BNDES empurraram a economia mais para baixo no exato momento em que o Brasil sofria os efeitos adversos dos choques internacionais e da Lava Jato. Quando isso ficou claro, em meados de 2015, o “quanto pior, melhor” impediu correções de rumo.

Assim, dizer que a recessão de 2014-16 foi consequência somente de erros de política econômica é uma desonestidade equivalente a dizer que ela foi consequência somente de choques exógenos. Os dois fatores contribuíram, juntamente com a deterioração do quadro político, que é meu último ponto.

Devemos debater economia, mas, adaptando o slogan de James Carville, hoje nosso maior problema é a política... vocês sabem o resto. A direita errou ao apoiar a utilização de dois pesos e duas medidas para perseguir seus adversários de esquerda. 

Não basta repudiar o AI-5. Também é necessário reconhecer todos os outros ataques à democracia feitos em nome da “boa política econômica” e do combate à corrupção.

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