Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

De volta ao teto Temer

A saída é liberar o investimento do teto, mas com valor predefinido e transparência

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Bolsonaro tem até o fim de agosto para enviar seu projeto de lei orçamentária (Ploa) de 2021 ao Congresso. Como o estado de calamidade pública e o “Orçamento de guerra” têm previsão de acabar no fim deste ano, voltaremos à política fiscal pré-Covid em janeiro.

A principal restrição fiscal de 2021 será o teto Temer de gasto.

O governo já abandonou a meta de resultado primário, propondo um alvo variável (sic), no qual o gasto é fixo e o resultado varia de acordo com a evolução da receita. A equipe econômica está correta nessa proposta, mas ela deveria ser feita formalmente, via alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal, para que o governo tenha apenas meta de gasto.

A regra de ouro também poderia ser restrição em 2021, mas já virou praxe mandar Ploa permitindo que o governo emita dívida acima do seu gasto com investimento e outros penduricalhos, mediante aprovação posterior de crédito extraordinário pelo Congresso.

A regra de ouro nunca funcionou como o esperado no Brasil e ela também deveria ser formalmente abandonada, via PEC (proposta de emenda à Constituição), em prol de uma meta de gasto.

O ex-presidente Michel Temer (MDB) durante entrevista para Folha em São Paulo - Eduardo Knapp - 11.abr.2019/Folhapress

Chegamos, então, ao atual teto de gasto, uma regra fiscal oportunista, criada por Temer para seus sucessores. O limite começou a valer em 2017, mas, como Temer corretamente elevou bastante o gasto em 2016, o teto começou bem alto. A previsão era que ele se tornaria mais estrito somente em 2019, após
Temer deixar o governo.

Porém, como o teto Temer é corrigido pela inflação, a greve dos caminhoneiros e a consequente aceleração de preços no primeiro semestre de 2018 elevaram o limite de despesas de 2019 acima do esperado, adiando os efeitos mais restritivos do teto de gasto para 2020.

Neste ano, o teto Temer limitaria fortemente as despesas do governo, mas a pandemia levou o Brasil e a maioria dos países do mundo a adotar medidas extraordinárias de flexibilização fiscal (ainda bem). Ainda assim, o teto Temer continua a limitar algumas despesas não emergenciais ou previsíveis, como folha de pessoal (correto) e investimento (errado).

Enquanto o leitor lê esta coluna, diversas autoridades tentam fazer a despesa pública caber no limite de gasto previsto para 2021. A conta não fecha porque, devido ao crescimento do gasto obrigatório e ao congelamento da despesa total no nível real de 2016, será necessário cortar ainda
mais o gasto discricionário.

O principal candidato a corte é o investimento público, que já vem caindo desde 2015 e hoje está no patamar mais baixo dos últimos 20 anos. Mantido o teto Temer, teremos ainda menos investimento em 2021, abaixo do necessário para preservar o que já existe.

Pausa para apontar o absurdo: no fiscalismo de planilha que domina nossa política econômica desde 2016, investir o básico para manter infraestrutura existente é considerado “irresponsável”.

Voltando, a saída do impasse é liberar o investimento do teto de gasto, mas com valor predefinido e transparência na seleção e na execução de projetos. O senador Jaques Wagner (PT-BA) já apresentou proposta nesse sentido (PEC 131/19), com apoio senadores de vários partidos, inclusive DEM, MDB e PSDB (olha a frente ampla aí).

A maioria dos economistas sabe que o teto Temer é inviável e será mudado, agora ou mais tarde. Para que a mudança seja positiva, é melhor adotar nova regra fiscal via PEC, com meta de gasto apropriada às condições do país e tratamento diferenciado de investimento e gasto corrente, bem como de gasto com pessoal e gasto social.

A bola está com o Senado.

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