Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

Há cada vez mais evidências de que o golpe de 2016 atrasou a recuperação da economia

Queda no PIB pode ser, em parte, atribuída à Operação Lava Jato e às pautas-bomba de 2015

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O afastamento de Dilma Rousseff completou cinco anos. Volto ao assunto para comentar um fato pouco mencionado na mídia: a economia brasileira parou de cair antes do golpe parlamentar de 2016 e mergulhou novamente depois dele.

A recessão de 2014-16 começou no segundo trimestre de 2014 e durou até o fim de 2016. Houve queda total de 8% do PIB, o que os críticos do PT atribuem somente à política econômica da época, mas o pessoal se esquece de dizer que a economia voltou a crescer no início de 2016, ainda no governo Dilma. Vamos relembrar.

Já escrevi neste espaço que a política econômica foi um dos determinantes da recessão de 2014-16, não o único determinante. Estudos econométricos indicam que 40% da queda do PIB veio de choques adversos no resto do mundo (juros e preços de commodities).

Dos 60% restantes, parte veio de choques políticos, que, apesar de domésticos, não são resultados somente de política econômica. Falo da Lava Jato e das pautas-bomba de 2015.

No caso da Lava Jato, em 2016, estudo da consultoria de Gesner Oliveira disse que os efeitos econômicos da operação derrubaram o PIB em 2,5%. Mais recentemente, estudo semelhante da CUT/Dieese estimou que o impacto negativo da Lava Jato tenha sido de 3,6% do PIB.

É difícil dizer quanto dos investimentos e empregos destruídos pela Lava Jato se deveu aos excessos da operação e quanto foi resultado da má alocação de recursos pela corrupção.

Os estudos continuam, mas, diante das revelações de que a Operação Lava Jato foi mais política do que jurídica, creio que pelo menos 20% da recessão de 2014-16 tenha decorrido dos excessos da força-tarefa de Curitiba. Teoricamente, esse “custo” será compensado pelos ganhos de eficiência trazidos pelo combate à corrupção a longo prazo.

O segundo choque político veio das pautas-bomba de 2015, que atrasaram a correção de rumo da política econômica quando ficou claro o tamanho da recessão. Mais precisamente, o segundo governo Dilma começou com ajuste fiscal e monetário, baseado na expectativa de que a economia cresceria em 2015.

Porém, diante do colapso dos preços da commodities no mundo e do impacto da Lava Jato no Brasil, ficou rapidamente claro que a dose de ajuste tinha sido excessiva, sobretudo que o realinhamento abrupto das tarifas de energia tinha sido um erro.

Em meados de 2015, para adaptar a política econômica ao novo contexto, o governo Dilma propôs flexibilização fiscal, com redução do resultado primário em 2015 e 2016, o “Orçamento com déficit”. Porém, devido às pautas-bomba daquela época, a proposta só foi aprovada em dezembro de 2015, atrasando o combate à crise.

A flexibilização fiscal só começou no início de 2016, quando o BC também parou de subir a Selic. As duas ações, juntamente com a melhora do cenário internacional, contribuíram para que a economia brasileira parasse de cair e voltasse a crescer ainda no governo Dilma. Quanto? Os números do IBGE mostram crescimento de 0,4% do PIB no segundo trimestre de 2016 (sobre o período anterior com ajuste sazonal).

Será que a economia teria se recuperado mais rápido com Dilma? Acho que sim, mas nunca saberemos. Sabemos, apenas, que a recessão voltou depois do golpe. Houve novo mergulho do PIB no segundo semestre de 2016 e, quando o crescimento novamente voltou, ele ficou abaixo dos 3% anuais alardeados pelos golpistas. A expansão média do PIB foi de 1,4% em 2017-19, antes da Covid.

Passados cinco anos, há cada vez mais evidências de que o golpe de 2016 atrasou a recuperação da economia brasileira.

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