Nelson Barbosa

Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.

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Nelson Barbosa

Origem e evolução do dinheiro

Apesar de ter mais de 5.000 anos, o dinheiro ainda causa confusão entre as pessoas

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O dinheiro é uma tecnologia social que, apesar de ter mais de 5.000 anos, ainda causa confusão entre as pessoas.

As primeiras formas de dinheiro surgiram na Antiguidade, após a revolução agrícola, quando a maior divisão do trabalho e a complexidade do sistema de trocas requereram um sistema formal para registrar crédito e débito entre pessoas.

Em outras palavras, o dinheiro surgiu quando grupos humanos evoluíram de compromissos vagos, "te devo uma", para compromissos formais, "não, você me deve a quantidade X do bem ou serviço Y na data Z".

No início, vários produtos se tornaram unidades de conta para registro de dívidas, como grãos e gado. Geralmente o poder soberano —faraó, rei ou chefe da milícia— fixava o item de referência para obrigações com o Estado, e o produto escolhido virava o dinheiro aceito pela sociedade.

Com o tempo, o sistema convergiu para metais preciosos, que eram mais duráveis e divisíveis do que as demais alternativas. Porém, durante milhares de anos, houve sistema de preço em prata ou ouro, mas sem moeda padronizada nos dois materiais.

A incerteza em comparar quantidades não padronizadas de metais levou à próxima inovação: a moeda metálica, geralmente cunhada pelo Estado, que garantia ali existir uma quantidade fixa de ouro ou prata. O primeiro registro ocorreu na Lídia (atual Turquia), em cerca de 600 a.C.

Como moeda padronizada diminui incerteza, rapidamente se percebeu que a mesma quantidade de metal tinha mais valor quando cunhada pelo Estado do que em forma bruta. Essa diferença levou os governos da época a cobrar uma taxa para transformar metal bruto em moeda: a senhoriagem.

O processo podia acontecer de duas formas. Para obter moedas equivalentes a cem gramas de ouro, a pessoa deveria entregar mais de cem gramas de ouro à casa de cunhagem.

Alternativamente, a casa de cunhagem poderia misturar metal menos precioso ao ouro, produzindo moedas com valor de face igual a cem gramas de ouro, mas conteúdo menor que isso, sem informar ao cliente.

A segunda opção era mais comum, e a senhoriagem se tornou receita importante do Estado, com crises recorrentes devido à emissão excessiva de moeda estatal, geralmente em períodos de guerra.

Como carregar moeda metálica tem custo, a próxima inovação monetária foi o papel-moeda, um certificado de depósito dizendo que você tem direito a sacar uma quantidade fixa de metal precioso depositado na casa de custódia X, Y ou Z.

A prática já existia na Roma antiga, mas ganhou força na China medieval e depois se propagou na Europa renascentista, diz a lenda após sugestão de Marco Polo.

Independentemente da lenda, rapidamente os administradores das casas de custódia perceberam que nem todos sacavam seus certificados de depósito ao mesmo tempo. Era teoricamente possível emitir mais depósitos do que o lastro em ouro ou prata depositado no cofre, com lucro no processo.

As casas de custódia se transformaram em bancos, criando depósitos via concessão de crédito. As reservas bancárias correspondiam a uma fração dos depósitos emitidos, na aposta de que nunca haveria saque generalizado contra o banco.

Novamente houve excessos, com emissão excessiva e crises bancárias. Em um novo processo de tentativa e erro, o sistema evoluiu para concentrar a administração de liquidez em um banco central, que se encarregaria de manter uma relação estável entre papel-moeda e a mercadoria-padrão usada como referência.

Na próxima coluna explicarei como funcionava e como acabou o padrão-ouro.

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